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Tairone Vale estreia sua peça-conferência no Teatro Espanca! e celebra 10 anos de parceria com o premiado diretor Rodrigo Portella

Como seria se o diabo, numa palestra, resolvesse contar a sua versão da estória? Com essa pergunta, nasce a peça-conferência escrita e protagonizada pelo ator e dramaturgo Tairone Vale. O espetáculo estreia em Juiz de Fora no dia 26 de abril com agenda em dois teatros da cidade e, em seguida, Versão Demosegue para Belo Horizonte para uma curta temporada de apresentações nos dias 18, 19 e 20 de maio no Teatro Espanca!. Será oferecida ainda uma oficina gratuita que ocorrerá no espaço nos dias 19 e 20 de maio. O projeto conta com patrocínio da Arpel e incentivo da Lei Estadual de Cultura de Minas Gerais.

O texto de Versão Demo tem como espinha dorsal a conturbada relação do famoso "Anjo Caído" com seu "Chefe Supremo", contando os fatos que levaram a figura de Lúcifer cair de "Favorito do Patrão" para inimigo público número 1. Porém, numa espécie de atravessamento da fábula principal, dramaturgias paralelas alçam o discurso central a uma espécie de polifonia composta por citações de políticos, pastores, poetas, além de músicas, manchetes e a carta de um assassino, conectando a história narrada pelo diabo ao atual momento político e social da humanidade.

“A complexa dramaturgia dessa peça nos faz repensar a figura divina concebida à imagem e semelhança do homem branco, cisgênero, produto de um sistema patriarcal segregador, controlador e autoritário. O artista/palestrante faz uma autocritica dos seus privilégios e abre um canal de reflexão sobre toda a barbárie cometida em função desse modelo hegemônico”, comenta o diretor, que pela terceira vez contou com a diretora assistente Mariah Valeiras, também responsável pela supervisão do texto.

A encenação busca construir um espaço característico de uma palestra: microfones, retro-projetor, equipamentos de som e luzes, porém tudo está sob o controle do diabo. É o próprio ator que opera todo o aparato tecnológico enquanto se desdobra em todas as “personagens”. “Há um caráter artesanal e uma certa precariedade nisso tudo, no cenário feito de pedações de armários de ferro, nas projeções de transparências, nas luminárias que ele utiliza. Tudo isso, de alguma forma contrasta com a voz amplificada do palestrante: poderosa, tirana, símbolo do autoritarismo masculino branco ocidental, que grita pra fazer valer seu poder.

Segundo Tairone, o espetáculo surgiu de uma ideia antiga de desenvolver um romance que narrasse o ponto de vista do próprio Diabo sobre a estória. Depois disso um clique sugeriu que este romance talvez não fosse um livro, mas a oportunidade de fazer o seu primeiro espetáculo solo.

Versão Demo tem ainda outra importante função: a peça marca os 10 anos de parceria de Rodrigo Portella e Tairone Vale, que se conheceram na montagem de "Bruxas de Salém", de Arthur Miller, em 2009 na cidade de Juiz de Fora.

“Depois de muitos espetáculos juntos, aprendo diariamente com o Rodrigo, que é um profissional de uma sensibilidade e um desprendimento inigualáveis. Desde o início, eu sabia que a única pessoa para dirigir essa empreitada seria ele. Não o convidei para o projeto. Apenas o informei que ele iria me dirigir”, brinca Tairone.

Se propondo a dialogar com todo tipo de público, “VERSÃO DEMO” restaura e reforça o poder do teatro de fazer o espectador se divertir refletindo sobre a realidade em que está inserido. Mais do que isso, fica em cada pessoa, como visto em pequenas leituras e ensaios, questões sobre como nossas ações cotidianas podem conter o humano e o desumano.

Sobre a curta temporada na capital mineira, os dois celebram a oportunidade. Tairone diz estar instigado em poder trazer o trabalho para um local onde o público ainda o conhece pouco, mas que é um celeiro de arte vibrante e artistas incríveis.

“Foi natural estrear em Juiz de Fora, minha casa, casa das minhas reflexões, das minhas referências. Mas de dois anos para cá, comecei a me conectar muito com BH através de projetos na área do audiovisual e cinema. Conheci um batalhão de artistas talentosos, dedicados e generosos dessa cena pulsante que é a capital mineira. Me sinto muito instigado pela oportunidade de mostrar nessas terras o meu trabalho. Todos os dias acordo com a pergunta: ‘Você está mesmo pronto para seu primeiro solo?" E vou dormir todos os dias com a resposta: "A gente nunca está pronto. Então vai lá e faça’, finaliza o ator.

Foto: Ana Loureiro

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