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Mostra “Nos Porões da Loucura” promove terceira semana de programação

Dando sequência a programação de atividades no Teatro Marília, a Mostra promove debates, apresentações teatrais, exibição de filmes, oficinas, exposição fotográfica, lançamento de um livro de poemas e temporada do espetáculo que dá nome à mostra. Atividad

É certo que a luta antimanicomial já registrou várias vitórias nas últimas décadas no Brasil, mas o tema ainda merece destaque uma vez que o preconceito seguido da ignorância impossibilita boa parte desses pacientes de se inserirem, verdadeiramente, na sociedade. A partir deste cenário é que surgiu a “Mostra Nos Porões da Loucura”, criada a partir de um aprofundamento das discussões proposta pela montagem homonima, baseada na obra do jornalista Hiram Firmino. Agora, dando sequência as atividades de sua 2ª edição, a Mostra Nos Porões da Loucura promove sua terceira semana de programação no Teatro Marília. Com curadoria assinada pela jornalista, atriz e produtora Ana Gusmão, a mostra traz como proposta destacar, por meio de uma diversificada programação artística e cultural, a importância da luta antimanicomial, além de refletir sobre os avanços e retrocessos verificados no país ao longo dos anos.

“Nos dias atuais, vemos um retrocesso imenso, liderado pelo Governo Federal, pela volta das instituições como ponto central no tratamento dos portadores de sofrimento metal, com o fim da política de redução de danos e do desmantelamento dos serviços substitutivos, entre outras ações. Frente a tudo isso, mantemos a nossa posição de inclusão e de valorização de todo e qualquer ser humano, pois a discussão da II Mostra Nos porões da loucura é a dignidade, os direitos humanos e solidariedade. É sobre a escuta do outro que falamos.”, afirma a gestora cultural Ana Gusmão.

Essa temática, amplamente trabalhada no espetáculo “Nos Porões da Loucura”, apresenta o universo do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, que contabiliza mais de 60 mil mortes de pacientes. Em cena, nove atores retratam pacientes, funcionários, famílias e sociedade, numa montagem realista e muito comovente.

FILMES – Exibições gratuitas

Dentro da programação, de exibição de curtas-metragens está “Entrelinhas”, filmado, produzido e dirigido por Letícia Cardoso e Pedro MC. Situado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico da Penitenciária Estadual de Santa Catarina, o curta com 25 minutos de duração propõe uma relação do tempo e o imaginário entre os realizadores da película e dos pacientes encarcerados em tratamento psiquiátrico na instituição. O filme apresenta o papel das instituições, os tratamentos e as condições dos pacientes mostrados não como denúncia, mas pela narrativa do tempo fugidio, dos fragmentos de percurso e desencontros com a “vida lá fora”.

Ao longo de toda a mostra, a programação conta também com exibições dos curtas-metragens “Gentileza”, de Dado Amaral e Vinícius Reis, e “Françoise”, de Rafael Conde. O primeiro é um curta-documentário sobre o Profeta Gentileza, um "louco de Deus" que viveu no Rio de Janeiro e pregou por todo Brasil sua mensagem anti-capitalista, ecológica, social e religiosa, cujo ponto de partida é a máxima "Gentileza gera gentileza". Já “Françoise”, um dos primeiro trabalhos da atriz Débora Falabella, apresenta a história de dois desconhecidos solitários que se encontram e conversam em uma estação de trem. Fechando os filmes que contemplam a 2ª mostra Nos Porões da Loucura está o curta “História de borboletas”, dirigido por Marcelo Brandão, que acompanha os encontros e desencontros de um jovem casal no momento em que a mulher decide internar o marido em um hospital psiquiátrico.

ESPETÁCULO “NOS PORÕES DA LOUCURA”

Na segunda semana de programação, começa a temporada do espetáculo “Nos porões da loucura”, com dramaturgia adaptada a partir de uma série de reportagens do jornalista Hiram Firmino produzidas ao longo do ano de 1979, reunidas em livro posteriormente, com várias tiragens de sucesso. A montagem possui dramaturgia e direção assinadas por Luiz Paixão e resgata o horror vivido pelos pacientes portadores de sofrimento mental ou àqueles que simplesmente eram indesejados pela sociedade.

Baseado na obra homônima de Hiram Firmino, o espetáculo, que tem dramaturgia e direção de Luiz Paixão, adapta a série de reportagens publicadas pelo Jornal Estado de Minas, no ano de 1979 e reunidas em livro pelo autor, em uma montagem teatral que resgata o horror vivido pelos pacientes portadores de sofrimento mental ou simplesmente os indesejados pela sociedade. Com cerca de 60 mil mortos desde sua fundação, em 1903, o Hospital Psiquiátrico de Barbacena se configura como uma das maiores manchas na história de Minas Gerais e do Brasil.

Com inúmeros casos de negligência, abandono, crueldade e indiferença, sua trajetória foi retratada na série de reportagens do jornalista Hiram Firmino, logo depois reunidas em uma única publicação. Decisivo para a luta antimanicomial e para a reforma psiquiátrica, o livro foi vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo no ano de 1980: “A série de reportagens do Hiram deve sempre ser lembrada pela sua importância histórica e, sobretudo, de como colocar o jornalismo a serviço da dignidade humana. Foi a partir dele que surgiram outras obras que aprofundaram a discussão, abordando outros aspectos muito importantes também.”, destaca Luiz Paixão.

Firmino destaca a riqueza do espetáculo e a importância de sua montagem décadas depois da série de reportagens e em um delicado momento do país: “Achei a peça fortíssima, densa e essencial, a ponto de não precisar de outros recursos cênicos. Estou orgulhoso do trabalho e competência do diretor Luiz Paixão, que conseguiu traduzir de maneira verdadeira, seca, visceral e comovente as crueldades que, somente no Hospital-Colônia de Barbacena, condenaram a morte mais 60 mil pessoas consideradas loucas ou não. Montagens como essa, com um elenco e uma direção mais reais impossíveis, nos dizem: ‘Esquecer, jamais. E rememorar sempre, para não se repetir.’”.

Para a construção das personagens dos internos, o diretor propôs uma pesquisa das fotos de pacientes do Hospital de Barbacena presentes em livros. Cada um dos 9 atores do elenco escolheu uma imagem e, a partir de uma postura corporal, elaborou sua personagem. Os figurinos da montagem são assinados pelo estilista Ronaldo Fraga, elaborados a partir de uma pesquisa estética e também histórica. A trilha sonora é assinada por Marcus Viana, um dos principais compositores de música instrumental brasileira, responsável pelas trilhas de diversas novelas, como “Pantanal” e “O Clone” e “A Casa das Sete Mulheres”, e dos filmes “Olga”, “Filhas do Vento” e “O Mundo em Duas Voltas”.

Na esfera da interpretação, tomou-se um grande cuidado para não cair na emoção melodramática ou na crítica leviana e irresponsável, facilmente permitidos pelo tema. O diretor optou, assim, por duas instâncias de abordagem e concepção cênica, em uma relação dialética de aproximação e distanciamento, que pretende equilibrar e conduzir o público à emoção, mas, também, a ter uma visão crítica da história do Hospital de Barbacena.

A produção do espetáculo, direção de arte e comunicação é assinada por Ana Gusmão.

ATIVIDADES EDUCATIVAS

Completando a programação, a mostra ainda oferece atividades educativas. Dentre elas, a oficina de teatro no sábado (25) e no domingo (26) de maio, das 14h às 17h. Intitulada “A arte abriga a loucura ou a loucura abriga a arte?”, a atividade será ministrada pela atriz Meibe Rodrigues. Voltada para estudantes de psicologia, o objetivo é desenvolver, ao longo dos dois dias, atividades teatrais ligadas ao processo de criação do espetáculo “Nos Porões da Loucura”, permitindo aos estudantes vivenciar técnicas teatrais a partir da criação de personagens com a temática da loucura. Os interessados devem realizar suas inscrições pelo sitehttps://www.vaaoteatromg.com.br/detalhe-peca/belo-horizonte/oficina-de-teatro-a-arte-a briga-a-loucura-ou-a-loucura-abriga-a-arte e custam R$30,00 para os dois dias, totalizando 6 horas/aula.

Também no sábado, a partir das 19h30, ocorrerá o lançamento do livro “Poemas de Zuzu”, de Maria Aparecida Andrade de Oliveira, com uma apresentação de recital de voz e violão com os músicos Sirlene Oliveira e Pedro Henrique. A publicação é uma coletânea de poemas que tratam temas como a vida, religiosidade e as idas e vindas de Zuzu nos hospitais psiquiátricos. Zuzu foi diagnosticada com “louca” na década de 60 e 70, quando, na verdade, sofria apenas de asma. Entre as idas e vindas de hospitais psiquiátricos, ela escrevia poesia, que serão agora publicadas pela família. Zuzu morreu na mesa de eletrochoque, em um hospital psiquiátrico de Belo Horizonte.

DEBATES

Nos quatro domingos da II Mostra Nos porões da loucura, debates com profissionais da área da saúde, artistas, usuários dos serviços da saúde mental de BH e familiares acontecerão no palco do Teatro Marília, após os espetáculos. A entrada é gratuita.No dia 19/05, às 20h15, será realizado o debate “As atuais políticas públicas na saúde mental”, com os debatedores convidados Dr. Fernando Siqueira, Coordenador de Saúde Mental da PBH, e a Professora Cristiane Barreto.

O tema do terceiro domingo, dia 26/05 será “a família e a relação com os portadores de sofrimento mental”. Debatedoras: Marta Elizabete, Leida Maria de Oliveira Uematu e Madalena Luiz Tolentino. Já o debate “O que querem os portadores de sofrimento mental hoje?”, com Marta Soares, Emílha Maria de Oliveira Marques e Valter Carvalho, promoverá um diálogo aberto com quem vivencia a realidade do sistema público de saúde mental. A discussão será realizada no último dia da mostra, no domingo (02/05), a partir das 20h15.

EXPOSIÇÕES

Ao longo de toda a programação, a Mostra também promove a exposição fotográfica no foyer do Teatro Marília. Intitulada “Olhar antimanicomial – arte e dignidade”, a montagem reúne retratos e recortes do fotógrafo Fernando Barbosa e Silva, realizados durante as manifestações do Dia da Luta Antimanicomial em Belo Horizonte, no dia 18 de maio. Assim, a exposição nasce da necessidade de se falar cada vez mais sobre o dia a dia dos usuários do serviço de saúde mental, dando luz também para os benefícios proporcionados pelas oficinas de arte que os pacientes participam como forma de serem inseridos na sociedade mineira.

Ainda no foyer do Teatro Marília, os produtos das oficinas dos Centros de Convivência de Saúde Mental da PBH serão exibidos para o público. Artes plásticas, literatura e outras linguagens artísticas serão compartilhadas.

BAR SURICATO

A Associação Suricato surge num contexto de liberdade e respeito aos direitos dos cidadãos em sofrimento mental, onde a necessidade de sua inclusão social é uma premissa do modelo assistencial da saúde mental em Belo Horizonte. A Associação promove essa inserção através da culinária e da produção de artesanato, como mosaicos, marcenaria e costura. Tudo isso é feito por cerca de 40 pessoas, com idade entre 20 e 70 anos. Um dos projetos da Associação é o bar Suricato, que estará presente na II Mostra Nos porões da loucura, revivendo o espaço do legendário Stagedoor, local que era ponto de encontro dos artistas na década de 70, no mezanino do Teatro Marília.

::Sobre a Mostra Nos Porões da Loucura::

A Mostra Nos Porões da Loucura foi criada a partir de um aprofundamento das discussões propostas pelo espetáculo “Nos Porões da Loucura”, que estreou em 2016. Com curadoria assinada pela jornalista, atriz e gestora cultural Ana Gusmão, a mostra traz como proposta destacar, por meio de uma diversificada programação artística e cultural, a importância da luta antimanicomial, além de refletir sobre os avanços e retrocessos verificados no país ao longo dos anos. As diferentes manifestações artísticas que trabalham, de forma heterogênea, a loucura e o incômodo com o outro, as atividades reflexivas, a valorização dos usuários da rede de saúde mental de BH e a criação de um espaço de trocas e convivência para o público interessado no tema são os objetivos principais do projeto. Nos dias atuais, vemos um retrocesso imenso, liderado pelo Governo Federal, pela volta das instituições como ponto central no tratamento dos portadores de sofrimento metal, com o fim da política de redução de danos e do desmantelamento dos serviços substitutivos, entre outras ações. Frente a tudo isso, mantemos a nossa posição de inclusão e de valorização de todo e qualquer ser humano pois a discussão da II Mostra Nos porões da loucura é a dignidade, os direitos humanos e solidariedade. É sobre a escuta do outro que falamos.

Foto: Divulgação

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