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Poesia de Ana Cristina César é tema de encontro do projeto Letra em Cena. Como ler...

Poeta fluminense que morreu aos 31 anos terá seu texto apreciado pelo pós-doutor em comunicação e letras, Ítalo Moriconi

A próxima sessão do projeto Letra em Cena. Como ler… será dedicado à poesia angustiada e inquietante de Ana Cristina César. Às 19h de 13 de setembro, o poeta, ensaísta e antologista, Ítalo Moriconi, elucidará os mistérios e a angustia de Ana C. A leitura dramática será feita pela atriz Flávia Fernandes. O evento, como sempre, será no Café do Centro Cultural Minas Tênis Clube, com entrada franca.

 

O responsável por explicar Ana C. para o público, Ítalo Moriconi, é um dos mais brilhantes ensaístas de sua geração, além de professor e poeta. Ele escreveu a biografia “Ana Cristina César”, em 1996, para a coleção “Perfis do Rio”. Moriconi afirma que Ana aprendeu poesia com o texto em inglês. “Há presença da poesia inglesa e americana, por exemplo, quando ela cita Jack Kerouac. Ana manteve sempre uma relação de aprendizagem com a língua inglesa, ela aprendia poesia e literatura lendo autores de língua inglesa”, afirma. Antes de começar a escrever Ana Cristina César já fazia poesias, ela ditou, aos seis anos de idade, seu primeiro poema para a professora da escola. Na adolescência a garota fez intercâmbio na Inglaterra passando a conviver de forma mais intensa com os escritos de Emily Dickinson e Sylvia Plath.

 

O que há de mais forte na poesia de Ana C. é a angustia. A poeta morreu precocemente aos 31 anos e, segundo texto da revista Veja de outubro de 1983, data de sua morte, este sentimento estava muito presente. “O mito contemporâneo é o de que o sonho acaba, como dizia John Lennon, e pode acabar de maneira brutal como aconteceu com ela, em meio a uma crise nervosa que já durava três meses e que fazia sentir-se ‘emparedada’, como disse a seu melhor amigo, o também poeta Armando Freitas Filho, num telefonema”. Moriconi afirma que este sentir-se emparedada, esta angustia é muito presente nos textos de Ana. “Angústia é fala entupida, dizia Ana. Os cadernos de poesia eram cadernos terapêuticos, ainda em seu dizer. Resumo: a poesia para Ana é desentupimento da fala. Trazer o segredo para a cena, disfarçado”, explica. O escritor Jacques Fux, apreciador da poeta, diz que Ana é “uma escritora em busca, em eterna falta, em perene sofrimento. Uma artista”.

 

Pode-se dizer que o texto de Ana C. é biográfico, a poeta misturava a ficção com a sua vida produzindo um escrito sedutor, especialmente para os jovens. “As pessoas, principalmente as jovens poetas, se veem reveladas, compreendidas, quando leem a poesia prosa de Ana. Isso sem dúvida é uma das principais fontes de sua importância ainda nos dias de hoje”, explica Moriconi. Fux, fã da poeta, afirma que a poesia de Ana é “uma porrada na alma e na existência. Uma vontade de desvendar e desvelar as palavras, os sentimentos e a essência humana”.

 

Homenageada pelo Festival Internacional de Literatura de Paraty, FLIP, Ana C. foi um dos principais nomes da poesia marginal na década de 1970. Durante a ditadura (1964- 1985) a escritora fez parte da chamada Geração Mimeógrafo que, para driblar a censura usava meios alternativos para fazer a poesia circular. Pertencem a este grupo junto a Ana C. os poetas Paulo Leminsk (1944 – 1989) e Torquato Neto (1944 – 1972). Ambos sofredores, Leminsk era alcoólotra e Neto, como Ana, morreu muito jovem quando contava 28 anos.

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