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Show de lançamento de Sambetes Vol.1

Rua da Bahia, 2244 – Lourdes – Belo Horizonte/ MG

Teatro Bradesco

Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

26 de abril de 2018 - quinta-feira Horário: 20h30


Quinta-feira, por volta das 11 da noite, sem muita pontualidade que é para não comprometer o clima de liberdade. Quem gosta de música sabe que em Belo Horizonte, no bar A Casa, é dia e hora da DelegasCia. Com patente, mas sem marra, o violinista, compositor e arranjador Thiago Delegado se cerca de amigos para a roda instrumental mais conhecida da cidade. Aloizio Horta no contrabaixo, Christiano Caldas nos teclados e André Limão Queiroz na bateria completam o time, que se abre a participações espontâneas. Foi nesse território e sob essa inspiração que foi criado e desenvolvido o repertório de Sambetes Vol.1, que está sendo lançado em CD e vinil.

O disco foi gravado em São João del-Rei, na região do Campo das Vertentes, no único estúdio do estado com tecnologia totalmente analógica. A escolha não foi só técnica, mas de alma. Sambetes Vol.1 é um disco que dá sequência a uma linha de música instrumental sofisticada que vem de antes da bossa nova, sofre influência do som feito nas pequenas boates do Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, e depois se mistura com o jazz e outras influências. Pré-bossa, bossa e pós-bossa. Se o samba é a tristeza que balança, como definiu Vinicius de Moraes, nos sambetes ela balança ainda mais. O bolachão é uma consequência natural dessa história.

As composições trazem a marca de sua gênese notívaga. São temas que Thiago Delegado apresentou aos amigos e que foram testados na mais exigente pista de provas da música, a noite. Com estrutura aparentemente simples, com temas cantantes, diretos, cheios de suingue, trabalhados pelos instrumentistas em improvisos criativos, os sambetes resgatam uma felicidade que anda rara no campo da música. O prazer de ouvir e tocar parece ser o mesmo. Enquanto os músicos se divertem, o público incorpora uma dose a mais de alegria com a música. Sambetes Vol.1 não é disco para guardar, é desses que vão esquentar o prato - ou as plataformas -, rodando sem parar.

O violão de Thiago comanda os arranjos, que pela base que se mantém em todo o álbum, cria uma sonoridade muito peculiar, com destaque para os timbres dos teclados Rhodes e Hammond de Christiano Caldas. Contrabaixo e bateria trazem a melhor memória da música instrumental dos anos 1960 e 1970, mas com muitas contribuições contemporâneas, originais e cheias de ideias. Todas as composições são de Thiago Delegado, que divide a faixa Afrosambete, com Aloizio Horta.

Uma das influências do disco, Roberto Menescal tem sua presença registrada na música que abre os trabalhos, o divertido Sambete do Menexca, com direito a citações de clássicos do autor de O Barquinho. Delegado foi apresentado a Menescal por Christiano Caldas, que havia trabalhado com ele. Do encontro surgiu o convite para o lançamento no Rio de Janeiro do disco Thiago Delegado Trio ao vivo no Museu da Pampulha. Sempre atento aos novos (ele é dos maiores produtores da música brasileira e ouvido infalível para descobrir talentos), Menexca não só compareceu como marcou presença como convidado em Viamundo, terceiro álbum de Thiago Delegado.

Feito em homenagem à sobrinha Maria Luiza, o tema Sambete da Malu é considerado pelo autor como o mais violonístico do disco. Uma homenagem que exigiu emoção do compositor e virtuosismo do intérprete. A única canção com letra é Garoto Matheus, que tem história para contar. Delegado escreveu a música em resposta a uma mensagem elitista e ameaçadora de um morador do “bairro de classe média”, incomodado com o bloco de Matheus Brant, o Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro. Do violão para as redes foi um pulo e a canção ajudou a lavar a alma de quem gosta de alegria, que parece ser artigo raro nas redes antissociais. Para completar, deu a Thiago Delegado a oportunidade de cumprir seu desejo de “ser João Gilberto”, sussurrando como o ídolo pela primeira vez em disco.

Disco de gênese coletiva, que só podia ter surgido entre amigos, Sambetes Vol. 1 propõe outros diálogos estéticos. Afrosambete é um tributo aos afrosambas de Baden e Vinicius, e incorpora uma nova rítmica, percussiva e com divisões mais trabalhadas. Sambete Americano começa como choro e logo se abre ao fraseado do jazz e de ritmos americanos, num encontro de igual para igual .Sambete nº 2 é puro suingue joãodonatiano, que faz a cama para improvisos espertos e bem-humorados.

E como humor é a marca em tudo o que Delegado faz, não falta nem mesmo uma homenagem ao pagode, no sambete Maguá no Pagode, que espera letra do homenageado. “Descobrimos nessa música uma ascendência mineira”, filosofa Delegado. E foi também de uma brincadeira, na relaxada Sambete Preguiçoso, que surgiu o tema que mais tem agradado o público que experimentou a obra em progresso nas noites de quinta-feira n’A Casa.

O clima de alegria é patente no resultado do álbum. Mas nem tudo foi festa durante a gravação São João del-Rei. “Foi um pouco tenso”, lembra Thiago Delegado. “Fizemos cerca de oito ensaios, além da nossa tocada semanal. Estávamos prontos, mas o desafio de gravar todo o disco em um só dia, com as dificuldades da gravação analógica, trouxe um pouco de tensão para o processo”. Até terminar a primeira faixa, foram mais de três horas. Os trabalhos se estenderam até às 3 da madrugada. Com apelo explícito aos santos barrocos das igrejas da cidade para sanar um ruído no baixo. Missão cumprida, a comemoração foi até o meio-dia.

Para terminar, Thiago Delegado apresenta o verbete sambete de seu dicionário musical particular: “São sambas pequenininhos, com temas bem definidos, levada divertida, muito suingue e espaço pra improvisação”.

Memória afetiva

Ao ouvir Sambetes Vol. 1, quem gosta de música instrumental brasileira vai se perder (e se encontrar) buscando referências, dos pianistas Luiz Eça, Dom Salvador, Tenório Jr., Sérgio Mendes e, sobretudo, João Donato, sem esquecer dos organistas Ed Lincoln e Walter Wanderley. As batidas de Milton Banana, Edison Machado, Dom Um e Airto Moreira. Os desenhos da linha de baixo de Luiz Chaves, Tião Neto, Humberto Clayber, Luiz Marinho e Edson Lobo. O violão de Baden Powell e Roberto Menescal, os arranjos de Moacyr Santos e Eumir Deodato. Só gente boa.

São nomes que trazem a memória de um som de grupos tocavam ao mesmo tempo, em várias casas vizinhas de Copacabana, batizados como Som 3, Sansa Trio, Sambossa 5, Sambrasa Trio, Quarteto Bossamba, Sexteto Bossa Rio, entre outros. A música instrumental brasileira ajudou a criar a bossa nova, mas foi, segundo alguns historiadores, a primeira vítima de seu reconhecimento internacional. Com o sucesso das canções e dos cantores, os músicos foram compor um luxuoso segundo plano para o desfile internacional da Garota de Ipanema. Muitos dos instrumentistas citados acima foram para os States ensinar o jazz a sambar. O resto é história.

SAMBETES 1

1 - Sambete do Menexca

2- Sambete da Malu

3 -Maguá no Pagode

4 - Sambete Preguiçoso

5 - Afrosambete

6 - Sambete Americano

7 - Garoto Matheus

8 - Sambete nº 2

Todas as faixas são composições de Thiago Delegado, exceto Afrosambete, parceria de Thiago Delegado e Aloizio Horta

Todas as músicas são tocadas por:

Thiago Delegado – Violão de sete cordas

Christiano Caldas –Rhodes e Hammond

Aloizio Horta –Contrabaixo

André Limão Queiroz – Bateria

Foto: Beth Freitas


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