Eventos

Exposição Construções Afetivas: Nello Nuno e Eliana Rangel na Casa Fiat de Cultura

Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – BH/MG

Casa Fiat de Cultura

(31) 3289-8900

Entrada Gratuita

6 de março a 6 de maio de 2018 Terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h


A partir de 6 de março de 2018, a exposição “Construções Afetivas: Nello Nuno e Eliana Rangel na Casa Fiat de Cultura” reunirá, pela primeira vez, a obra destes dois irmãos, nascidos em Viçosa (MG), que se consagraram como grandes nomes do cenário artístico mineiro. As mais de 80 obras expostas, entre pinturas, vídeo e objeto em diálogo plástico-visual, revelam as singularidades e afinidades entre os artistas. Com trabalhos que marcam várias fases da produção de cada um, a mostra oferece ao público a oportunidade de explorar os caminhos das invenções e das escolhas estéticas e técnicas de Nello e Eliana. A exposição, que envolveu mais de 30 colecionadores, conta com curadoria dos artistas plásticos Márcio Sampaio e Nello Rangel, e fica aberta à visitação até 6 de maio, com entrada gratuita. Durante a inauguração da exposição, haverá, ainda, o lançamento dos livros Nello Nuno: a poética do cotidiano e Eliana Rangel: construções afetivas, ambos escritos por Márcio Sampaio.

Segundo Sampaio, na mostra, “o espectador tem, diante de si, a afirmação da pintura como linguagem e como espaço para trabalhar sentidos de vida, capaz de mobilizar raciocínios e emoções, proposta por duas fortes personalidades artísticas e humanas”. Tanto nas telas de Eliana sobre a infância ou naquelas mais espirituais, referentes à vida adulta, quanto nas pinturas de Nello a retratar paisagens de Ouro Preto (MG) e o cotidiano da família, é possível perceber as construções afetivas dos irmãos. Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, “a curadoria da mostra humaniza nossa percepção dos dois artistas e resgata a sua ausência entre nós, também como pessoas que fazem falta em nosso tempo”.

A programação paralela à mostra apresenta um bate-papo com os curadores Márcio Sampaio e Nello Rangel sobre vida e obra dos artistas, no dia 5 de abril, das 19h30 às 21h, na Casa Fiat de Cultura, com entrada gratuita. Além das visitas mediadas à exposição, incluindo materiais de acessibilidade, o Programa Educativo preparou duas atividades inspiradas na arte de Nello e Eliana: o Ateliê Aberto de Pintura Acrílica, a ser realizado durante todo o mês de março, aos sábados e domingos; e a Formação de Professores – Pintura e Paisagem na sala de aula, marcada para os dias 27, 28 e 29 de março. A participação é gratuita.

A exposição é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e da Casa Fiat de Cultura, com patrocínio de Fiat Chrysler Automóveis (FCA), Banco Fidis, Fiat Chrysler Finanças, Fiat Chrysler Participações e Banco Safra, e apoio de Usiminas, Circuito Liberdade, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), Governo de Minas e Governo Federal.

Exposição

Ao entrar na galeria, o visitante passará por uma linha do tempo, com marcos das trajetórias de vida e carreira dos artistas, e revela influências e inspirações que se tornaram presentes na obra de Nello e Eliana. Há registros históricos, como as fotografias de família – com o avô Godofredo Rangel e o amigo Monteiro Lobato, escritores brasileiros, animais de estimação, cadernos escolares e, até mesmo, cartas e desenhos da infância.

A linha do tempo mostra, ainda, as obras de início de carreira, as primeiras exposições, as instituições onde estudaram e trabalharam, até o fim de suas vidas, de maneira a possibilitar a percepção do amadurecimento artístico dos irmãos. Os artistas também eram poetas e escreviam no mesmo sentido em que pintavam, com profundidade e afetividade. Nas paredes da galeria, o visitante encontra, afixados, diversos poemas que dialogam com as obras.

No amplo espaço expositivo, as obras ilustram as fases da produção criativa de cada irmão, sendo possível perceber os encontros e desencontros artísticos de Nello Nuno e Eliana Rangel. “Pela primeira vez juntos em uma exposição, os irmãos nos oferecem a oportunidade de experimentar o rico diálogo de suas linguagens pictóricas, expressas de forma densa, poderosa, em um forte e lúdico jogo de cores e composições”, comenta um dos curadores, Nello Rangel.

Nas obras de Nello Nuno, sobressai o lirismo poético. O artista retrata seu cotidiano – a família, a casa, os animais e a paisagem de Ouro Preto (MG), onde escolheu morar –, a exemplo das telas A família feliz (1969) e Paisagem (1967). Ao longo de sua vida, praticou uma figuração marcada pelo desejo de liberdade, extraindo humor e lirismo das coisas simples do dia a dia. Povoou suas telas com personagens fantásticos, como nos quadros Os dragões (1966) e Paisagem com beijagira (1967). Nello criou as beijagiras, uma mistura de beija-flor e girassol, inspirado nas histórias do amigo e escritor Murilo Rubião.

O artista também reportou, em suas obras, questões políticas e sociais, como na série Morte e Vida Severina (1967), inspirada no poema homônimo de João Cabral de Mello Neto. Em tempos de grande tensão política no país, Nello cria um conjunto de pinturas, aquarelas e desenhos de formas secas e duras como a própria paisagem nordestina. Esta série é apresentada, na exposição, em formato de vídeo – ao lado do qual, encontra-se um objeto (sem título) inspirado no mesmo texto. Trata-se de uma caixa de acrílico transparente, preenchida com terra. Nela, misturam-se figuras humanas e plantas, em alusão às transformações da matéria no ciclo da vida. O objeto é um projeto que Nello idealizou em 1966, e é apresentado em formato simplificado na exposição. Ao final, sua pintura depurou-se à abstração geométrica, com inserções figurativas, como a bicicleta do equilibrista, presente em diversas telas.

As obras de Eliana Rangel, assim como as do irmão, apresentam memórias afetivas às telas do início de sua carreira. A artista parte de uma figuração mais objetiva, ao pintar elementos que evocam a infância – gatos, cães, crianças, brinquedos –, como na série de pinturas Brincadeiras (1969-1980), mas logo se interessou pela abstração.

As construções abstratas de Eliana incorporam, primeiramente, signos das culturas indígena e africana, propondo uma “arte mestiça”, como nas obras Terra, ritmo (tríptico, parte 2)(1986) e Xingu (1986). Com exuberância de formas, cores e texturas, as telas são resultado de experimentações técnicas com diferentes materiais.

Por fim, Eliana encaminhou sua obra para a redução geométrica e a abstração lírica, rica em matéria pictórica, em cores mais apaziguadas, até chegar ao branco sobre branco. Em outro momento, a artista buscava um novo sentido para sua pintura, à procura de compreensão para o que chamava de “verdade essencial”. Pesquisadora inquieta, ela se aprofundou nos estudos esotéricos e encontrou, na obra do físico indiano Amit Goswame, a compreensão dos grandes mistérios que a inquietavam. Para Eliana, a arte se constituiu como meio para chegar a um lugar transcendental, onde as energias físicas e espirituais se tocam e se complementam.

Obras de destaque

A Árvore da vida (1974), Nello Nuno – uma de suas obras mais expressivas, a pintura possui uma composição complexa, com fragmentação de formas verdes em suas variadas tonalidades, algum amarelo e pontuações vermelhas e violetas, que criam um cenário compacto com uma grande árvore. A figura do menino deitado, quase oculta pela vegetação, sugere que seria o artista plantado ali, e é dele que todas as figuras ascendem, como se anunciando o renascer, ou a permanência de sua passagem no tempo.

A família feliz (1969), Nello Nuno – também chamado pelo artista de Meus amores, o quadro, apresentado em intenso vermelho, retrata uma cena da família de Nello: Anna Amélia, sua esposa, com a filha mais nova no colo e os filhos mais velhos distraídos com seus brinquedos no chão da casa. A tela é representativa do período em que o artista decidiu mudar-se para Ouro Preto (MG), focando no cotidiano de sua casa, pintando com despreocupação, uma displicência criativa que tudo permite; em resumo, a arte como divertimento.

Terra, ritmo (1986), Eliana Rangel – parte de longa série representativa da “arte mestiça”, um elo entre a contemporaneidade e as origens, repleta de signos das culturas indígena e africana. A obra, construída com sobreposição de massas e camadas de tecidos, nas quais faz incisões, criando espaços e texturas de cores fortes, faz parte, também, de um período bastante experimental da carreira da artista, com novas texturas e formatos.

Asa de Anjo (Anjo Extermina/dor) (1990), Eliana Rangel – com tons pastéis, bem diferente das cores vibrantes que usava no início da carreira, a artista cria, como indica o título da obra, aquele “ser de luz” que aflora à superfície da tela para eliminar as sombras e trazer boas novas. A obra está inserida no momento em que Eliana aprofunda questões vitais para a pintura como expressão de sua experiência de vida. As imagens surgem como signos ou símbolos que respondem às suas inquietações e requisitam a capacidade do espectador de exercitar a fantasia e a imaginação.

Lançamento dos livros sobre os artistas

O evento de abertura da mostra, no dia 6 de março, a partir das 19h, também marca o evento de lançamento de dois livros escritos pelo curador Márcio Sampaio, com os títulos Nello Nuno: a poética do cotidiano e Eliana Rangel: construções afetivas. Ambos estarão à venda no Café da Casa, por R$ 60. Os livros contam a história de vida de cada irmão, com detalhes sobre suas trajetórias artísticas, e foram a base para a exposição na Casa Fiat de Cultura.

O lançamento dos livros é uma realização da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Instituto Cultural Usiminas.

Nello Nuno

Nascido em Viçosa (MG), em 1939, Nello Nuno começou a pintar ainda adolescente, usando as tintas e os pincéis da mãe, também pintora e sua principal incentivadora. Morou a maior parte da vida em Ouro Preto (MG), tendo se mudado para a cidade em 1963, ano em que também realizou sua primeira mostra individual, que inaugurou a galeria da Associação Mineira de Artistas Plásticos (Amap), logo recebendo a aprovação entusiasmada da crítica e do público. Expôs, em seguida, em Montevidéu (Uruguai) e em diversas cidades brasileiras. Foi premiado em vários salões, com destaque para o do Museu de Arte da Pampulha, em 1973. Foi professor da Fundação de Arte de Ouro Preto, da Escola Guignard e da Escola de Belas Artes da UFMG. Em 1974, por indicação de Amílcar de Castro, obteve bolsa da Fundação Guggemhein, para desenvolver trabalho em Nova York, vindo a falecer antes de fazer a viagem. Morreu em 1975, aos 35 anos de idade.

Eliana Rangel

Nascida em Viçosa (MG), em 1941, encontrou em Belo Horizonte o ambiente ideal para produzir seus desenhos, ilustrações, objetos, pinturas e instalações. Entre as diversas exposições coletivas e individuais, foi artista convidada, em 1992, no evento “Viva Yanomamis Vivos”, no contexto da Eco/92, na Fundação Cultural do Distrito Federal, onde apresentou suas pinturas inspiradas nas artes africana e indígena, e também participou da Bienal de São Paulo e da Bienal del Deporto, em Montevidéu (Uruguai). Eliana fez parte do Núcleo Experimental de Arte da Escola Guignard, sob orientação de Amílcar de Castro. Além da trajetória como artista plástica, foi diretora artística da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e atuou como curadora e museógrafa. Morreu em 2003.

O curador Márcio Sampaio

Nascido em 1941, em Santa Maria de Itabira (MG), Márcio Sampaio é escritor, artista plástico, crítico de arte, curador e professor aposentado da Escola de Belas Artes da UFMG. Atuou como superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (1992/96), curador do Museu da Pampulha (1968/72) e do Palácio das Artes (1972/1985), tendo produzido cerca de 500 exposições, salões de arte e eventos. Participou da Bienal de São Paulo e realizou mostras individuais em diversos museus e galerias no Brasil e no exterior, com várias premiações. Autor de diversos livros premiados de poesia, histórias para crianças e ensaios, integrou antologias de poesia brasileira, de contos e de crítica de arte. Foi curador da grande exposição Barroco Mineiro, apresentada em Nova York (1981). Atualmente, Márcio desenvolve projeto de pesquisa, análise crítica e arquivo documental sobre artes plásticas em Minas Gerais, hoje sediado em espaço especial no Museu Mineiro.

O curador Nello Rangel

Nascido em 1964, em Belo Horizonte (MG), filho dos artistas Nello Nuno e Anna Amélia Lopes, Nello Rangel é artista plástico, professor de Artes e psicólogo. Formou-se na Fundação de Artes de Ouro Preto (FAOP), onde, mais tarde, foi professor de Iniciação Musical, Artes e Teoria da Cor. Ministrou cursos de Teoria da Cor em cursos de extensão da Escola de Belas Artes da UFMG e da Escola Guignard, assim como no curso de Restauração da FAOP.

Bate-papo

No dia 5 de abril, das 19h30 às 21h, será realizado o Bate-papo “Vida e Obra de Nello Nuno e Eliana Rangel”, com os curadores Márcio Sampaio e Nello Rangel, na Casa Fiat de Cultura. A entrada é gratuita, com espaço sujeito à lotação (200 lugares) e distribuição de senhas a partir das 18h30.

Programa Educativo

As visitas mediadas à exposição serão realizadas em três eixos: biográfico, temático e técnico/estético. No eixo biográfico ,serão exploradas as trajetórias dos artistas, apresentando ao público Nello Nuno – autodidata artista e professor –, em diálogo com sua irmã Eliana Rangel – pintora, desenhista e ilustradora. O eixo temático aborda o cotidiano afetivo e o imaginário fantástico, tão bem construídos no trabalho de Nello, e a memória e a ancestralidade presentes nas obras de Eliana. Já no eixo técnico/estético, o foco é a pintura como linguagem, por meio da apresentação de análises das cores, texturas e composições das obras.

Dentro das ações de acessibilidade, o Programa Educativo oferece audiodescrição ao vivo da galeria e das principais obras da mostra para pessoas cegas. Serão disponibilizadas ao público duas placas com reproduções táteis (alto relevo) dos quadros dos artistas; e duas telas de materiais diferentes (tecido e papel) cobertas em tinta acrílica, muito usada por Nello e Eliana, para que o público possa sentir os diferentes resultados de textura. Também será oferecido um tablet com apresentação de informações básicas sobre a exposição em áudio e libras. Todo o material de acessibilidade deve ser solicitado à equipe educativa.

Foram preparadas, ainda, duas atividades especiais para o período da exposição, inspiradas nas artes de Nello Nuno e Eliana Rangel. No Ateliê Aberto de Pintura Acrílica, que será realizado aos sábados e domingos durante todo o mês de março, os participantes aprenderão os conceitos do Estudo da Cor – cores primárias, secundárias e complementares – e farão experimentações com técnicas de pintura em tinta acrílica. O ateliê irá funcionar das 10h às 11h30 para crianças de até 12 anos, e das 14h às 17h30 para jovens e adultos, e todos devem usar roupas apropriadas para o manuseio de tintas. São 15 vagas por horário e não é necessário fazer inscrição prévia.

Haverá, também, a Formação de Professores – Pintura e Paisagem na sala de aula nos dias 27, 28 e 29 de março, sempre das 19h às 21h. O curso apresenta a pintura como instrumento de reflexão sobre território, paisagem, afeto e memória, uma maneira estética de pensar as lembranças que compõem identidades e dão significado aos lugares e ao passado. Ao usar tintas guache e acrílica, os participantes aprenderão a pintar paisagens, que são estruturadas em camadas e planos de exposição, como uma metáfora materializada de nossas memórias afetivas acerca de lugares, pessoas e situações. O curso tem 15 vagas e as inscrições gratuitas devem ser feitas, de 19 a 23 de março, pelo telefone (31) 3289-8910.

Foto: Divulgação


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