Notícias

Di Souza: de maestro do Então, Brilha! a multiplicador de blocos do Carnaval de BH

Além de comandar com afeto a bateria do Brilha, o artista mineiro .participa de outros cinco blocos e ainda influi ativamente na formação musical da folia com sua escola, a Percussão Circular; paralelo ao Carnaval, Di Souza prepara ainda seu segundo disco

Se você conhece o Carnaval de rua de Belo Horizonte, muito provavelmente está familiarizado com a imagem de Christiano de Souza comandando a bateria dourada e rosa choque do Então, Brilha!. Com sua vasta cabeleira loira cacheada e sua característica sunga, Chris, para os amigos, ou Di Souza, seu nome artístico, orienta com afeto e alegria os mais de 200 batuqueiros de um dos icônicos blocos do reflorescimento da folia momesca de BH. Mas a história do polivalente artista mineiro no Carnaval de BH vai hoje muito além da regência do Então, Brilha!.

Compositor, multi-instrumentista, arranjador e professor, também é maestro dos blocos É o Amor, Abre-te Sésamo, Circuladô (formado por alunos de sua escola, a Percussão Circular) e Haja Amor (de Divinópolis). O carnavalesco também fundou o Pisa na Fulô, primeiro bloco de forró do Brasil. “Foi o primeiro bloco que formei depois da experiência com o Brilha, e na companhia de pessoas que faziam aula de percussão comigo. Atualmente não faço mais parte, por escolha própria, mas guardo com muito carinho essa memória”, relembra.

“Acho que meu lugar é cada vez mais o da provocação, da criatividade. A gente vai ficando mais velho e não dá conta de estar presente em tantos espaços, em tantos grupos”, continua, lembrando a importância da formação musical. “Nessa ideia de multiplicar, a Percussão Circular chega com muita força. Quando surgem novos blocos, já estão minados pela experiência das pessoas que passaram pela escola”.

Di Souza sabe bem a importância transformadora da formação musical. Afinal, foi por meio dos blocos de rua e ONGs que teve a oportunidade exercer sua aptidão profissional. “Minha história com o Carnaval de rua começou na minha cidade natal, Piedade de Ponte Nova, quando aos seis anos de idade entrei para o Bloco do Golo, tocando meu surdinho”, recorda. “Já em BH, os projetos sociais me deram a oportunidade de fazer escolha, o que não acontece sempre com vive na periferia”, afirma o artista, que foi aluno e professor das ONGs Corpo Cidadão e Querubins, na comunidade da Vila Acaba Mundo, em Belo Horizonte, onde viveu na infância.

Carnaval de BH

Foi na Praia da Estação que Di Souza teve seu primeiro contato com o a efervescência política que motivou o reflorescimento do Carnaval de rua de BH. “Tudo começou a proliferar a partir dali”, afirma o artista, que foi convidado para reger o Então, Brilha! em 2012 – o que mudaria de vez sua trajetória. “O Brilha não é só o bloco mais importante da minha vida como a instituição mais importante pela qual já passei e tive a oportunidade, mesmo que simbolicamente, de presidir. O Brilha me abriu as portas para a cidade; me colocou num pedestal que é o apito; num palco, que é o trio; num holofote, que é a rua, onde pude mostrar meu talento”, celebra.

O artista ressalta que o holofote do Então, Brilha! ilumina até mesmo outras cidades. “Certa vez, dei um curso de regência carnavalesca e veio gente de Montes Claros e até de Divinópolis, onde fundei o Haja Amor, primeiro bloco de axé com bateria da cidade”, conta. “Em 2015, fizemos um show com a banda do Então, Brilha! em Montes Claros e, quando voltamos, em 2016, tinham surgido dois blocos, inspirados por essa apresentação de um ano antes”, completa.

Para Di Souza, o Carnaval de rua de BH tem democratizado a experiência musical, mesmo que de uma maneira ainda segmentada. “Claro que falar em democratizar é algo perigoso, porque esse Carnaval ainda é restrito à classe média. A periferia está imersa em outros carnavais”, pontua. “Mas a gente pode dizer que, ao longo dos anos, temos uma tentativa de democratizar o acesso à música. E isso está reverberando no surgimento de escolas, de novos professores, gerando renda, e por aí vai”.

Artista polivalente

Além da maratona carnavalesca que marca o início do ano, Di Souza também prepara o lançamento de seu segundo disco solo, o sucessor do elogiado “Não Devo Nada Pra Ninguém” (2015). O álbum, cujas bases foram gravadas em novembro, termina de ser concebido em fevereiro de 2020 e deve sair no segundo semestre, com direito a clipes e show de lançamento.

Segundo o artista, o disco terá “uma tonalidade muito festiva e crítica ao mesmo tempo”. “Vai tocar em questões como o moralismo, a prepotência linguística da comunidade intelectual”, sublinha. “Pretendo lançar singles com clipes, antes do disco cheio, e também fazer um show de lançamento com a potência cênica que marca o meu trabalho”, completa, ressaltando que o álbum está sendo gravado no Estúdio Motor, em Belo Horizonte.

“Vai ser um disco mais consistente, um processo mais estruturado. A sonoridade está mais limpa, mais pop. Têm alguns funks, um rock, um pouco de brega também. Um disco com muitas guitarras e beats eletrônicos”, afirma Di Souza, lembrando que o álbum foi financiado pela empresa de um batuqueiro de Divinópolis, que aprendeu a tocar com ele, no Carnaval. “Aprovamos o projeto na lei estadual e não estávamos conseguindo patrocínio. Até que esse batuqueiro, muito querido, disse que sua empresa queria patrocinar. Fico muito gratificado por essa sorte que tive”, afirma.

Paralelo à carreira de cantor e compositor, Di Souza atua como percussionista, tendo já gravado em mais de 25 discos e integrado cerca de 15 bandas da cena musical independente de BH. Como diretor musical, assinou três álbuns e três shows de novas bandas. Como educador, possui 15 anos de bagagem em diversos projetos formativos em Minas Gerais. Em 2013, fundou sua própria metodologia de educação musical, que desaguou na Percussão Popular. A escola, hoje com sede própria e mais de 200 participantes, realizando eventos e oficinas de musicalização e percussão.

Foto:Lucas Hallel

Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.