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Teatro EmMov Digital estreia montagem criada por Yara de Novaes, especialmente para o ambiente digital

'(Des)memória' - a partir de 10 de janeiro. Na estreia vai ao ar um bate-papo sobre a experiência com Mariana Lima Muniz (artista e professora da UFMG), Lucas Costa (assistente de direção e ator do espetáculo) e Yara.

Festival responsável pela circulação de espetáculos teatrais por mais de 15 cidades brasileiras, o Teatro em Movimento chegou ao 19º ano com um obstáculo que parecia intransponível: o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. Em pouco tempo, o evento – idealizado por Tatyana Rubim – driblou o desafio e se transformou em Teatro EmMov Digital, plataforma pioneira que incluiu um Curso de Formação em Teatro Digital, uma websérie produzida por artistas de teatro (#Quarentemas) e três montagens teatrais inéditas, que chegam ao ambiente digital entre dezembro e janeiro. Esta última etapa do projeto foi batizada como CenaWeb e tem a coordenação de Tatyana Rubim e de Mariana Lima Muniz, professora da UFMG com pós-doutorado em Teatro e Internet.

Barbara Paz, Cacá Carvalho e Yara de Novaes assumiram o desafio de criar três projetos novos e concebidos especialmente para a internet. O trabalho teve início a partir de uma imersão com o artista multimidiático Matías Umpierrez, referência mundial pelo trabalho criado a partir de teatro, vídeo e intervenções urbanas. O período foi fundamental para a definição dos temas e das pesquisas que os três artistas começariam.

Desde então, foram produzidos três trabalhos que dialogam com o universo digital e o atual mundo pandêmico de formas distintas. Através de recursos como a transmissão ao vivo, as narrativas dos games e as relações entre teatro e audiovisual, as montagens chegarão aos espectadores de forma gratuita pelo site do Teatro em Movimento.

‘Ítaca, 365, apto 23’ (Cacá Carvalho), ‘Ato’ (Barbara Paz) estrearam respectivamente nos dias 7 de dezembro, 8 de dezembro. E ‘(Des)memória’ (Yara de Novaes) vai estrear no próximo domingo, 10 de janeiro. ‘Ato’ ficará disponível na plataforma até o dia 8 de janeiro.

‘Estamos fazendo o teatro do possível. É teatro porque são pessoas do teatro e, ao mesmo tempo, exploramos as diversas teatralidades existentes no universo digital e sua capacidade de manipulação e transformação, permitindo uma interação diferenciada com o espectador. Não é só colocar uma peça na web, mas explorar a web como linguagem em suas especificidades’, reflete Mariana Lima Muniz. ‘Foi preciso entender este novo ambiente, trazer os profissionais certos e produzir algo novo para um público que também deve ser considerado um ‘novo espectador’, por se comportar de modo diferente do presencial. É o desafio de construir o novo para o novo normal’, complementa Tatyana.

O Teatro EmMov Digital conta com os patrocínios da Cemig, Instituto Unimed-BH (através do incentivo de mais de 5,1 mil médicos cooperados e colaboradores) e apoio do Itaú, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, do Ministério do Turismo.

Sobre as montagens:

‘(Des)memória’ – Yara de Novaes cria um inédito jogo teatral virtual para investigar o passado familiar e refletir sobre representatividade e embranquecimento no Brasil

Há algum tempo, Yara de Novaes se surpreendeu com uma foto da bisavó que estava em uma caixa recebida de seu pai e jamais aberta: era uma senhora negra, no final do século XIX, e estava vestida como sinhá. A história ficou adormecida e, ao receber o convite para integrar o CenaWeb, ela resolveu usá-la como ponto de partida para uma investigação dos antepassados, visando entender o processo de embranquecimento sofrido por sua família desde então.

Para montar o quebra-cabeça familiar embaralhado entre dados oficiais, lacunas e memórias, Yara estruturou sua montagem através da linguagem dos games, apostando em uma interação radical com os espectadores. ‘No teatro jogamos o tempo todo um jogo que não acontece somente no palco e que se completa através de um pacto com quem está assistindo’, reflete a atriz e diretora, que ressalta as muitas possibilidades dramatúrgicas que este novo universo trouxe.

Durante a experiência, o espectador poderá optar por pistas que os levarão para cenas gravadas, entre diálogos, depoimentos e narrações feitas pela diretora e um elenco formado especialmente para a ocasião. Além da equipe artística, Yara contou com experientes profissionais do universo digital, que se tornaram indispensáveis em toda a criação do ‘game arte’, termo que criou para designar o novo gênero.

O projeto foi batizado como ‘(Des)memória’, neologismo presente em um poema da atriz e diretora mineira Elisa Santana. ‘A partir de herança e memória, ‘(Des)memória’ reflete sobre racismo e faz pensar o Brasil de hoje. A nossa pesquisa investiga coisas que lembramos e também aquelas que precisaram ser esquecidas. Para seguir em frente é preciso olhar para trás, usando a noção de que o tempo é espiralado, tudo estará sempre interligado’, analisa Yara.

O processo teve cenas gravadas em endereços icônicos, como a sede do grupo teatral Espanca!, conhecido pela luta por representatividade, e a Praça Minas Gerais, no centro de Mariana (MG), cidade cujo rompimento da barragem em 2015 atingiu em sua maioria a população preta e evidenciou ainda mais o racismo estrutural no país. Esta locação é a primeira imagem vista pelo espectador – ou jogador – ao acessar ‘(Des)memória’. A partir de então, ele poderá escolher o caminho pelo qual pretende percorrer durante a sessão.

‘Dos três projetos este é o que mais radicaliza na questão digital. Apesar de ser gravado previamente, esta montagem traz uma experiência única, assim como no teatro presencial. O diferencial é que o espectador participa ainda mais ativamente, em uma relação de intimidade muito próxima’, analisa Mariana Lima Muniz, responsável pela coordenação do Cena Web ao lado de Tatyana Rubin, idealizadora do Teatro EmMov Digital.

Foto: Murilo Basso

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