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Sempre Um Papo recebe Lira Neto

O Sempre Um Papo recebe o escritor  e biógrafo Lira Neto para o debate e lançamento do livro  “Uma História do Samba - As Origens” (Cia das Letras). Nesta primeira parte da história do samba (serão três volumes), o autor mapeia as origens e crescimento do samba entre os anos 1890 e 1930 e se lança ao desafio de contar a história do samba urbano. Em sua nova empreitada, retraça com sua verve narrativa singular, o percurso completo desse ritmo sincopado que é um dos sinônimos da brasilidade.  Rastreando os passos de bambas como Zé Espinguela, Donga, Sinhô, Pixinguinha, Ismael Silva e Noel Rosa, o livro investiga as letras e as melodias, os instrumentos e as gravações fonográficas, a sociologia e a política do ritmo. O encontro ocorre no dia 04 de abril, terça-feira, às 19h30, no auditório da Cemig, com entrada gratuita. 

Descendente das batidas afro-brasileiras, mas igualmente devedor da polca dançante, o samba carioca nasceu no início do século xx a partir da gradativa adaptação do samba rural do Recôncavo baiano ao ambiente urbano da então capital federal e encontrou terreno fértil nos festejos do Carnaval de rua. Com o aprimoramento do mercado fonográfico e da radiodifusão, nas décadas de 20 e 30, consolidou seu duradouro sucesso popular, simbolizado pelo surgimento das primeiras estrelas do gênero e pela fundação das escolas de samba.

Em virtude da riqueza e da amplitude do material compilado, recheado de documentos inéditos e registros fotográficos, o projeto será desdobrado em três volumes — neste primeiro, Lira Neto  narra das origens do samba até o desfile inicial das escolas de samba no Rio. Lira Neto demonstra que a trajetória do samba corresponde a sua gradativa incorporação ao imaginário cultural do Brasil, no qual festa e agonia se digladiam de modo intermitente.

Trecho do livro: “Uma História do Samba”

“No burburinho típico das seis horas da tarde, quando se encerrava o expediente do comércio e da maioria das fábricas da cidade, assistia-se a um movimento singular nas plataformas da Central do Brasil. Além dos milhares de trabalhadores correndo esbaforidos para se amontoar nos vagões com destino aos subúrbios, um conjunto específico de passageiros chamava atenção pelos objetos carregados debaixo do braço. Em vez de marmitas vazias e embrulhos de pão, levavam pandeiros, violões e tamborins. 

O insólito grupo confluía para o mesmo ponto de embarque: o trem que seguia para Marechal Deodoro e tinha entre suas paradas principais a estação de Oswaldo Cruz, para lá de Quintino Bocaiúva e Cascadura. Às 18h04, pontualmente ⎯ o que rendeu à composição o apelido de Seis e Quatro ⎯, o maquinista fazia soar o apito de partida e o comboio rilhava sobre os trilhos. Nesse momento, no interior do vagão, tinha início uma harmoniosa roda de samba. 

Tratava-se do ensaio geral e diário do Conjunto Carnavalesco de Oswaldo Cruz, agremiação que fazia do Seis e Quatro a sua sede itinerante. Uma forma eficaz e astuciosa de evitarem ser confundidos pela polícia como um bando qualquer de vagabundos, passíveis de ir em cana com base na Lei da Vadiagem. Até prova em contrário, eram todos trabalhadores. Tinham o direito a cair no samba após largar o batente e tomar a condução de volta para casa.”

lira neto nasceu em Fortaleza, em 1963. Jornalista e escritor, ganhou o prêmio Jabuti em quatro ocasiões, sempre na categoria melhor biografia. Pela Companhia das Letras, publicou Padre Cícero: Poder, fé e guerra no sertão (2009), vencedor do Jabuti em 2010, e a trilogiaGetúlio (2012-14), cujo segundo volume foi premiado em 2014. 

Foto: Fabio Setimio

 

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