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Chilena radicada em Belo Horizonte, Claudia Manzo lança álbum de estreia em show com participações de artistas mineiras

Cantora, compositora e instrumentista apresenta “América por una Mirada Femenina” na quinta-feira (24/8), às 20h, na Fundação de Educação Artística

“Resiste, corazón”, diz a tatuagem no braço esquerdo de Claudia Manzo. A frase resume bem a saga da cantora, compositora e instrumentista chilena, radicada em Belo Horizonte há cinco anos: de um lado, a luta e a persistência para vencer os obstáculos; de outro, a entrega e o amor pela música. Assim surge “America por una Mirada Femenina”, seu primeiro disco solo, que será lançado na próxima quinta-feira (24/8), às 20h, na Fundação de Educação Artística (FEA). O show terá participações especiais das cantoras mineiras Déa Trancoso, Irene Bertachini, Julia Dias, Lais Lacôrte, além da violeira Leticia Leal e da percussionista argentina Chaya Vazquez, também radicada em BH.

Como não poderia deixar de ser, “America por una Mirada Femenina” é um disco essencialmente feminino e feminista. Com produção musical, direção artística, composições e arranjos assinados por Claudia (que também gravou violão, cuatro e cajon), o álbum conta com 11 faixas autorais, nas quais ela canta em espanhol, português e até “portunhol”. “Me sinto muito confiante com o resultado. Percebo que estou inteira ali”, afirma a cantora, comentando sobre a mistura de gêneros e sonoridades que marca o trabalho. “Misturo diversos ritmos da cultura latino-americana, mas não de forma purista. Tem maracatu desconstruído, festejo, landó, cueca. Tem até uma mistura de ijexá com rumba”, adianta.

Gravado no Estúdio Motor, com produção de Rafael Dutra, o disco contou com uma banda-base de primeira linha, formada pelo violonista André Milagres (que divide a direção musical com Claudia), pelo percussionista João Paulo Drumond e pela contrabaixista Camila Rocha. As participações transitam, majoritariamente, pela rede de artistas mulheres que Claudia conectou desde que chegou em Belo Horizonte. Além de Déa Trancoso e Irene Bertachini - que assinam “Uroboro”, única música não composta por Claudia -, cantam no disco as também mineiras Laís Lacorte, Michelle Andreazzi, Roberta Arruda e Bárbara Barcelos, além da argentina Flor Bevacqua e da colombiana Orito.

“No Chile, minhas referências na música eram mulheres compositoras e, aqui no Brasil, percebo que a referência geralmente é a mulher como intérprete, com um homem por trás da produção e dos arranjos. Por isso, é muito importante destacar a participação dessas cantoras, que também compõem sua própria música”, reflete Claudia. “Minha vontade é dizer para as colegas que nós podemos fazer. Temos uma capacidade musical muito forte”, ressalta a cantora, que desde 2015 organiza o bloco Bruta Flor, levando às ruas de BH versões carnavalizadas de composições de cantautoras mineiras.

Entre os demais músicos convidados do álbum estão Di Souza, João Arruda, Jeferson Leite, Jorge Manzo, Belisario Tonsich (que também participa do show) e Marcelo Preto, do Barbatuques. “Eu já mantinha um contato com o Marcelo pela internet, mas não nos conhecíamos. Pedi para ele compartilhar a página do crowdfunding e ele me respondeu dizendo que queria gravar uma música no disco. Fui para São Paulo e gravamos juntos ‘Nuestra Fiesta’. Fiquei muito emocionada, ele foi incrivelmente generoso”, conta Claudia, lembrando que o disco foi viabilizado através de uma exitosa campanha de financiamento coletivo. “Sou muito grata a cada pessoa que colaborou. Não fossem elas, esse sonho não teria virado realidade”.

Sobre Claudia Manzo

Nascida em Santiago, no Chile, Claudia Manzo é cantora profissional desde os 14 anos. Criada em um lar musical, descobriu ainda cedo sua paixão pelo canto popular. “Venho de uma família de cantores. Ninguém era profissional, mas era uma eterna festa lá em casa. Lembro que, desde muito nova, ficava observando meus tios reunidos, cantando músicas populares, de protesto. Achava impressionante como eles preenchiam o espaço com a voz”, conta a cantora, que mais tarde formou-se em Música Popular, com habilitação em canto, ainda no Chile.

Apesar da ligação com as tradições culturais de sua terra, Claudia decidiu expandir horizontes artísticos e musicais, viajando para países como Peru e Argentina. A vinda para o Brasil foi por acaso, a convite de uma amiga. “Quando vivia no Chile, não tinha muito contato com a música brasileira. Então, nunca tinha pensado em vir para cá. Mas cheguei ao Rio de Janeiro e decidi ficar no país desde a primeira semana, quando virei noites na Lapa. Entendi que aquele era um lugar muito diferente. Percebi uma musicalidade grande na língua portuguesa e no jeito do brasileiro, e vi as manifestações musicais nas ruas, acontecendo de um jeito tão bonito. Pensei: ‘não posso ir embora daqui’”, relembra.

Vivendo como artesã por mais de um ano, Claudia viajou pelo país até radicar-se de vez em Belo Horizonte, onde vendia seus trabalhos na praça Sete. A oportunidade de ser professora de canto pelo projeto Arena da Cultura ajudou a chilena a se estabelecer na cidade e a voltar sua energia para a música. “Depois do Arena, também dei aula pelo Valores de Minas até conseguir alugar um apartamento e começar a dar aulas particulares. A partir daí, as coisas começaram a acontecer”, afirma, lembrando que o álbum sempre esteve em sua mira.

“O disco não vem do acaso. Sempre foi meu principal sonho. Desde muito nova eu sabia que o canto seria a minha jornada e que chegaria esse momento”, afirma a chilena “As canções deste trabalho foram todas compostas depois que cheguei no Brasil e dizem sobre o que vivi aqui. As minhas questões como mulher, os encontros, as dificuldades, os amores, a saudade, as paisagens, as estradas, as raízes, as descobertas”, reflete.

Além do bloco feminista Bruta Flor, cuja bateria é formada apenas por mulheres, Claudia também é um dos destaques da Orquesta Atípica de Lhamas, banda derivada de outro bloco, o Cómo te Lhama?, que arrastou centenas de foliões no pré-carnaval deste ano. Formada por músicos de bandas da cena independente de BH, a Orquesta enfoca a cumbia e mistura ritmos latinos e brasileiros em arranjos, releituras e composições autorais. Apesar de jovem, o grupo já lotou o Necup e o Bar Latino por duas vezes e se prepara para dividir o palco do festival Vibra com Graveola e Nação Zumbi, no dia 1º de setembro, no Parque Municipal.

Foto: Nancy Mora Castro

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