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Nicole coloca a serviço da poesia toda sua experiência como mulher educadora e escritora

A Coluna “Sarau”, produzida por Elmo Gomes, apresenta nesta edição a estória da poeta "Nicole Alvarenga - Uma poeta de mil facetas"

Nicole Alvarenga Marcello graduou-se em Piano Erudito pela UFRJ. É Mestre em Literatura Brasileira pela UFMG e está cursando o Doutorado em Teoria da Literatura, também na UFMG. Além de ser escritora de poesia e prosa, atua como professora, tradutora e revisora. Entre seus projetos está a idealização e coordenação do coletivo de leitura “Toda Prosa”, em atividade desde 2018, e é proprietária e gestora da “Casa Quarup”, sebo e casa de cursos livres, fundada em 2020.

Como escritora, sob o pseudônimo de Isabella Schreiber, manteve de 2013 a 2020 o blog literário “Vertendo Vida pela Pena de Tinta”, e colaborou no coletivo “Corja”, de 2017 a 2020. Atualmente publica seus escritos através de suas contas no Medium e no Instagram. Seu mais recente trabalho publicado é Lanaluna – tão perto do céu, um conto infantojuvenil, editado pela Tanta Tinta em abril de 2021.

Como a Poesia surgiu em sua vida?

A poesia surgiu na minha vida de um jeito inusitado. Eu estava na faculdade e no ônibus de volta para casa sempre me vinham frases, e eu gostava de como elas soavam, então eu ficava repetindo aquelas frases mentalmente, às vezes por vários dias. Quando uma outra frase ou palavra seguia, aí eu sentia que estava pronta e escrevia. De repente eu já estava saindo de casa com um caderninho, para poder anotar tudo e não perder nada. Aliás, esse é o meu procedimento de escrita poética: a sonoridade da linguagem. É a partir de como os sons das palavras se combinam que eu faço minha seleção, e minha divisão métrica, versificação e pontuação acontecem de acordo com o ritmo que eu quero imprimir para o poema, ou que as palavras pedem.

Defina a poeta Nicole Alvarenga

Concisa, pessoal e “rasgada”, digamos assim. Tudo que eu escrevo tem muito a ver com quem eu sou e com as minhas vivências, e a poesia é meu lugar de abrigo, onde eu não tenho censura alguma. Tanto é que eu tenho coisas que eu não publico de jeito nenhum. Rs.

Para você o que é a poesia e qual o seu papel na sociedade?

Essa é uma pergunta interessante, embora pareça natural. Porque quando penso em poesia e sua relação com a sociedade, a primeira coisa que me vem à cabeça é como Platão expulsou os poetas da sua república. Segundo o filósofo, eles seriam enganadores e responsáveis por desvios à conduta ideal dos membros dessa organização republicana idealizada por ele. Então, pelo menos para mim, é no mínimo irônico pensar na ideia de um papel social para a poesia e os poetas.

Eu acho que a poesia é um lugar do “fora”, do acesso a outras formas e potências de existir, para além de papéis representativos impostos por uma estrutura social. Mas, é claro, como a poesia é feita de linguagem, e linguagem é dispositivo de poder, sempre é possível que ela se coloque à disposição das normas, leis e instituições. Então, se a poesia serve para alguma coisa de fato, é para fazer da língua um território livre. E se o poeta tem algum papel, para mim é o do inconveniente, porque põe a nu a performance da vida em sociedade e lê no mais íntimo do ser humano. 

Quais suas maiores influências na poesia?

É engraçado, porque a poesia chegou para mim não como leitora, mas como ouvinte, e na infância. Então minhas referências são de poetas músicos. Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gonzaguinha, Taiguara, Marina Lima, Adriana Calcanhotto. E o Cazuza, que para mim foi, de longe, um dos nossos melhores poetas. Ah, e do samba também (quer mais poesia que Adoniran, Cartola, Noel, João Nogueira? Difícil). Agora, poeta de papel mesmo, definitivamente minha maior inspiração e influência é a Ana Cristina César. É minha poeta de cabeceira.

Como a poesia pode ajudar a amenizar o impacto da pandemia na vida das pessoas?

Hoje a gente vive, especialmente no Brasil, uma lógica da morte, em vários sentidos. Morte morte mesmo, do corpo, e morte espiritual. E para mim, a poesia é o lugar onde estamos mais vivos, porque a gente fala de coisas de outra ordem, de um lado da nossa existência que não tem nada a ver com o automatismo e a alienação do mundo de hoje, em que o dinheiro é que rege as relações todas: do trabalho à família. Então eu acredito que ler e escrever poesia pode ser um lugar de cura e resistência nessa pandemia. É onde a gente pode tanto expurgar nossas angústias quanto encontrar sensações e sentimentos bonitos, que transmutam essa realidade tão dolorida.

Você está ministrando uma Oficina Poética, conte-nos detalhes sobre esse trabalho:

Então, a “Oficina Poética” nasceu como um dos projetos do “Verão na Quarup”. Só que eu e o André Rizoma (poeta e agora amigão) gostamos tanto da energia e das produções das participantes que resolvemos estender a oficina ano adentro. Aí a gente criou a modalidade “Ateliê em rotação”.  A oficina não para nunca. A pessoa pode participar de um encontro ou vários. Eu acho a metáfora do ônibus muito adequada: você sobe e salta quando chegar o seu ponto. E vamos a cada encontro explorando assuntos, técnicas e manifestações poéticas variadas. Conforme o interesse dos participantes, o André e eu vamos direcionando o fluxo de criação. E tem sido uma DELICIOSA SURPRESA, é só o que posso dizer a mais.

https://libertasnews.com.br/nicole-alvarenga-uma-poeta-de-mil-facetas/

Foto: Divulgação

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