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Mulheres do Futuro com Michelle Oliveira

Na edição da 13° De Quinta na Akasha, a bióloga, ativista social, produtora e gestora em cultura Dani Dutra interconecta-se com a belo-horizontina, Michelle Oliveira.

Formada pela prestigiada escola de artes Guilgnard (UFMG) em 2000, a inquieta, virtuosa, talentosa e ativa Michelle, hoje é uma das mais fortes representantes da nova safra da música brasileira. Uma referência para as minas de BH e de todo o país, pelas ondas do rádio. À frente do programa " NEGRA MINA MATULA", aos sábados, na matulawebradio, dá voz e apresenta o melhor, feito por mulheres negras de todo o planeta. 

Incansável, antenada e multi, por demais. Eis a Michelle.

Ouvindo os vinis da mãe, ainda bem garota, enquanto ambas na faxina do lar ouviam, e cantavam juntas Dalva de Oliveira, Clara Nunes, Gal Costa, Bethânia e tantos outros, cresce a garota. Aos 16 anos recebe de presente do pai uma viola. Esse foi o último presente. Meses depois parte seu pai rumo às estrelas. A preocupação materna para o futuro, só aumenta "(...) filha, arte nesse país não te dará o sustento". Contrariando o desejo da genitora, a menina mergulha na música sem receios. Ainda na escola, aquele lance bem comum, apaixona-se pelos "bonitinhos" do pop internacional. Porém, de uma maturidade precoce, a paixão não dura tanto tempo assim. Bastou um moche para a curiosa descobrir Kobain, toda a turma de Seattle e logo após, os Britânicos, o Reggae de Marley, Toch, Alfa Blond e todos que desejou. Mesmo flertando com Renato (Legião Urbana) e toda leva do pop rock, a garota descobriu a sua estrada, antes do sol nascer. 

Assim, cantando na igreja, um lance bem corriqueiro no mundo, sobretudo em um pais de cultura judaico-cristã, junto à turma de jovens, criam releituras dos hinos gospels, em versão, reggae, blues e jazz. "A igreja passou a ficar lotada, tinha gente que ficava em pé do lado de fora. rs..." reelembra Michelle. 

Porém, foi na faculdade, junto à maturidade, que mergulha no universo tropicalista (Mutantes, Secos & Molhados, Tom Zé, Gil e tantos outros destruidores de paradigmas). Junto, ao Jonas, que carinhosamente chama de "Mestre", nos intervalos das aulas, com muita revista cifrada, nasce o interesse pelas composições. Agora o lance era mais sério e profundo que as festas e excursões colegiais. 

Mas, como diz a música "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais" ainda bem jovem, vem a primeira filha, depois outra. Àquela altura, segundo a própria "O conto de fadas, havia virado um inferno". (relacionamento abusivo). 

Até que em um dia, conversando com Deus ou com ela mesma, joga para o universo: "Quero minha vida de volta. Essa estrada e situação não são minhas". Eis que em mente vem o nome do nosso querido Leandro Said, naquela época, um amigo, irmão de longas datas. Depois de procurar bastante o seu telefone o encontra em meio às velhas anotações. Enfim, o encontro. Foi incrível para ambos. Eis que Said lhe conta que estava tocando em duas bandas, Nem Secos e Cromossomo Africano. Sugere que Michele integre uma das bandas. O ex-marido sugere que ela escolha, ou toca na banda, ou o casamento. Ela tocou e ele dançou. 

A Nem Secos passava por um momento muito delicado. Muito mesmo. Então, a convite do Ricardo Cunha, após testes, passa a integrar a Cromossomo Africano. Segue até hoje na banda. E agora, também no coração do Ricardo, companheiro, parceiro e amigo. Sim, ele é o cara. 

Assim, como uma Leoa foi à luta. Passa a lecionar música, em escolas.... breve, só essa frase. Lutou. Lutou muito. Cresceu, cresceu, cresceu muito. 

Hoje, uma mulher negra, mãe, artista e com um companheiro, pau pra toda obra. Repito, ele é o cara. 

Crescida, mergulha na Música Negra e no Soul Music. Uma carpintaria sonora extensa, de Elza Soares a Racionais MC. Tão extensa, que alcança o fino do rap de BH.  Uma eterna irmandade. Leve, forte, e solta recebe o convite para fazer parte da cena com Dokttor Blu & Shabe. Anotem esse nome meus caros. Novamente, cresce, cresce, cresce muito! A negra cola desta vez com ninguém menos que Rogger Deff (Julgamento-BH), o cara. O gigante negro do rap da capital mineira. O cara lançou o álbum Etnografia Suburbana, um dos melhores do gênero no Brasil. Um divisor de águas na cena mineira. 

Depois de todo esse aprofundamento sonoro e junção de ritmos, amplia o próprio leque perceptível e sonoro. "(...) hoje não consigo fazer música sem a influência do rap". 

Hoje segue forte. Uma rainha negra em cena. Dialogando com Emicida, Drica Barbosa, Tamara Franklin e a rainha Elza, salvem as devidas proporções, em participações luxuosas, a exemplo do magnífico e emblemático "Paraíso Perdido nos Bolsos" da super banda Pelos-BH, o estouro do rock mineiro dos últimos anos. 

A última vez que vi a Michelle nos palcos, calhou em algumas dessas peformances. A primeira vez que a vi no palco foi no Palácio das Artes, em 2019, junto à banda Diplomatas e, na sequência, o lindíssimo e coletivo projeto, liderado por Heberte Almeida (Negro Amor), o melhor e mais tocante projeto musical que presenciei até aqui. Foi paixão à primeira audição. Que voz! Dali, passei a ouvi-los sempre. Cromossomo  Africano, Pelos, Roger Deff, Shabe Furtado, Nem Secos, definitivamente fazem parte do meu set list. Anima tudo aqui em casa, de faxina às festas à dois, minha e da Dani. Canto tudo. Espero até uma participação especial, rs, muitos risos. Sério, eles me representam. 

Chega a pandemia, todos os projetos quase suspensos. Eles não pararam, rola aí no forno, mais um novo projeto: um projeto solo desta vez. Sim, a preta cresceu. Seguindo com a "Maribando" o projeto "Miggy" com um Power Trio luxuoso e alto nível (Pineal Trio) com Vitor Freitas, Edgar Filho e Ricardo Cunha, obviamente. A afinação, sintonia e compatibilidade do projeto é  tamanha, que já tem 4 músicas gravadas e previsão para o lançamento. 

" (...) o rock embranqueceu. Mesmo sendo criado por uma mulher preta (Rosetta Tharpe-1915-1973); são poucas bandas da cena mineira composta por negros".
pontua Michelle. 

Pessoalmente já fui em vários rolês em BH, que eu e o garçom éramos os únicos pretos. Pois é, ninguém me contou, eu estava lá. A cena na capital é bastante branca, e elitista. A territorialidade é bem óbvia em afirmar e mostrar a cada qual o seu lugar (Racismo Estrutural). 

Porém, toda essa turma citada acima, rompe paradigmas, ocupa espaços dotados de muito talento e sagacidade. Os melhores shows, os melhores discos de rap, rock e MPB da atual cena mineira. Sim, isso é coisa de preto. Sim, vai ter preto no rolê. Cada vez mais e mais, e mais e mais! 

Ubuntu! 

Por Anderson Camilo (Preto, Arte-educador, artista visual, pesquisador em história da arte & música. ativista social, redator e diretor de criação) 

Link da live
https://www.facebook.com/danirdutra

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Foto: Divulgação

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