Coberturas

O Rap como Rapsódia: A poesia e a música de Criolo

Ines

Bar do Marcinho, 07/05/2016
Por Maria Inês Chaves de Andrade

Domingo, quando o dia das mães se inscreveu no calendário e Cinderela já tinha voltado para o armário, aos primeiros minutos do minuto a seguir à meia noite, de uma noite inteira ainda por vir, com meu filho Jonas, encontrei-me, nos bastidores de seu show, com Criolo. Ainda havia tempo, porque “Ainda Há Tempo” era a consciência dele que intitulava o disco que relançava, para uma foto e um abraço, para uma acolhida sincera da tiete pelo marginal do Tietê. 

 

Ainda havia tempo, mesmo a destempo, porque a eternidade tem este gravame: nada é para sempre. Só que para sempre é sempre tempo demais e eu só precisava do minuto bastante para estar com aquele rapaz, o ás do RAP. Estava tudo ali: o Ritmo e a Poesia encarnados num homem, num Rapper. RAP escancara a demanda, significando “Rhythm And Poetry”, porque o mundo precisa continuar clamando e declamando pela harmonia e a cadência, o modo que a juventude encontrou para enfrentar a desarmonia e a decadência, com que homens prosaicos vêm comprometendo a prosa na crônica adoecida de um cotidiano crônico. São os tios, os “tiozão”, a quem Criolo denuncia pela morte do Velho Chico e do Rio Doce, pela forma leviana de conduzir a vida e o planeta. 

 

Criolo é poeta e dos melhores que já li, mas não pode ser lido por olhos preconceituosos, estes que querem apenas reconhecer o que já conhecem, como se tudo se desse à projeção de suas crenças literárias. Literalmente, Criolo é um grande músico porque artista e arteiro, compondo e cantando, fazendo arte sem ser levado, conduzindo-se com equilíbrio entre o sucesso do homem e a delicadeza do filho de Seu Cleon e Dona Maria, colhido maduro em pé de sensibilidade, de modo que posso dizer dele que é uma pessoa deliciosa, destas que dão a provar do próprio coração que experimenta. Criolo é dos melhores oradores que já escutei, mas não pode ser ouvido por auscultas viciadas na mesmice. 

 

Grande orador em oração constante, seguro da fé na humanidade do homem, esta imagem e semelhança de Deus que quer efetiva. Criolo é um grande filósofo. Através dele, a juventude pensa, questiona, poetiza e aprende poemas. A poesia de Criolo é culta e ampara os cultos de todos os cultos, no respeito ao que de nós transcende de melhor em todos e cada um. A RAPsódia dele é perfeita, a fantasia musical traz a realidade sem conforto e conforta a geração que combate a homofobia, o racismo, o machismo, a corrupção, a violência em todas as suas nuances, tomando-o por herói com seus poemas épicos. Tia Inês estava lá, no bonde. A autora de Sacia-Perereca, a Vice-Presidente de “O Proação” e diretora do Movimento Paz na Serra foi recepcionada pela consciência social com que se afina. 

 

Aos pais, que comigo estiveram através de mim, digo-lhes: a festa foi linda, organizada, segura, elegante. Nossos filhos estiveram bem, no bem. De boa, como diriam. Não houve um senão, senão o fato de vocês todos não estarem lá, com os jovens que guardamos em nós, saudosos por aqueles abertos ao mundo e à novidade que fomos. Valeu a pena, mesmo a condenação de subir a pé os muitos metros entre o Bar do Marcinho e a estrada de Macacos até o carro. Pessoalmente entendi Fernando, mesmo: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Minha esperança num mundo melhor se revigorou. Deu prazer saber de meus filhos e dos amigos de meus filhos e dos filhos de meus amigos, compondo uma geração que compõe aquela música, naquele Ritmo & Poesia, o RAP de Criolo. Pois, éramos uma criolada, num crioléu de fazer gosto. E gritávamos Criolo sem constrangimento. É verdade, não é o quê, mas o porquê. Era devoção. Fôssemos quem fôssemos, estávamos todos lá. Ouçam, então, Criolo, enquanto “Ainda Há Tempo”.

 

Fotos: Fernanda Bombonato e Samuel Bagno

Fotos: Fernanda Bombonato e Samuel Bagno
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