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Ministério da Cultura e Instituto Unimed-BH apresentam “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues, com Malvino Salvador, sob a direção de Gabriel Villela

A história do lendário bicheiro carioca é contada a partir da versão de Villela, que cria uma encenação com aura de carnaval, embalada por grandes sucessos de época que vão de Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Ary Barroso, Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues a João Bosco, entre outros. No elenco também estão Mel Lisboa, Claudio Fontana, Lavínia Pannunzio, Chico Carvalho, Leonardo Ventura, Cacá Toledo, Mariana Elisabetsky, Jonatan Harold e Guilherme Bueno. Em Belo Horizonte, montagem fará curta temporada no Grande Teatro do Palácio das Artes, com apresentações nos dias 17 e 18 de março (sábado às 21h e domingo às 19h).

Belo Horizonte, março de 2018 - Um lendário bicheiro carioca, figura temida e megalomaníaca, que carrega o nome de Boca de Ouro, é assassinado e tem o seu passado vasculhado por um repórter. A fonte da investigação é dona Guigui, ex-amante do contraventor, mulher que, ao longo da peça, revela diferentes e contraditórias versões do bicheiro. Este é o mote da tragédia carioca “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues, escrita em 1959, cujo papel-título é vivido por Malvino Salvador, na montagem de Gabriel Villela, e que chega a Belo Horizonte para apresentações nos dias 17 e 18 de março (sábado às 21h e domingo às 19h), no Grande Teatro do Palácio das Artes. Estão ainda no elenco Mel Lisboa e Claudio Fontana, Lavínia Pannunzio, Leonardo Ventura e Chico Carvalho, além de Cacá Toledo e Guilherme Bueno, Jonatan Harold e Mariana Elisabetsky, interpretando as 14 canções do espetáculo.

O espetáculo, que tem realização do Ministério da Cultura e Governo Federal, abre a Edição 2018 da Temporada Pólobh que assegura a circulação, em Belo Horizonte, de grandes nomes das artes do Brasil e do mundo, com produção da Pólobh, patrocínios do Instituto Unimed-BH, MIP Engenharia e Pottencial Seguradora, viabilizados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, com apoio Cultural do Sesc em Minas, Telemont e Fundação Clóvis Salgado, e parceria estratégica com o Jornal O Tempo e Rádio Super Notícia e apoio da City Me, Fredizak, HBA, Mercure Lourdes, Sou BH e Viver Brasil.

Um cordão típico das gafieiras mais tradicionais do país abre a versão de Gabriel Villela para a tragédia carioca de Nelson Rodrigues. Usando confetes, serpentinas e máscaras, o diretor, responsável também pela cenografia e figurinos, cria uma encenação com aura de carnaval, embalada por 14 grandes sucessos que vão de Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Ary Barroso, Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues a João Bosco, entre outros. Na trama, Boca de Ouro (Malvino Salvador) é um lendário bicheiro carioca, figura temida e megalomaníaca, que tem esse apelido porque trocou todos os dentes por uma dentadura de ouro. Quando o Boca é assassinado, seu passado é vasculhado pelo repórter Caveirinha (Chico Carvalho) - personagem que carrega em si o olhar afiado e crítico de Nelson Rodrigues - jornalista que durante anos trabalhou em redações e conhece os vícios e contradições da imprensa. Caveirinha vai até a casa de Guigui (Lavínia Pannunzio) e lá ouve a versão da ex-amante de Boca, que desanca o bicheiro. Ao saber de seu assassinato, Guigui se arrepende e exalta Boca como uma figura amorosa. Já no terceiro ato, Guigui volta a desancar o bicheiro, pois teme ser abandonada pelo marido Agenor (Leonardo Ventura). Nas três versões relatadas, surge o casal Celeste (Mel Lisboa) e Leleco (Claudio Fontana), que tem relação direta com o assassinato de Boca de Ouro.

“Essa peça foi muito importante na minha carreira pelo aprendizado que eu adquiri, por ter dividido o palco com grandes atores, por conhecer o universo do Gabriel Villela, que é um dos nossos maiores diretores, que tem uma personalidade vibrante, impressa nas suas montagens. Para mim está sendo muito importante trazer Boca de Ouro aqui para Belo Horizonte. Depois de uma temporada de sucesso em São Paulo e Rio de Janeiro, tanto de público quanto de crítica, a peça tem o potencial de chegar aqui de uma maneira muito bonita, é isso que eu espero”, diz Malvino Salvador.

As diferentes versões da personagem Guigui para a morte de Boca de Ouro levaram Gabriel Villela a fazer conexões com uma pesquisa recente da universidade de Harvard, sobre um fenômeno contemporâneo chamado “pós-verdade”. “É um produto da modernidade tecnológica: você inventa uma história, realinha ideias, publica, arruma vários seguidores e isso se amplia, viraliza na internet e ninguém mais sabe sobre o que se está falando. Somos todos vítimas disso. A Guigui é insuperável – com três expedientes emocionais e psíquicos, ela conta três vezes a mesma história, embaralhando com maestria para que tudo seja incrivelmente verdadeiro”, diz Gabriel Viellela.

Esta é o terceiro texto de Nelson Rodrigues encenado por Gabriel Villela. Em 1994 montou A Falecida, com Maria Padilha no papel título, e em 2009 Vestido de Noiva, protagonizado por Leandra Leal, Marcello Antony e Vera Zimmerman.

A MONTAGEM

A ambientação idealizada por Gabriel Villela remete a uma gafieira, com mesas e cadeiras, revezando-se entre uma redação de jornal e as casas dos personagens. Dentro das iconografias do subúrbio carioca, Gabriel se utiliza da simbologia do Candomblé e das mascaradas astecas no espetáculo. A casa de Celeste e Leleco traz muitas representações de Orixás sincretizados. A figura de Iansã (Guilherme Bueno) aparece toda vez que uma cena de morte acontece - ela faz a contra-regragem das mortes.

O Brasil retratado na cena: a política, as narrativas contraditórias, a libido, a festa da gafieira, o jogo do bicho, a fé e a música. Retratos de uma época que nos mostram que o Brasil pouco mudou, e que o dramaturgo nascido em Pernambuco em 1912 e radicado no Rio de Janeiro, nunca foi tão atual.

Além da direção, Gabriel Villela assina os figurinos e a cenografia. A iluminação é de Wagner Freire, a direção musical e preparação vocal são assinadas por Babaya e a espacialização e antropologia da voz por Francesca Della Monica. Os diretores assistentes Ivan Andrade e Daniel Mazzarolo completam a equipe criativa.

CRÍTICA

“(Villela) Coloca no palco do Tucarena não só um carrossel de referências visuais, de imagens que remetem sequencialmente para todo lado, mas as integra com riqueza de significados ao texto rodriguiano - e às atuações, elas também com abundância de registros, inspirada no autor. São grandes atuações, a começar do personagem-título, que na caracterização de Malvino Salvador, dirigido por Villela, se mostra alternadamente frágil como uma criança, monstruoso e cinicamente inteligente. Já conhecido pela densidade que demonstrou em montagens cariocas, Salvador ganha agora ares de ator pleno, pronto para grandes papéis.” (Nelson de Sá, Folha de São Paulo)

“Há soluções cênicas dignas de nota, resultado da combinação entre engenho, objetos do cotidiano e uma apurada iluminação. O tamborilar de dedos na mesa reproduz à perfeição o som das máquinas de escrever, varas de bambu tomam o lugar de adagas japonesas e taças de vidro cumprem o papel de telefones. (...) Ainda que se trate de um traço recorrente na trajetória desse criador, a exuberância visual aqui alcança patamar distinto de seus trabalhos mais recentes. Em Boca de Ouro, a beleza de uma cena não se encerra em si; o apuro estético está a serviço do conjunto.” (Maria Eugenia de Menezes Estadão)

“Costumo escrever a matéria de um espetáculo um ou dois dias após a ele ter assistido, mas quando o deslumbramento é muito grande procuro dar um tempo, esperar a poeira baixar e então voltar a ele, com menor perigo de adjetivar demais. Já faz uma semana que assisti Boca de Ouro e ainda me sinto tocado pela beleza e perfeição da leitura de Gabriel Villela.

Foto: João Caldas

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