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Inspirado em situações limites da política e sociedade contemporânea, "Jardins" estreia no dia 29 de junho no CCBB BH

Com Camilo Lélis e Kelly Crifer no elenco, direção de Rogério Araújo (Os Conectores e Armatrux) e cenografia de Marco Paulo Rolla, espetáculo teatral ficará por três semanas em cartaz

O Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB, em Belo Horizonte, recebe a partir de 29 de junho (quinta) o espetáculo "Jardins". O trabalho segue em cartaz até 17 de julho, com apresentações de quinta a segunda, sempre às 19h - ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). A peça, que celebra o reencontro entre atores e direção, após anos dedicados a projetos paralelos, levanta a questão sobre a realidade estressante e aflitiva a que grande parte de nós está sujeita e que acaba por justificar atos cotidianos, até então, impensados. Com direção de Rogério Araújo (Os Conectores e Armatrux), elenco formado por atores com trajetória comum no grupo Teatro Invertido - Camilo Lélis e Kelly Crifer -, a produção ainda conta com cenografia de Marco Paulo Rolla e trilha de Barulhista.

Um dia comum marcado pelo desaparecimento de um casal de classe média. A investigação deflagra situações limites. Uma fábrica vem a público esclarecer que uma falha potencialmente letal foi encontrada em um de seus produtos: um cortador de beterrabas. A realidade dá sinais de esgotamento enquanto vozes são ouvidas em sinal de manifesto. Essa é a trama da montagem mineira, que a partir de um enredo não linear convida o público a refletir sobre os limites da intolerância, nos quais a sociedade parece imersa, e sobre o próprio fazer artístico.

Cenário político

Obra inédita e ficcional, "Jardins" é livremente inspirada no atual cenário político do Brasil. "Mais precisamente reagindo aos últimos anos de uma crise moral e política que nos atravessa, trata desse 'aparelho' que apresenta defeito e ora mutila seus cidadãos. Cidadão cujas manchas pelo corpo evidenciam estarem doentes e apresentando sinais de esgotamento", explicaCamilo Lélis, ator e que também assina a dramaturgia do trabalho.

A dramaturgia tem como fio condutor uma ocorrência sobre o desaparecimento de um casal de classe média, os Marcatto, no bairro onde residem, Jardins. Nesse clima de romance policial, as relações pessoais se atritam, a intolerância emerge no discurso contaminado pelas redes sociais e por uma mídia golpista. Em cena, dois policiais representando a Segurança Nacional estão em diligência, investigando o caso, que ganha repercussão nacional. Uma peça fragmentada na qual personagens, atores e público investigam juntos e buscam pistas para esse quebra-cabeça.

Jardins é a metáfora do espaço delicado, arquitetado para florescer o belo e sorrisos sob o sol da democracia. Mas basta um descuido para tudo ruir. "Em tempos de urgências infinitas, os jardins estão ficando esquecidos, nasceram ervas daninhas, o mato cresceu e tomou conta. Abusos estão sendo cometidos nesse momento, injustiças, golpes, desafetos. O jardim virou uma selva. Estamos perdidos no meio desse matagal", conta o diretor Rogério Araújo. É nesse jardim que brotam temáticas como a aflição da crise, a opressão, a falência da política, a intolerância, a sobrevivência do artista e o papel redentor da arte.

Urgência de estar no palco

Amigos com trajetórias comuns em diversos espetáculos no grupo Teatro Invertido, direção compartilhada do Nóscegos Grupo de Teatro no premiado espetáculo "A Ver Estrelas" e outros tantos projetos, Camilo Lélis e Kelly Crifer já contavam seis anos de hiato nesta parceria profissional. A vontade de estarem juntos novamente no mesmo palco e a paixão cênica compartilhada se manifestou de forma urgente diante do estarrecedor momento político brasileiro e mundial. Como forma de resistência, os atores se colocaram na obrigação de responder a uma questão: "se tudo vai pelos ares, num fim anunciado, que devemos ou queremos colocar em cena?" Para Kelly Crifer, "frente a uma República que ruiu, sentimentos paradoxais tomaram conta de nós, num momento político dúbio em que nossa democracia é frágil. Diante das mazelas dos poderes que estão sendo reveladas numa teia de corrupção descoberta, em carne viva, como resistir e o que dizer? Queríamos dizer da realidade social que nos corroía. Os absurdos antidemocráticos e midiáticos com os quais éramos bombardeados a todo momento." Lélis relembra que "a montagem de 'Jardins' é uma reação do 'eu' cidadão e ator num contexto político de atentado à democracia e aos direitos humanos.

O questionamento motivou a pesquisa, que se ampliou nas redes sociais, através de provocações textuais, imagéticas e sonoras. Após um trabalho coletivo de criação roteirizado por Camilo Lélis, um texto inicial foi apresentado no final de dezembro ao diretor Rogério Araújo (integrante do Coletivo Os Conectores e do Grupo Armatrux), colega de cena dos atores em espetáculos do Teatro Invertido e que já os havia dirigido na peça "Estado de Coma". A partir daí, um trabalho e convívio intensos, de contínua construção e desconstrução, ergueu em quatro meses todo um espetáculo coletivo e urgente. "A cada ensaio praticamos a escuta, uma busca incessante. Fazer junto, estar junto, criar junto, trabalhar junto. Pensamentos, sentimentos e ações divergentes em combate onde tudo só se fez possível pelo desejo de estarmos juntos ecoando gritos", diz Crifer.

Pontos de vista diversos foram moldando a teia textual e dramatúrgica. Textos de Brecht, pinturas de Portinari, filmes, séries, músicas de Elis Regina e Belchior - a pesquisa de um processo criativo repleto de porosidades absorveu informações de todos os criadores envolvidos buscando uma relação criativa mais horizontal. O projeto de "Jardins" não contou com recursos financeiros iniciais para viabilizar tamanho desafio. Aos poucos, a ideia pautada na amizade e resistência arregimentou profissionais de grande qualidade e afinidade artística, como Barulhista (trilha sonora), Marina Artuzzi (iluminação), o artista plástico e performer Marco Paulo Rolla (cenografia e figurino), Ana Hadad (orientação vocal), o bailarino e atorFernando Barcellos (orientação corporal), o artista plástico Leonardo Cata Preta (identidade visual), Patrícia Ferreira(produção) e Cris Moreira (gestão e criação de projetos).

 

Camilo Lélis (Dramaturgia e atuação)

Ator Criador, transita pela atuação, direção e dramaturgia. Formado, pelo CEFAR(t) - Curso Profissionalizante do Palácio das Artes/2003. Fez produção e técnica para o Grupo Teatro Andante/2004, Integrou-se ao Grupo Teatro Invertido em 2006. Dirigiu juntamente com Kelly Crifer o Grupo Nóscegos de Teatro,além de atuar em Grupos de Mobilização social da PBH. Foi Secretário de Cultura e Turísmo em Itaguara, sua terra natal. No currículo mais de 20 trabalhos em teatro, destaque para 180 dias de Inverno, Medéiazonamorta, Proibido Retornar e Estado de Coma, com os três últimos, foi indicado a premiações como Melhor Ator em Belo Horizonte. Dirigiu o espetáculo A Ver Estrelas ao lado de Kelly Crifer e assinou a direção do espetáculo Apareceu a Margarida/2010, Como dramaturgo, recebeu ao lado de outros criadores, o prêmio de Melhor Texto Original por - Proibido Retornar (Prêmio USIMINAS/SINPARC 2010). Publicou junto ao Grupo Teatro Invertido o livro: Cenas Invertidas Dramaturgias em Processo. (Registro das peças e processos de criação do grupo).Ressentimento atuou no elenco da Minissérie Nada Será Como Antes, da Rede Globo, exibida em 2016.

 

Kelly Crifer (Atuação)

Kelly Crifer é Atriz, professora de teatro e integrante do Grupo Teatro Invertido desde 2006. Atua como professora dos cursos livres de Teatro do Galpão Cine Horto, centro cultural do Grupo Galpão – desde 2010. É Graduada em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde concluiu a Licenciatura em Teatro e Bacharelado em Interpretação Teatral. Atriz de peças teatrais em circulações pelo país, dentre elas: “Ensaio Para Senhora Azul”, direção de Robson Vieira, solo que circulou pelos centros culturais de BH dentro do projeto Cena Música, em 2015. Fez pequenas temporadas no Sesi Holcim, Galpão Cine Horto e Sesc Palladium 2016. Junto ao Grupo Teatro Invertido - “Noturno” Direção de Yara de Novaes e Mônica Ribeiro. “Os Ancestrais”, direção de Grace Passô. Ainda atuou na peça “Antes do silêncio” Direção de Eid Ribeiro. Atriz no cinema, dentre os filmes se destacam: “Contagem” direção de Gabriel Martins e Maurilio Martins MG 2010, “Ruídos Mudos” de Haendel Melo 2012, “Os Incontestáveis” Direção de Alexandre Serafini, Vitória/ES 2015 o qual teve estreia em 2016, ano que atuou como protagonista no longa “No Coração do mundo” Direção de Gabriel Martins e Maurílio Martins (Filmes de Plástico). Ainda gravou em 2015 “Jubileu” de Samuel Marotta e Leo Amaral. Convidada pela Zula Cia de Teatro está em processo de criação de nova peça com pesquisa sendo realizada dentro do Presídio feminino Estevão Pinto – o teatro como possibilidade de liberdade para mulheres em situação de cárcere .

*Direção e atores - trajetória comum no grupo Teatro Invertido

Rogério Araújo, junto a Leonardo Lessa e Rita Maia, funda o Grupo Teatro Invertido em 2004. Em 2006 Camilo Lélis entra para a montagem de "Medeiazonamorta". Ainda em 2006 Kelly Crifer integra o grupo e, juntos, remontam "Nossa Pequena Mahagonny", primeiro espetáculo do grupo. Em 2009 os três, junto com Rita e Leonardo, escrevem, atuam e dirigem coletivamente o espetáculo "Proibido Retornar". Em 2010 Rogério dirige "Estado de Coma" com Camilo e Kelly em cena.

 

Foto: André Veloso

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