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O imperativo ecumênico e inter-religioso

É fato que vivemos uma grave crise mundial. Não me refiro tão somente à crise ecológica e econômica, mas, também, a uma crise de valores. Talvez estejamos vivendo uma época de obscurantismo que inibe o diálogo e nos faz inimigos uns dos outros. Quando cessa o diálogo fraterno, deixamos de perceber o mundo do outro e em detrimento a esse mundo, absolutizamos o nosso próprio como se fosse o único e verdadeiro. Julgamos os outros, seus valores e sua religião com olhos muito específicos. Negamos o outro porque precisamos nos afirmar. Mas que afirmação é essa que necessita da anulação do outro? A tradição filosófica me ensinou que somente posso ser considerado EU quando vejo no outro um TU. Quando desumanizo o outro é porque já estou num processo maior de auto-desumanização.

Uma das possíveis respostas à falta de diálogo que leva ao fundamentalismo social e religioso seria o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Talvez possamos resumir o fundamentalista religioso – que nega o diálogo em proveito próprio – como alguém que se resume a um auto-espelhamento narcisista e que produz relações narcisistas consigo mesmo. Chamo de ecumenismo a busca da unidade entre as igrejas cristãs e de diálogo inter-religioso o processo de entendimento mútuo onde estão envolvidas outras religiões. Tanto num caso como no outro o que se procura é a construção de uma civilização cidadã e um planeta saudável. Dessa forma, creio que podemos falar que o ecumenismo e o diálogo inter-religioso são como que imperativos éticos para a sobrevivência mundial. Os muitos desafios da atualidade estão irremediavelmente ligados à necessidade de se construir e/ou resgatar uma ética para toda a humanidade.

Mas por que necessitamos defender a qualquer custo nosso campo religioso? Quais medos guardamos em nossos corações que nos armam contra aqueles que são semelhantes? O que nos motiva a silenciar a cultura religiosa daquele que se expressa de uma maneira diferenciada? Na verdade, a falta de diálogo produz o medo e cria uma nítida sensação de disputa pelo mercado religioso. E, assim, às permanentes tensões sociais, vemos a situação agravada pela lógica dominante da economia e do mercado que se espalha pelo campo religioso.

A cidadania planetária e o próprio futuro do planeta passam pelo diálogo religioso. A liberdade do diálogo permite que nos vejamos mais como seres humanos e menos como um exército em plena cruzada.

No grande palco planetário em que vivemos precisamos reunir todos os nossos deuses a fim de percebermos que a comunhão entre eles deveria ser o mais pleno reflexo da comunhão planetária que deveríamos viver.

Autor: Luiz Alexandre Solano Rossi é doutor em Ciências da Religião e professor da graduação em Teologia Interconfessional do Centro Universitário Internacional Uninter.

Foto: Divulgação 

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