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Fundação Clóvis Salgado lança livros dedicados à produção textual do cineasta Glauber Rocha

Obras trazem textos inéditos escritos por Glauber e outros críticos, além de primeira tradução em português do último roteiro escrito pelo cineasta baiano

Como desdobramento da mostra Glauber – Kynoperzpktyva 18, que esteve em cartaz no Cine Humberto Mauro em dezembro do ano passado, a Fundação Clóvis Salgado lança a dupla de livros Crítica Esparsa (1957-1965) e O Nascimento dos Deuses. As obras propõem um mergulho sobre o escopo crítico de Glauber Rocha e a respeito de suas obras, além de publicar, pela primeira vez em português, seu último roteiro escrito publicado em italiano em 1981. Às 17h, será exibido o longa-metragem Claro (1965), dirigido pelo cineasta. Após a sessão, haverá distribuição dos livros para o público presente, seguida de debate com o organizador Mateus Araújo, do crítico Arlindo Rebechi Junior e do escritor e professor Jacyntho Lins Brandão. O arquivo estará disponível, também, para download gratuito no site da Fundação Clóvis Salgado.

A publicação vem sendo elaborada pela Gerência de Cinema da FCS em colaboração com o organizador Mateus Araújo, doutor em filosofia pela UFMG/Sorbonne, professor de teoria e história do cinema da Escola de Comunicações e Artes da USP e pesquisador da obra de Glauber Rocha. Segundo Bruno Hilario, gerente do Cine Humberto Mauro, o lançamento tem o objetivo de contribuir de maneira fundamental para os estudos glauberianos. “Além disso, expandimos a fortuna crítica a respeito do cineasta baiano já publicada no Brasil, oferecendo um registro que reúne uma amostragem da produção textual de Glauber durante a juventude”, observa Bruno, ressaltando que os livros constituem um valioso arcabouço teórico de relevância nacional e internacional.

Composto por uma seleção das 30 primeiras críticas escritas por Glauber que não haviam sido incluídas nas coleções críticas Revisão Crítica do Cinema Brasileiro, Revolução do Cinema Novo e O Século do Cinema, o livro Crítica Esparsa (1957-1965) discute aspectos das publicações glauberianas e inclui bibliografia atualizada com o levantamento das publicações brasileiras e internacionais a respeito do cineasta. Estima-se que Glauber possua cerca de 1000 publicações, entre livros, artigos, entrevistas e até mesmo notas e declarações, colocando-o em lugar de destaque com uma coleção de publicações abundante, constante e diversificada.

Segundo o organizador Mateus Araújo a pesquisa buscou privilegiar as zonas de sombra a respeito da produção glauberiana. “Embora Glauber tenha recolhido em três livros muito conhecidos parte de sua atividade crítica, muito material não foi publicado em livros. Dos mais de mil textos levantados, escolhemos 30 que pareciam representar essa coleção de alguma forma”, explica Mateus, que, juntamente da equipe de pesquisadores, mergulhou no processo editorial por um ano até sua finalização.

A publicação reúne, também, textos inéditos sobre a crítica de Glauber Rocha assinados por Arlindo Rebechi Junior, Claudio Leal e o organizador Mateus Araújo, além de uma bibliografia atualizada com o levantamento das publicações brasileiras e internacionais a respeito do cineasta. “Não conseguimos cobrir toda a totalidade da produção do Glauber no levantamento bibliográfico, mas alcançamos um grau de completude muito grande, um trabalho que seria impossível não fosse pelos estudiosos que vieram antes de nós”, celebra Mateus.

Aporte substancial para pesquisadores do tema, o levantamento quase triplica a mais detalhada bibliografia glauberiana até então, incluindo produção italiana raríssima e datada de trinta anos atrás. “Esse levantamento constitui um registro fundamental para o cinema brasileiro e será uma ferramenta importantíssima para futuras pesquisas e desdobramentos”, avalia Bruno.

Já o segundo volume, O Nascimento dos Deuses, contém a tradução em português do roteiro homônimo escrito em italiano por Glauber Rocha, traduzido pelo professor Jacyntho Lins Brandão e publicado pela primeira vez no Brasil. A publicação do roteiro integral será acompanhada dos textos inclusos na edição original em italiano, publicada pela Editora RAI, do canal televisivo de mesmo nome, além do texto crítico do tradutor e pesquisador Jacyntho Lins Brandão. A obra foi uma encomenda do canal de televisão para que Glauber, na época em exílio, produzisse um filme histórico a partir da Ciropédia e da Anábase de Xerofante. Com duração de seis obras, o filme seria dividido em duas partes.

O longa-metragem nunca chegou a ser gravado e a única versão conhecida do roteiro foi publicada em italiano em 1981, quando Glauber já estava próximo de sua morte, de maneira que o texto foi pouquíssimo discutido entre os pesquisadores e permaneceu à margem. “Considerei de muita importância que não só integrar esse roteiro ao nosso continente, tonando-acessível aos brasileiros, como também que fosse objeto de exame de um estudioso da antiguidade, não para checar se a visão do Glauber foi factual, mas para enxergar o que havia de original em sua abordagem”, conta Mateus, que convidou o professor emérito da UFMG e especialista em antiguidade Jacyntho Lins Brandão para integrar o livro com um ensaio.

Kynoperzpektyva 18 – No ano passado, a mostra do CHM reuniu 17 obras de Glauber Rocha, principal nome do Cinema Novo brasileiro, além da exibição de sessões estrangeiras que dialogam com as obras do cineasta baiano. A nomenclatura Kynoperzpektyva 18 faz alusão à proposta de uma mostra dedicada a Glauber Rocha, planejada pela Cinemateca Portuguesa no período em que o diretor residia em Sintra, vila na região metropolitana de Portugal. O nome original era Kynoperzpektyva 81, devido ao ano que foi idealizada, 1981 – o mesmo da morte de Glauber. A inversão dos números coube à Gerencia do CHM, que adaptou para o ano corrente, 2018, em que o Cine também completava 40 anos.

Mateus Araújo – Doutor em filosofia (UFMG/Sorbonne) e professor de teoria e história do cinema na ECA-USP. Organizou ou co-organizou os volumes Glauber Rocha/Nelson Rodrigues (Magic Cinéma, 2005), Jean Rouch 2009: Retrospectivas e Colóquios no Brasil (Balafon, 2010), Straub-Huillet (CCBB, 2012), Charles Chaplin (Fundação Clóvis Salgado, 2012), Jacques Rivette (CCBB, 2013), Godard inteiro ou o mundo em pedaços (CCBB/Heco, 2015) e O cinema interior de Philippe Garrel (CCBB, 2018).

Jacyntho Lins Brandão - Professor emérito de língua e literatura grega da Universidade Federal de Minas Gerais e membro da Academia Mineira de Letras. Publicou, dentre outros, os ensaios A invenção do romance (Editora UnB) e Antiga Musa: arqueologia da ficção (Relicário), os romances Relicário (José Olympio) e O fosso de Babel (Nova Fronteira), além de traduções do grego e do acádio: Como se deve escrever a história de Luciano de Samósata (Tessitura), Ele que o abismo viu: epopeia de Gilgámesh (Autêntica) e Ao Kurnugu, terra sem retorno: descida de Ishtar ao mundo dos mortos (Potter).

Arlindo Rebechi Junior - Doutor em Literatura Brasileira (FFLCH/USP), com uma tese sobre os escritos de Glauber Rocha, e docente do Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC/UNESP), onde também atua no Programa de Pós-Graduação em Comunicação. Em Paris, na Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3, realizou estágio de pesquisa, com financiamento da FAPESP, sobre a recepção crítica francesa dos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe.

Foto: Glauber Rocha

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