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MUTAÇÕES DISCUTE “A OUTRA MARGEM DA POLÍTICA” E ABRE EDIÇÃO 2018 COM MARILENA CHAUÍ

Idealizado pelo filósofo Adauto Novaes, evento será realizado no BDMG Cultural, de 3 de maio a 14 de junho, e traz 15 convidados à capital mineira

A edição 2018 do Ciclo de Conferências Mutações começa no dia 3 de maio, às 19h, no BDMG Cultural, e traz a Belo Horizonte 15 convidados: Marilena Chauí, Newton Bignotto, Oswaldo Giacóia, Franklin Leopoldo, Pedro Duarte, Renato Janine Ribeiro, Marcelo Jasmin, Renato Lessa, Vladimir Safatle, Maria Rita Kehl, Helton Adverse, Jorge Coli, José Miguel Wisnik, Eugênio Bucci e Olgária Matos. Idealizado pelo filósofo e jornalista Adauto Novaes, o Ciclo 2018 apresenta o tema “Mutações – A outra margem da política”, de 3 de maio a 14 de junho. As inscrições para o Ciclo completo são R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), e podem ser feitas pelo site www.appa.art.br, ou pessoalmente, na sede da APPA – Associação Pró-Cultura Promoção das Artes, localizada à rua Boa Esperança, 405 – Sion.

A conferência de abertura, “Da política como gestão ao político como lógica de poder”, será proferida, no dia 3 de maio, às 19h, no Auditório do BDMG Cultural (rua Bernardo Guimarães, 1600 – Centro), pela filósofa Marilena Chauí, mestre e doutora pela Universidade São Paulo (USP), instituição da qual foi professora titular. Na ocasião, a pesquisadora partirá das ideias de Claude Lefort para discutir a distinção entre “a política e o político, tendo como horizonte a diferença de perspectiva entre a ciência política e a filosofia política”.

Sob tal prisma de distinções, Chauí discutirá três grandes concepções do político, conforme elaboradas pela modernidade: “a utopia como elaboração da boa sociedade indivisa e do bom poder que a conserva; a revolução como momento decisivo em que as contradições sociais levam o Baixo da sociedade a recusar a legitimidade do Alto, contestando-o e o destruindo, a fim de reunificar o social dividido sob a égide da igualdade; e a república democrática que, pela criação de direitos e pela legitimidade dos conflitos, pretende que a divisão social possa exprimir-se na exigência de igualdade, justiça e liberdade”.

A filósofa destaca, ainda, aqui, que o tempo presente “não pensa em termos de utopia, mas de distopias, nascidas tanto do fracasso das revoluções quanto dos desenvolvimentos da tecnociência como prática de controle e vigilância sobre a sociedade e cada um dos indivíduos”. Chauí comenta, ainda, que o fracasso das revoluções socialistas e a emergência do totalitarismo suspenderam o projeto de transformação radical da sociedade. “Finalmente, a república democrática foi solapada pela ideologia neoliberal. Nossa questão, portanto, se voltará para a indagação das condições de possibilidade ou de impossibilidade de recuperar o político enquanto lógica do poder e da política como retomada de instituições de representação e participação republicanas e democráticas”, completa.

Marilena Chauí

Mestre e doutora em Filosofia pela USP, universidade da qual foi professora titular, Marilena Chauí ministrou cursos de pós-graduação nas universidades de Paris (França), Pisa e Bolonha (Itália), Buenos Aires e Córdoba (Argentina), Stanford e Columbia (USA) e King’s College (Londres). Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Paris VIII, pela Universidade Nacional de Córdoba e pela Universidade Federal de Sergipe. Recebeu, em 1981, o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), pelo livro Cultura e democracia; em 1994, o prêmio Jabuti, por Convite à Filosofia; em 1999, o prêmio Sérgio Buarque de Holanda (Biblioteca Nacional); e, em 2000, outro Jabuti, por A nervura do real – Imanência e liberdade em Espinosa. Foi secretaria municipal de cultura de São Paulo de 1989 a 1992 (durante o governo de Luiza Erundina).

A filósofa publica, regularmente, artigos em periódicos nacionais e internacionais de Filosofia, História e Ciências Sociais. Escreveu, também, O que é ideologia; Cultura e democracia; Convite à Filosofia; Espinosa – Uma filosofia da liberdade; Merleau-Ponty – Uma experiência do pensamento; A nervura do real – Imanência e liberdade em Espinosa; Política em Espinosa; Desejo, paixão em ação na ética de Espinosa; Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária; Escritos sobre a Universidade; Simulacro e poder – Uma análise da mídia; Política cultural; Introdução à história da filosofia (em dois volumes); Escritos de Marilena Chaui; Between conformity and resistence. Participou das seguintes coletâneas: Os sentidos da paixão, O olhar, O desejo, Ética, Artepensamento, O homem máquina, Civilização e barbárie, O silêncio dos intelectuais, Vida Vício Virtude, Mutações: entre dois mundos.

O Ciclo

“Mutações – A outra margem da política” é uma realização da Artepensamento, com patrocínio do BDMG Cultural, copatrocínio da Caixa Econômica Federal e apoio da APPA – Associação Pró-Cultura Promoção das Artes, em Belo Horizonte; da Embaixada da França e do Instituto Francês do Brasil, em Brasília; da Casa do Saber, em São Paulo; e do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ e da Fundação Casa Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.

Para o presidente do BDMG Cultural, jornalista Rogério Faria Tavares, “as conferências de Adauto Novaes, ao longo de três décadas, reúnem o que há melhor na intelectualidade brasileira e estrangeira promovendo uma reflexão sempre profunda e sofisticada sobre os grandes temas da contemporaneidade”. O projeto “Mutações” surgiu há dez anos com o intuito de debater, não a ideia de crise, mas, sim, a ideia de uma intensa revolução que estamos vivendo em todas as áreas.

Adauto Novaes, sobre A outra margem da política

“Como pensar no intervalo entre passado e futuro posto em evidência com o desaparecimento da tradição? O que são Autoridade e Liberdade a partir do momento em que nenhuma resposta oferecida pela tradição vale mais? Como pensar o acontecimento: a crise da cultura, a crise da educação, o advento da mentira na política, a conquista do espaço? Pensar supõe ter a coragem de afrontar o mundo, a pluralidade de nossos semelhantes, instaurar novos começos. Renunciar a pensar é renunciar a ser homem.” (Hannah Arendt).

Poucos negariam o diagnóstico: há uma evidente decomposição do sistema de representação política e do corpo político como um todo, o que deixa exposta a diferença abissal entre “governo democrático” e vida democrática, isto é, o povo criando de forma permanente e vivendo em democracia; vivemos um momento de incerteza e desordem, sérios conflitos criados pela ocupação das instituições do Estado por entidades religiosas; falta de alternativas claras; redes digitais que surgem como os novos mediadores entre a sociedade e o Estado; crise dos partidos políticos; crise dos universais; singularização e fragmentação das lutas fora da visão da história e do futuro; a definição da “democracia” como consumo democrático, “supermercados dos estilos de vida”; mentiras sobre legitimidade política; pequenos e grandes golpes sem disfarce; e mais: democracias contemporâneas que se servem da técnica para estabelecer limites para o poder político do povo. Em síntese, um absoluto apolitismo.

Além dos velhos problemas que nascem ao mesmo tempo com as noções e as formas originárias da própria democracia – problemas com as ideias de representação política, o teológico-político, o chamado poder popular, as formas jurídico-políticas, a própria ideia de república etc. – é importante pôr em discussão também as novas questões trazidas à política pelas invenções técnicas e científicas.

A outra margem da política é isso: ir aos fundamentos da política para romper “as construções e ideias petrificadas, e retomar as coisas nas suas fontes”, de onde pode – e deve – surgir o novo: “começar pelo começo – aconselha Valéry – o que quer dizer recomeçar, refazer todo um caminho como se tantos outros não o tivessem traçado e percorrido...” É evidente que houve, ao longo da história, desvios das noções originárias da política, o esquecimento dos ideais preconcebidos; eis porque o futuro sonhado jamais é verdadeiro hoje. Foi o que escreveu Wittgenstein a propósito da decadência: “Se pensamos no futuro do mundo, visamos sempre o ponto no qual ele estará se ele continuar a seguir o curso que fez hoje; não pensamos que ele não segue uma linha reta, mas uma curva e que sua direção muda constantemente”. De desvio a desvio, chegamos à ilusão da democracia.”

Conferencistas e temas de “Mutações – A outra margem da política” (Belo Horizonte – MG)

DATA

MUTAÇÕES: A OUTRA MARGEM DA POLÍTICA - CONFERÊNCIAS

03/05/2018

Marilena Chauí- Da Política como gestão ao político como lógica do poder

07/05/2018

Newton Bignotto – Apatia e desolação nas sociedades contemporâneas

08/05/2018

Oswaldo Giacóia – Decadência e niilismo

09/05/2018

Franklin Leopoldo – Eclipse da política

15/05/2018

Renato Janine Ribeiro – O que é política

16/05/2018

Pedro Duarte – O sentido positivo da política

17/05/2018

Marcelo Jasmin – Despotismo democrático e des-civilização

18/05/2018

Renato Lessa – Sobre a representação: história natural e filosofia política

30/05/2018

Vladimir Safatle – Dando corpo ao impossível: por um universalismo des-colonial

04/06/2018

Maria Rita Kehl – Política e paixão - por que sim, por que não?

05/06/2018

Helton Adverse – As formas da antipolítica

07/06/2018

Jorge Coli – As artimanhas da arte

11/06/2018

José Miguel Wisnik – A terceira margem da política

12/06/2018

Eugênio Bucci – Uma defesa da verdade factual (entre a “pós-verdade” excêntrica e a democracia improvável)

14/06/2018

Olgária Matos – Fim da história compartilhada – desamparo na ausência de mundo

Foto: Fábio Nakamura

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