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A arte pode auxiliar a ressignificar uma tragédia? Quatro anos após Mariana e um ano após Brumadinho por que ainda falar do que aconteceu?

Atual e necessária a obra reúne fragmentos documentais e ficcionais sobre o impacto humano do desastre e segue se atualizando diante da avalanche diária de notícias.

Após 4 anos do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, e um ano do rompimento da Barragem de Brumadinho seguimos impactados e na a iminência do que mais virá. Brumadinho convive hoje com sete das 46 barragens com elevada probabilidade de rompimento segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Diante desse cenário o Grupo Teatro Andante segue em reflexão e acreditando que contar essa história é uma maneira de contribuir para que ela não seja esquecida. Contar Mariana é contar Brumadinho. Contar Brumadinho é contar Mariana.

Por que fazer o espetáculo LAMA? A arte é um interessante lugar de memória coletiva, que permite lidar com as histórias vividas de maneira simbólica e poética. Faz com que os sentimentos sobre as situações vividas sejam ressignificados e se coloquem em movimento. É pensando nisso que o Grupo Teatro Andante criou o LAMA a partir de intensa pesquisa durante mais de um ano sobre o incidente da Barragem de Fundão e de experimentação que mescla diversas linguagens artísticas entre música, teatro e audiovidual, o espetáculo tem direção de Marcelo Bones e é encenado por Ângela Mourão, Bruna Sobreira e Thiago Amador (ator convidado). Em cena o resultado são estratégias artísticas para tratar dessas histórias que não devem ser esquecidas e estão em contínua ressignificação.

“Estamos falando de relações humanas e do impacto do indivíduo sobre o ambiente em que se insere e vice-versa. Segue sendo uma responsabilidade levar esse trabalho ao público de Minas Gerais e segue sendo um desafio atualiza-lo diante da avalanche de notícias e informações que temos a cada dia”, analisa o diretor.

LAMA integra a programação da 46ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança dos dias 11 a 14 de fevereiro (terça a sexta-feira), às 20h no Palácio das Artes. A temporada conta com ingressos a preços populares da campanha, tem apoio da Fundação Clóvis Salgado e realização do Grupo Teatro Andante.

Sobre o espetáculo

História que não pode ser esquecida

O que nós podemos fazer por essa memória? O que nós podemos fazer para dar um basta neste tipo de desastre que leva à tragédia de tanta gente soterrada e de catástrofes ambientais? De que forma isso nos afeta? Como lidamos com essa situação? Lidamos? Essas foram as indagações presentes no processo criativo dos atores. “Estamos a pouco menos de 200 km do rio Doce e a 50 Km do Paraopeba, já não temos mais como nos deixar esquecer e seguir em frente. Entendemos que ampliar a memória coletiva sobre essas histórias é parte da resistência”, ressalta a atriz Bruna Sobreira.

No processo de pesquisa, o grupo entrou em contato com os atingidos de Bento Rodrigues e Barra Longa. “Fomos diversas vezes aos locais destruídos para ver com nossos próprios olhos a paisagem de desolação, mergulhamos nos relatos jornalísticos, em imagens, relatórios oficiais. Concluímos que não podíamos mais fechar os olhos e achar que isto está distante de nós. Precisamos falar sobre isto, diz respeito a todos nós”, relata a atriz Ângela Mourão.

Construído em diálogo criativo com importantes artistas de diversas áreas, o espetáculo traz uma linguagem que reúne movimento, composição, sonoridade, vídeo e texto, com abordagem dramatúrgica documental e contemporânea. O Grupo reuniu pessoas distintas em torno do projeto. “A ideia inicial era trabalhar com pessoas de linguagens diferentes para que uma narrativa fosse contada por vários ângulos, tensões e códigos; Teatro, Música, Cinema e Dança. Veio a Lama e fomos impactados, depois ao pisar nela, sensibilizados a nos colocar a serviço daquelas pessoas, daquele acontecimento e agora, com a tragédia de Brumadinho esse compromisso aumentou ainda mais", ressalta o ator Thiago Amador.

São esses os artistas-criadores que, coordenados pela direção de Marcelo Bones, participaram da pesquisa e construção de LAMA:

- Guiomar de Grammont (dramaturgia e texto), que trouxe a questão da memória para o espetáculo, além de aproximar ainda mais os atores do local da tragédia;

-Tarcísio Ramos Homem, (construção da dramaturgia do movimento cênico), equalizando a linguagem corporal dos atores em cena;

- Ricardo Alves Junior, que direciona no espetáculo o olhar da câmera;

- Sérgio Pererê, com a estrutura musical influenciada pela sonoridade ancestral;

- Cláudio Dias, responsável pelo arcabouço do espetáculo, levantando com o grupo os primeiros materiais que estão ramificados por toda a obra.

“Optamos por mesclar linguagens, algo desafiador e novo para o grupo, mas mantivemos a trajetória de espetáculos engajados, críticos, além de poéticos e apurados artisticamente”, destaca Marcelo Bones.

Sobre o grupo

O Grupo Teatro Andante é atuante em Belo Horizonte desde 1990, quando foi fundado por Marcelo Bones e Ângela Mourão. Em seus 27 anos, tem trabalhado ininterruptamente com a circulação de seus espetáculos em Belo Horizonte, Minas e todo o Brasil, além de uma significativa trajetória no exterior - Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá, Portugal, Espanha, Itália e Alemanha.

Seus espetáculos, tais como Olympia, BarbAzul, A História de Édipo, o Grande Cello e Musiclown, seguem as características que o Grupo desenvolveu durante toda a sua história, que são a pesquisa de linguagens, a apurada técnica cênica com a fácil comunicação popular, a descentralização artística e a difusão do teatro para parcelas da população que não têm acesso às casas de espetáculos e que estão fora dos eixos comerciais. O Andante tem a marca de realizar espetáculos com grande qualidade artística e técnica, mas que possam ser apresentados em espaços variados e para qualquer tipo de público.

Participa de intercâmbios artísticos e de movimentos teatrais locais, nacionais e internacionais, sendo fundador da Platô - plataforma coletiva para internacionalização.

De 2014 a 2018 o grupo fez diversos festivais e circuitos por países latino-americanos, além de desenvolver grande atividade de formação pelo Sebrae, para grupos teatrais. Implantou, ainda, em 2016, o Observatório de Festivais (www.festivais.org.br).

Foto: Paulo Lacerda

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