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Espetáculo “Nos porões da loucura” tem única apresentação na 44a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte

Baseado no livro homônimo de Hiram Firmino, espetáculo resgata de forma sensível e bastante intensa, a trajetória do Hospital Psiquiátrico de Barbacena. A montagem pode ser conferida no dia 26 de janeiro, no Grande Teatro do Sesc Palladium

Baseado na obra homônima de Hiram Firmino, o espetáculo “Nos porões da loucura” adapta a série de reportagens publicadas pelo Jornal Estado de Minas, no ano de 1979 e reunidas em livro pelo autor, em uma montagem teatral que resgata o horror vivido pelos pacientes portadores de sofrimento mental ou simplesmente os indesejados pela sociedade. Com dramaturgia e direção de Luiz Paixão, “Nos Porões da Loucura” terá uma única apresentação, no dia 26/01, às 20h30, no Grande Teatro do Sesc Palladium.

 

Com cerca de 60 mil mortos desde sua fundação, em 1903, o Hospital Psiquiátrico de Barbacena se configura como uma das maiores manchas na história de Minas Gerais e do Brasil. Com inúmeros casos de negligência, abandono, crueldade e indiferença, sua trajetória foi retratada na série de reportagens do jornalista Hiram Firmino, logo depois reunidas em uma única publicação. Decisivo para a luta antimanicomial e para a reforma psiquiátrica, o livro foi vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo no ano de 1980: “A série de reportagens do Hiram deve sempre ser lembrada pela sua importância histórica e, sobretudo, de como colocar o jornalismo a serviço da dignidade humana. Foi a partir dele que surgiram outras obras que aprofundaram a discussão, abordando outros aspectos muito importantes também.”, destaca Luiz Paixão.

 

Firmino destaca a riqueza do espetáculo e a importância de sua montagem décadas depois da série de reportagens e em um delicado momento do país: “Achei a peça fortíssima, densa e essencial, a ponto de não precisar de outros recursos cênicos. Estou orgulhoso do trabalho e competência do diretor Luiz Paixão, que conseguiu traduzir de maneira verdadeira, seca, visceral e comovente as crueldades que, somente no Hospital-Colônia de Barbacena, condenaram a morte mais 60 mil pessoas consideradas loucas ou não. Montagens como essa, com um elenco e uma direção mais reais impossíveis, nos dizem: ‘Esquecer, jamais. E rememorar sempre, para não se repetir.’”.

 

Além do apoio em outras referências bibliográficas, como trabalhos acadêmicos e o livro “Holocausto brasileiro,” de Daniella Arbex, a equipe também contou com a assistência da equipe de profissionais do Hospital Raul Soares. Representantes da instituição acompanharam ensaios, prestaram consultoria com relação à caracterização das personagens e prestaram todos os apoios solicitados durante o processo de pesquisa e produção da montagem. Sobre essa colaboração, Luiz comenta: “Todos ali abraçaram o projeto, compreendendo a importância de se discutir, no âmbito do teatro, um dos mais graves e terríveis eventos da nossa história. Barbacena é um ponto de partida para se discutir não só o tratamento de portadores, mas discutir também os cruéis métodos de degradação do ser humano.”.

 

Para a construção das personagens dos internos, o diretor propôs uma pesquisa das fotos de pacientes do Hospital de Barbacena presentes em livros. Cada um dos 9 atores do elenco escolheu uma imagem e, a partir de uma postura corporal, elaborou sua personagem. Os figurinos da montagem são assinados pelo estilista Ronaldo Fraga, elaborados a partir de uma pesquisa estética e também histórica. A trilha sonora é assinada por Marcus Viana, um dos principais compositores de música instrumental brasileira, responsável pelas trilhas de diversas novelas, como “Pantanal” e “O Clone” e “A Casa das Sete Mulheres”, e dos filmes “Olga”, “Filhas do Vento” e “O Mundo em Duas Voltas”.

 

Na esfera da interpretação, tomou-se um grande cuidado para não cair na emoção melodramática ou na crítica leviana e irresponsável, facilmente permitidos pelo tema. O diretor optou, assim, por duas instâncias de abordagem e concepção cênica, em uma relação dialética de aproximação e distanciamento, que pretende equilibrar e conduzir o público à emoção, mas, também, a ter uma visão crítica da história do Hospital de Barbacena. Sobre isso, Paixão destaca: “Discutir um tema tão delicado como esse, nos exigiu bastante cuidado, e, sobretudo, respeito absoluto com a memória dos que ali morreram e com os que estão vivos. Nos meus quase quarenta anos de teatro, nunca me cobrei tanto como agora. Cobrança estética, política e ideológica. Não se pode ser irresponsável quando se trata da degradação, da desumanização, da verdadeira animalização de pessoas que foram jogadas, sem nenhum cuidado, sem nenhum respeito humano, num hospital que deveria cuidar delas e, simplesmente, as maltratou. O Estado não cumpriu sua responsabilidade com essas pessoas. Agora, cabe a nós, artistas, cuidar para que essa história não seja esquecida para que não se repita jamais. Nossa responsabilidade é enorme, e dela não fugimos.”.

 

Sinopse

Baseado no livro homônimo de Hiram Firmino, conta a trajetória do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, onde cerca de 60 mil pessoas morreram desde a sua fundação, em 1903. Os pacientes, funcionários, famílias e sociedade são retratados em cenas. O pátio do Colônia, destino de tantos excluídos, testemunhou distintas histórias de lutas, sofrimentos, abandonos, solidariedade e esperança, transforma-se em cenário para a trama. A dignidade humana ganha status de luxo e o básico, negado ao ser humano. A reconstrução da história pela arte assegura a metodologia do espanto frente a dor do semelhante. Por uma sociedade sem manicômios.

Foto: André Fossati.

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