Eventos

MOSTRA JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO

Rua Estrela do Sul, 89 - Santa Tereza, Belo Horizonte

Cine Santa Tereza

(31) 3277-4699

Gratuito

Sábado, 27 de abril, às


Refletir criticamente sobre a primeira década de produção audiovisual de um dos mais importantes cineastas brasileiros é um dos motes da mostra JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO, que acontece de 24 de abril a 3 de maio em três espaços culturais de Belo Horizonte. Com curadoria e realização dos cineastas Álvaro Andrade e Vinícius Andrade, a mostra privilegia trabalhos em vídeo a partir de um recorte atento aos processos históricos presentes na obra do realizador mineiro e está dividida em três campos temáticos: “Vanguarda das Lutas: Mulheres Negras na Conquista de Direitos”, “Movimentos Negros: Faces de uma Luta Coletiva” e “Das Fábricas às Ruas: Memória e Atualidade das Lutas Trabalhistas no Brasil”. As sessões acontecem no Centro Cultural Vila Santa Rita, nos dias 24 e 25 de abril, a partir das 17h30; no Cine Santa Tereza, de 26 a 28 de abril, com aula magna de Joel Zito Araújo em 26 de abril, às 19h, e presença de intérprete de libras; e no Centro Cultural Zilah Sposito, nos dias 2 e 3 de maio. Toda programação é gratuita. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, por meio do Edital BH nas Telas, na modalidade Fundo.

O que vemos, o que nos olha: um olhar sobre os movimentos sindicais e o negro no Brasil

Ao todo, nove trabalhos do cineasta serão exibidos de forma inédita em Belo Horizonte. Os filmes apresentam a primeira fase da carreira de Joel Zito Araújo, que compreende o período de 1987 a 1997. As obras abordam questões importantes sobre a cultura brasileira, como os movimentos sindicais da época e jogam um olhar sensível e minucioso acerca de temas ligados às questões raciais no Brasil. “Considero meus trabalhos iniciais como um exercício cinematográfico, um modo de aprender a fazer cinema. As obras em vídeo presentes na mostra hoje são vistas como um ponto importante da concepção artística do cinema nacional. Foi uma fase em que trabalhei muito a perspectiva de unir o cinema documental e a ficção. Os trabalhos estão em consonância com as disputas políticas e culturais que assolavam e ainda assolam as minorias no Brasil”, explica Joel Zito Araújo.

A mostra JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO vai contar com uma aula magna do diretor, com presença de intérprete de libras, no dia 26 de abril, às 19h, no Cine Santa Tereza. A roda de conversa traz o grupo de pesquisa Poéticas da Experiência. Na data, será lançado o catálogo da mostra. Todas as sessões da mostra serão comentadas e terão como debatedores os pesquisadores Ewerton Belico, Alessandra Brito, Nicole Batista e Edinho Vieira.

De acordo com Álvaro Andrade, curador da mostra, os filmes exibidos possuem uma aliança entre Joel Zito Araújo com algum movimento social da época e trazem um olhar crítico sobre os problemas que permearam e ainda permeiam a sociedade brasileira. “Há um alinhamento político assumido entre ele e os movimentos sociais. Um dos mais importantes filmes de sua trajetória, e que está presente no recorte a ser exibido em Belo Horizonte, é o trabalho A exceção e a regra (1997), em que Joel traz um olhar para as questões raciais ao retratar a luta de Vicente do Espírito Santo. No trabalho, o realizador mostra como o racismo custou o emprego do trabalhador e como as instâncias judiciais trataram o caso”, aponta Álvaro.

As primeiras obras de Joel Zito Araújo, em sua maioria em vídeo, foram realizadas a partir de uma política feita do encontro do diretor com os movimentos sociais e organizações populares, que não só aparecem, mas são sujeitos e parceiros dessa produção junto com Joel. “Foram filmes que circularam muito no chão de fábrica, nas redes de TV dos trabalhadores, fora do circuito comercial. Foram filmes que fizeram parte da luta racial e da classe operária”, pontua Vinícius Andrade, curador da mostra.

Primeiro trabalho de Joel Zito Araújo, “Nossos Bravos” (1987), também está presente na mostra. O filme, considerado pelo diretor um docu-drama, reconstitui as movimentações trabalhistas no início do século 20, apresentando a formação do sindicalismo brasileiro a partir das lutas de operários. “Percebo minha ousadia jovem ao realizar essa obra. Bato na porta de grandes atores e atrizes, como Lélia Abramo e Dionísio Azevedo, com o objetivo de trazê-los para o filme. Junto a um elenco brilhante lanço mão de um modo de dispositivo da ficção e mesclo com a informação documental para refletir sobre a luta dos operários negros no Brasil. Sinto orgulho desse trabalho”, avalia Joel Zito Araújo.

“Retrato em Preto e Branco” (1992) também está contemplado na curadoria da mostra. O curta-documentário é estruturado como uma vídeo-carta de um homem negro denunciando a persistência do racismo na sociedade e na mídia brasileira. “Esse foi meu primeiro trabalho que chamou a atenção da imprensa nacional e da cobertura especializada. Fui convidado para alguns festivais internacionais na Europa. O trabalho traz um homem negro falando sobre a situação racial no Brasil para o exterior, mandando uma carta para um amigo no exterior. Aproximadamente seis mil escolas adotaram o curta como material didático”, explica Joel.

Além de “A exceção e a regra”, “Nossos Bravos” e “Retrato em Preto e Branco”, a mostra apresenta “Memórias de classe” (1989), um documentário sobre o cotidiano e a luta dos trabalhadores da geração dos anos de 1930 no Brasil, trazendo, por meio das memórias de uma feminista e quatro sindicalistas, as diversas faces da experiência de organização dos trabalhadores. “Almerinda, uma mulher de trinta” (1991), também é um dos vídeos presentes na mostra e resgata a história de vida da militante feminista dos anos 1930 Almerinda Farias Gama, participante da luta pelo direito de voto da mulher, na Constituinte de 1934, e ativista da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, junto a Bertha Lutz. O vídeo “São Paulo abraça Mandela” (1991), em que o realizador documenta a visita de Nelson e Winnie Mandela à capital paulista, registrando o seu encontro com a comunidade negra e os movimentos sociais atuantes na cidade também será exibido. Assim como “Alma negra na cidade” (1991), em que Joel retrata a afirmação da comunidade negra no espaço urbano de São Paulo e traz dois cantores, um poeta, uma empresária, uma empregada doméstica, uma mãe de santo e um jovem, todos afro-brasileiros, contando suas origens, trajetórias de vida, sonhos e angústias. O trabalho “Homens de rua” (1991), obra em que Joel joga luz sobre as vivências de homens e mulheres obrigados a sobreviver nas ruas de São Paulo, retratando a vida de pessoas que perderam os trabalhos, se distanciaram dos afetos e tiveram suas identidades desintegradas também está presente na seleção. Ainda será exibido a obra “Eu, Mulher Negra” (1994), trabalho que traz imagens e vozes que carregam a experiência de diferentes mulheres negras, tendo como eixo os problemas e desafios enfrentados com o cuidado com saúde reprodutiva feminina.

Ver e poder: entre a vanguarda artística e a visibilidade

Nascido em Nanuque, na mesorregião do Vale do Mucuri, no Norte de Minas Gerais, Joel Zito Araújo é um dos principais nomes do audiovisual brasileiro. O realizador conquistou inúmeros prêmios no Brasil e vem sendo exibido nos principais festivais do mundo, como o “IFFR – International Film Festival Rotterdam”. “Apesar de ser uma referência e um dos mais importantes cineastas de sua geração, os primeiros trabalhos de Joel Zito ainda são pouco conhecidos do público em geral”, comenta Vinícius Andrade.

De acordo com Álvaro Andrade, a mostra é uma oportunidade de as novas gerações entrarem em contato com a obra do realizador, entender a estética e a importância do diretor para o cinema, para a cultura brasileira e suas contribuições para os movimentos sindicais, operários e negro. “Sou de uma cidade próxima da cidade natal de Joel e me espantou ver que ele é pouco conhecido em sua própria região. Nesse momento, nasce a ideia de fazer uma mostra sobre a trajetória dele. É importante que o trabalho dele seja visto e reconhecido atualmente, mesmo porque ele segue realizando trabalhos importantes e sua narrativa cinematográfica tem muito a ver com os problemas contemporâneos”, pontua Álvaro.

Todos os filmes exibidos na mostra possuem cópias digitalizadas, a maioria delas digitalizadas pelos curadores Vinícius Andrade e Álvaro Andrade diretamente das fitas originais. As obras presentes na seleção serão disponibilizadas aos dois espaços culturais que abrigam as exibições e ao acervo do Cine Santa Tereza. Os trabalhos também serão cedidos para escolas públicas de Belo Horizonte.

No segundo semestre deste ano, a mostra JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO ganhará quatro edições na região que compreende o norte de Minas Gerais e o extremo sul da Bahia, região onde nasceu e viveu até a juventude Joel. “Vamos realizar a mostra em Teixeira de Freitas e Lajedão, na Bahia, e em Nanuque e Serra dos Aimorés, em Minas Gerais. O objetivo é contribuir para a visibilidade de uma obra cinematográfica tão importante, de um dos realizadores do audiovisual mais relevantes do país, e que viveu e cresceu nessa região”, diz Álvaro Andrade.

JOEL ZITO ARAÚJO nasceu em 1954, entre as cidades de Nanuque (MG) e Lajedão (BA), e começou sua carreira nos anos 1980, em São Paulo (SP), realizando trabalhos em vídeo, nove deles exibidos na mostra “Joel Zito Araújo: uma década em vídeo”. Em 1999, lança seu primeiro longa-metragem, O efêmero Estado União de Jeovah, sobre uma revolta camponesa liderada por Negros no norte do Espírito Santo, mas é com A Negação do Brasil (2001) que alcança notoriedade. Premiado como melhor filme no “É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários”, o trabalha trata do personagem Negro nas novelas brasileiras, tornando-se uma referência. Seu primeiro longa ficcional, As Filhas do Vento (2004), ganha oito Kikitos no “Festival de Gramado”, e prêmio de melhor filme pelo público na “Mostra de Cinema de Tiradentes”. Na semana de lançamento no GNT, 1,5 milhão de espectadores assistem o documentário Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado (2009), e Raça (2013), codirigido por Megan Mylan, que traça um painel do debate racial no Brasil contemporâneo, participa de importantes festivais em todo o mundo. Meu Amigo Fela (2019), seu longa mais recente, estreou no “IFFR – International Film Festival Rotterdam”, e foi premiado no “FESPACO/ Burkina Faso” e no “Festival É Tudo Verdade”. Seu novo trabalho, O Pai da Rita, está em finalização.

FICHA TÉCNICA | MOSTRA JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO
Joel Zito Araújo | Filmes e Aula Magna
Álvaro Andrade e Vinícius Andrade |Curadores
Vinícius Andrade | Produção Executiva e Gestão Financeira
Lygia Santos | Produtora
Alessandra Brito, Edinho Vieira e Ewerton Belico | Debatedores
Nicole Batista | Palestras
André Victor e Ana Cecília Souza | Design
Marcus Vinicius Borges | Assessoria de Imprensa e Mídias sociais
Regiane Abelha e Nicoly Lima | Mobilizadoras
Álvaro Andrade | Registro audiovisual
Rosane Lucas e Christiane Miranda | Libras

MOSTRA JOEL ZITO ARAÚJO: UMA DÉCADA EM VÍDEO
Datas, locais e horários:
24 e 25 de abril | Centro Cultural Vila Santa Rita | Rua Ana Rafael dos Santos, 149 - Vila Santa Rita, Belo Horizonte/MG
26 a 28 de abril | MIS Cine Santa Tereza | Rua Estrela do Sul, 89 - Santa Tereza, Belo Horizonte/MG
02 e 03 de maio | Centro Cultural Zilah Spósito | Rua Carnaúba, 286 - Zilah Sposito, Belo Horizonte/MG
Entrada gratuita

Foto: Divulgação


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