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Mauricio Tizumba e Sérgio Pererê lançam CD gravado ao vivo

Disco traz a união das potentes vozes e composições dos artistas, com presença de violão, viola, tamá, caixa de congado e pandeiro. E ainda as tablas, tocadas pelo percussionista indiano Rashmi Bhatt.

Dois dos mais atuantes artistas negros do Brasil se unem para lançar, pela primeira vez, um disco juntos. Mauricio Tizumba e Sérgio Pererê ao Vivo traz dez canções gravadas em um show de 2018, quando dividiram o palco do Teatro do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. E será neste mesmo local o lançamento do trabalho, no dia 27 de março, sexta-feira, às 21h.

A ideia surgiu a partir do lançamento da biografia De Camarões: veredas de Mauricio Tizumba. Para celebrar o livro, Tizumba  convidou o parceiro mais presente ao longo de sua carreira, Sérgio Pererê, para um show em conjunto. Era a primeira vez que os dois criavam um show juntos, do conceito à escolha do repertório, e composições marcantes de cada carreira foram rearranjadas para o momento. 

O disco começa com talvez aquela que podemos considerar a música mais famosa de Tizumba, Sá Rainha. Nesta versão, deixa-se um pouco de lado o clima festivo para que se acrescente também um lamento. Aqui, a voz de Pererê, em conjunto com a de Tizumba, ajudam a criar uma camada em que dor e beleza vão trocando de posições.

Da mesma forma, nas outras faixas, Mauricio Tizumba e Sérgio Pererê ao Vivo traz uma versão mais intimista de Tizumba, em que à recordação da vida acrescenta-se a disfarçada melancolia de suas músicas. Não que ela não esteve presente, mas um ouvido menos atento demoraria a perceber antes que entre a festa há também o choro, a dor e a resistência negra de um dos principais articuladores político-culturais da cidade. Por isso, músicas como Terra de Montanha e Mãe de todos os homens convidam à reflexão sobre a importância que se posicionar tem para ambos os artistas.

Gravado no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube, o álbum mistura violão, viola, tamá, caixa de congado, pandeiro e outros instrumentos, bem como as tablas, tocadas pelo percussionista indiano Rashmi Bhatt, convidado pelos cantores para participar da música A Criação. Se aqui se celebra o encontro entre Tizumba e Pererê, que começou ainda nos anos 90, cuja maior evidência são as parcerias entre o biografado e o Tambolelê, grupo do qual Pererê fazia parte, se abre espaço também para outras parcerias, uma constante nas carreiras dos dois cantores. Ainda, no quesito de encontros, Desejo de Flor, de Vander Lee, ganha uma versão emocionante em homenagem ao saudoso amigo e parceiro dos dois cantores.

Mas, talvez, o que mais se destaca no trabalho é o jogo de duas vozes poderosas, seja em Pererê cantando músicas de Tizumba, como é o caso de Bicho do Mato, ou com o espaço para músicas dos dois no show, não em alternância, mas em contribuição. E, assim, se escuta a belíssima versão de Woman, canção magistral de Pererê, em que Iemanjá, Woman e o “ô, mãe” se misturam, mostrando com afinco a mistura entre as raízes que fundam os dois cantores e as transformações musicais que ambos aplicam em suas músicas. A presença do congado em Riso de Sol é impossível de não ser notada.

O disco termina com Kianda, composição de Pererê, mas que é cantada inicialmente por Tizumba e depois se transforma em dueto. Nesta canção, a memória e a novidade, elementos que marcam todo o disco e show, acham os versos perfeitos em seu fechamento: “Por isso eu não deixo de caminhar / Não deixo de procurar”.

Foto: Patrick Arley

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