Notícias

Nos bastidores da escultura em bronze, com Leo Santana e Ana Vladia

Artistas plásticos contam sobre o processo criativo e a manufatura das esculturas da exposição “Do outro lado do desenho”, em bate-papo na Casa Fiat de Cultura

Ao lado do desenho, a escultura em bronze é a principal técnica utilizada pelo artista plástico Leo Santana em suas obras. Em um processo milenar, a fundição da escultura é um trabalho que envolve várias mãos, diversas etapas e alguns meses de produção. No dia 10 de novembroquinta-feiraàs 19h30Leo Santana e Ana Vladia, da Fundição Artística Ana Vladia, contam as curiosidades e experiências deste processo conjunto de criação artística, em bate-papo na Casa Fiat de Cultura. Com entrada gratuita, o encontro faz parte da programação paralela da exposição “Do Outro Lado do Desenho – Leo Santana na Casa Fiat de Cultura” e está sujeito à lotação do espaço (250 lugares).

 

Conhecido internacionalmente por suas esculturas e monumentos instalados nos espaços urbanos e pontos turísticos do Brasil, Leo Santana conta com a parceria da Fundição Artística Ana Vladia para criação de suas obras. Em todas elas, o artista desenha, faz a concepção da peça, modela a estrutura e detalhes da figura em argila e, então, começa o trabalho da equipe de Ana Vladia. Essa etapa prevê a  produção da forma em gesso e sua cópia em cera, aquecimento da peça e a  fundição em bronze.  “Eu também acompanho o processo de fundição, mas tecnicamente o trabalho de atingir a temperatura correta para queimar a cera, inserir e resfriar o bronze e dar o acabamento é todo da equipe da fundição. As esculturas são um trabalho metade meu, metade deles. A fundição é uma arte à parte”, diz Leo Santana. 

 

Durante o bate-papo, será proposto um diálogo entre o ofício do artista plástico e o da fundição: como os trabalhos de Leo Santana e Ana Vladia se completam para dar forma às esculturas em bronze da exposição “Do Outro Lado do Desenho”, aberta ao público na Casa Fiat de Cultura até o dia 4 de dezembro. Em uma conversa informal com o público, os artistas irão revelar os detalhes de seu trabalho e esperam responder dúvidas da plateia sobre o processo de produção das esculturas. Para a Casa Fiat de Cultura, o bate-papo enriquece o repertório dos visitantes da exposição, ao evidenciar um processo complexo e minucioso, muitas vezes desconhecidos do grande público. 

 

A fundição da escultura em bronze é feita, atualmente, da mesma forma como foi inventada na Idade Média. Com o método adotado da cera perdida, uma escultura em bronze em tamanho natural leva de três a quatro meses para ser finalizada, em um processo que demanda oito etapas. O bronze é uma liga metálica normalmente constituída de aproximadamente 85% de cobre, 10% de estanho e o restante de chumbo e, por isso, tem a desejável propriedade de se expandir enquanto resfria, ressaltando todos os detalhes do molde. As grandes civilizações da antiguidade começaram a utilizar o bronze para a arte ao mesmo tempo que para a fabricação de armas como espadas e lanças. Mas, foi a partir da Renascença, quando o uso da pólvora demandou que fossem fundidos canhões cada vez maiores, que as estátuas de bronze começaram a ganhar refinamento e tamanho, seja com obras como Perseu segurando a cabeça da Medusa, de Cellini, ou A estátua equestre do Gattamelata, de Donatello.

 

Segundo Leo Santana, o bronze é um material de alta durabilidade e resistente às intempéries e à interação das pessoas. “O bronze é eterno e nunca vai deixar de ter importância, seja no sentido material ou no abstrato, pois a escultura faz parte do imaginário das pessoas desde a Antiguidade até hoje. Atualmente produzir arte contemporânea é uma tendência, mas como eu não sigo tendências, gosto de criar livremente, continuo criando minhas esculturas de bronze”, completa.  

 

Como são produzidas as esculturas em bronze

 

A escultura em bronze é feita, atualmente, da mesma forma como inventada na Idade Média, sendo um processo milenar, complexo e curioso. Na Fundição Artística Ana Vladia, em Contagem, o artista Leo Santana esculpe suas obras em oito passos: 

1.       A matriz de cada peça é feita em argila. Nesse estágio, define-se toda a criação: expressão, gestos, vestimentas, objetos e tudo o que sairá registrado ao final da obra.

2.       Forma de gesso: após finalizar a matriz de argila, inicia-se a construção da forma. Ela é feita de gesso, em módulos, para que possa ser montada e desmontada.

3.       Cópia de cera: com a forma pronta, tira-se uma cópia da peça em cera de abelha, com, aproximadamente, 7 mm de espessura. Tal cópia é oca e será preenchida com refratário, para ter resistência aos retoques feitos nesse estágio. Finalizado o retoque, a peça é envolvida pelo mesmo refratário, pelo lado de fora.

4.       A próxima etapa é o aquecimento constante do refratário, por vários dias (a depender da dimensão da peça). O aquecimento vai derreter (e evaporar) a cera, deixando seu espaço vazio.

5.       Fundição: após o derretimento da cera, o refratário é enterrado, deixando-se a boca de entrada acessível. Assim, o metal derretido é jogado pela boca de entrada, preenchendo toda a área oca onde estava a cera.

6.       Após o resfriamento do metal, quebra-se o refratário, chegando à peça fundida. A estimativa é que o peso final de um personagem em tamanho natural chegue a seis toneladas de bronze.

7.       Acabamento: uma peça fundida sai com muitas rebarbas, pequenos excessos ou falhas. Iniciam-se, então, os cortes das rebarbas, a lixa de acabamento e eventuais soldas.

8.       Oxidação: com a peça acabada, é feita a oxidação, uma forma de apressar o processo natural do tempo. São usados produtos químicos, ácidos que darão a aparência final, com base no que se pretende.

 

Leo Santana

 

O artista Leo Santana é mineiro de Teófilo Otoni e vive e trabalha, atualmente, em Belo Horizonte e Olinda, em Pernambuco. Formado em Publicidade e Propaganda e em Desenho Industrial, trabalhou como designer gráfico. Sua formação acadêmica deixou como marca o rigor no apuro das linhas e a visão tridimensional dos espaços. A partir de 1990, dedica-se às Artes Plásticas, especialmente à escultura e ao desenho, e inicia sua pesquisa em concreto celular, investindo na criação de peças de médio e grande porte, a exemplo da escultura “Davi vai ao banco”, instalada em São Paulo.

 

Em 26 anos de carreira, Santana já retratou mais de 50 pessoas em esculturas e desenhos, e é considerado o mais famoso escultor de personalidades do país. Suas obras podem ser encontradas nas principais cidades do Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Já realizou sete exposições individuais e conta com obras em 14 cidades brasileiras, no Nordeste, no Sudeste, no Centro-Oeste e no Norte. Internacionalmente reconhecido, o artista já realizou exposições nos Estados Unidos e na Alemanha, além de ter sua obra comercializada e exposta na Itália, em Portugal, Alemanha e EUA.

 

Fundição Artística Ana Vladia

 

Especializada na fundição de esculturas em bronze, a Fundição Ana Vladia está instalada desde 2002 em uma chácara em Contagem, Minas Gerais. Os diretores, Ana Vladia e Irineu Rodrigues, realizam parcerias com diversos artistas plásticos para fazerem, em conjunto, o processo artístico completo e o ofício de fundir e transformar arte em obra eternizada. Para marcar essa relação, convidam os artistas a assinar o molde de cera, em um processo minucioso que demanda igualmente de ambas as partes. 

Leo Santana foi o primeiro artista parceiro da fundição, ao criar em 2002 a obra “Drummond no Calçadão”, para a cidade do Rio de Janeiro. Nestes 14 anos, Ana Vladia e Irineu Rodrigues trabalharam com 10 importantes artistas, dentre eles: Alexandre Pinto, Carlos Fiorentini, Humberto Borem, Leopoldo Martins, Leo Santana, Luciomar, Manfredo Souzanetto, Marcos Paulo Rolla, Paulo Marques e Paulo Virgílio, com quem realizaram exposições, estátuas, monumentos, bustos e séries de obras.

 

Exposição “Do Outro Lado do Desenho – Leo Santana na Casa Fiat de Cultura”

 

Por meio de brincadeira que inverte processos artísticos, explora dimensões e recria movimentos humanos, o mineiro Leo Santana realiza exposição inédita em Belo Horizonte, na Casa Fiat de Cultura, até o dia 4 de dezembro. Com entrada gratuita, a mostra “Do outro lado do desenho” apresenta 51 obras, entre desenhos em grafite e esculturas em bronze, que traçam um paralelo entre o bidimensional e o tridimensional e revelam a produção autoral do artista.

 

Com curadoria do professor e artista visual Marcos Hill, a mostra apresenta outras facetas de Santana, sobretudo aquela nunca antes apresentada: o desenho. Apesar de mundialmente reconhecido pelas esculturas de personalidades – como a do escritor Carlos Drummond de Andrade, no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro –, o Leo Santana desenhista se apresenta com robustez e as obras em grafite sobre papel posicionam-se como resultado, e não como processo. Em movimento inverso, o desenho, que seria o princípio do processo de criação das esculturas, é feito a partir das esculturas prontas.

 

Foto: Tiago Malhas

Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.