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As Polacas – Flores do Lodo

“E ao acenar pelo mar na alegria das regatas, Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas, Jovens polacas e por batalhões de mulatas.” João Bosco (Mestre-sala dos Mares) Idealizada pela atriz Luciana Mitkiewicz, a montagem estreou no Rio de Janeiro, realizando temporada no Teatro I do CCBB em 2011 e no SESC Ipiranga, em São Paulo, em 2012. No mesmo ano, participou do XIX FLORIPA Festival. Contemplada com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz/ 2013 e selecionada para o Projeto Viagens Teatrais do SESI, a peça circula pelo interior do estado de São Paulo e por cidades como Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, atualmente. Em cena, o encontro de prostitutas judias e negras na Praça Onze carioca é o fio condutor para mostrar como as polacas mudaram o curso da História, lutando contra o estigma e conquistando valores muito além do meretrício Quase esquecida nos porões da memória, a vida das jovens judias prostitutas do Leste Europeu, que imigraram no século XIX para as Américas, boa parte aliciada pela rede Zwi Migdal, de tráfico de mulheres, entra em primeiro plano no espetáculo As Polacas - Flores do Lodo, texto e direção do consagrado João das Neves. Em cena, samba e polca, dor e humor e uma narrativa original que alinha as prostitutas judias e negras como protagonistas de uma surpreendente história, tendo como elo fatos reais regados a doses de ficção. Formado por 11 atores, o elenco une gerações do teatro brasileiro, com nomes como Beth Zalcman, Iléa Ferraz, Wilson Rabelo, Eduardo Osorio (Boa Companhia, de Campinas), Carla Soares, Lígia Tourinho, Felipe Habib, Guilherme Tomaselli, Rodrigo Cohen e Luciana Mitkiewicz, também idealizadora do projeto. As Polacas – Flores do Lodo conta com o primeiro time do teatro nacional na criação: os cenários são de Hélio Eichbauer, a direção musical é de Alexandre Elias e a preparação corporal de Angel Vianna e Marito Olsson-Forsberg. A consultoria judaica é de Frida Zalcman (assistente do rabino Nilton Bonder). Berço do samba O cenário em que se passa a trama é a Praça Onze, berço do samba e da boemia carioca. A história vai e vem no tempo, sem obedecer a uma cronologia precisa. Fato é que as polacas desembarcaram no Brasil fugindo da fome e da perseguição religiosa. Pobres, longe da família, semi-analfabetas e sem saber falar o idioma, foram discriminadas pela própria comunidade judaica e, de início, também pelas prostitutas locais que temiam a nova concorrência. Da rotina amarga sobrou coragem para mudarem o rumo da realidade: elas criam uma associação de apoio mútuo e erguem o próprio cemitério, ajudando a promover a cultura e religião judaica entre os brasileiros. João das Neves conta essa história por um novo viés, misturando samba e música judaica, negros e brancos. “Não é um musical, a palavra é o ponto alto do espetáculo. Mas tirei partido sim do contexto, afinal a peça se situa entre duas culturas muito musicais”, conta o diretor. Assim, surge no palco primeiro a rivalidade entre as prostitutas estrangeiras e brasileiras. Em seguida, a transformação do estranhamento em amizade e laços de solidariedade. Do roteiro musical fazem parte canções originais, especialmente compostas pelo diretor musical Alexandre Elias, além de samba, polca, maxixe, milonga e músicas judaicas. Mais sobre o episódio histórico As Polacas – Flores do Lodo retrata a saga das polacas na capital da República no período entre-guerras. A peça acompanha os passos de Esther e Celina da juventude à idade madura. A árdua convivência nos prostíbulos cariocas, a violência da polícia e dos cafetões, a aspereza das cafetinas, o preconceito social, a rejeição dos filhos, tudo ganha um enquadramento especial no palco. Algumas destas mulheres já eram prostitutas em sua terra natal, mas a maioria chegou aqui em busca de uma vida melhor, enganadas por traficantes – muitos, inclusive, judeus. “Chegando aqui, elas eram levadas para as casas de tolerância e passavam a viver como párias sociais. As famílias judias também recém-chegadas ao Rio não queriam ver seus nomes ligados ao destas jovens e as tratavam muito mal”, conta João. Naquela época, as cocottes francesas se tornaram a elite do meretrício – a França era vista como um símbolo da modernidade e “freqüentar” essas mulheres significava status. Enquanto elas ocupavam pensões do Flamengo, Glória e Catete e foram absorvidas pela burguesia em ascensão, as polacas ficaram relegadas aos prostíbulos da Zona do Mangue, nas cercanias da Praça Onze carioca. Com os próprios recursos, fundaram a Associação Beneficente Funerária e Religiosa Israelita que, entre outras ações, construiu o Cemitério Israelita de Inhaúma, o primeiro cemitério judaico do Rio de Janeiro, capital da República na época. Como no judaísmo prostitutas e suicidas são considerados impuros – suas lápides são separadas das demais por muros – elas resolveram criar seu próprio cemitério. Ali, eram enterradas com todos os rituais da sua religião. “Uma forma de manterem sua identidade, fé e dignidade”, diz João. A atriz carioca, Luciana Mitkiewicz, começou a pesquisar a história das polacas em 2007. Assunto sobre o qual pesquisou durante os últimos cinco anos, entre outros, em farta bibliografia, músicas e cinema. “Me dediquei a levantar esta pesquisa em 2008 quando convidei o João, com quem já havia trabalhado, a criar esta dramaturgia original mostrando como a Pequena África se aproximou dos primeiros momentos da cultura judaica no Rio”, conta Luciana. A Praça Onze e seus arredores, onde as polacas se estabeleceram, têm papel importante na encenação. Ali conviviam ricos e pobres, ex-escravos e imigrantes europeus, famílias de “bem” e prostitutas, boêmios, artistas, jornalistas e sambistas. Considerada no início do século passado um dos locais mais cosmopolitas da cidade, a área era um verdadeiro caldeirão onde se misturavam diferentes culturas, crenças e etnias. A região chegou a abrigar a maior concentração de judeus da história do Rio de Janeiro. Eles elegeram o local principalmente porque ali existiam casas perfeitas para o comércio, com espaço para lojas no térreo e residências nos andares superiores. Ao longo de As Polacas – Flores do Lodo o público vai se deparar com Moreira da Silva, Ismael Silva e a Casa da Tia Ciata surgindo em cena. Afinal, a Praça Onze abrigou centenas de estabelecimentos judaicos, bem como clubes, grêmios políticos e sinagogas. Por outro lado, a região também era reduto dos negros recém-libertos da escravidão. No final da década de 1930, a maioria dos prédios, casas comerciais, prostíbulos e bares desta área foram demolidos para dar lugar à Avenida Presidente Vargas. A associação das polacas fechou as portas em 1966 por falta de arrecadação. Sobre João das Neves Um dos maiores nomes do Teatro Brasileiro, dramaturgo, diretor, ator e escritor, tem um currículo eclético que inclui diversos prêmios. Dirigiu o teatro de Rua do CPC da UNE e foi um dos fundadores do Grupo Opinião. Dirigiu também shows de MPB: Chico Buarque, Milton Nascimento, Baden Powell e MPB4, entre inúmeros outros. Sua peça mais conhecida, “O Último Carro”, ficou mais de dois anos em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo, no fim dos anos 70, tendo levantado mais de vinte premiações. Radicado em Belo Horizonte a partir de 1992, adaptou e dirigiu o projeto Primeiras Estórias, repetindo o feito como diretor convidado pela Unicamp para a montagem de formatura de 1995. Colaborou com a cantora Titane como diretor de seus espetáculos “Inseto Raro” e “Sá Rainha” (2000 e 2001). Atualmente, circulam pelo país seus espetáculos “Besouro Cordão de Ouro”, “A Santinha” e “Os Congadeiros”, “Titane e o Campo das Vertentes” e “A Farsa da Boa Preguiça”. É premiado com o Molière de melhor direção e Prêmio Brasília de melhor autor, ambos em 1976, e com o Prêmio Mambembe de melhor diretor, em 1977. Nos últimos anos, foi indicado ao prêmio Shell pela direção de “Besouro, Cordão de Ouro” (2007) e de “Farsa da Boa Preguiça” (2009), no Rio de Janeiro. Sobre Luciana Mitkiewicz Atriz, produtora, pesquisadora e docente, é formada em Artes Cênicas pela Unicamp (2003) e Mestre em Teatro pela Unirio, em 2007. Como bolsista da FAPESP e da Capes, desenvolveu estudo focado no trabalho do intérprete e na direção de atores, tanto em pesquisa iniciada durante seus estudos de graduação (Bolsa FAPESP – Treinamento Técnico e Pré-Expressividade) e em oficinas na Escola de Cinema de Santo Antonio de los Baños/ EICTV, Cuba (direção de atores para cinema). Trabalhou com renomados diretores de teatro, como Márcio Aurélio, Renato Cohen e João das Neves, e foi premiada como melhor atriz na IV Mostra de Diálogos Dramáticos de Limeira, pelo espetáculo Tea Party. Em 2006, forma o grupo Bonecas Quebradas e encena O CHÁ. O espetáculo realiza temporadas e apresentações nas cidades de Curitiba, Campinas, Rio de Janeiro, Niterói, Barra Mansa e nas unidades do SESC de Madureira, Ramos e São Gonçalo, nos anos de 2007 e 2008. Como docente, prestou serviço para a administração pública (Projeto Vocacional/ SP, Oficinas Culturais do Estado de São Paulo e Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro), e trabalhou como professora nos cursos do Centro de Culturas Ancestrais Sybila Rudana/ RJ e no SENAC SP, unidade Lapa Scipião, no Curso Técnico de ator. Como produtora, cria, formata, inscreve em Leis de Incentivo e desenvolve projetos próprios e para terceiros na área da cultura. Seus últimos projetos foram: Jogo Coreográfico – em parceria com Lígia Tourinho – vencedor do Prêmio FUNARTE de Performances de Rua, de 2010, e As Polacas, aprovado no edital do CCBB 2011. Em 2012, participou do projeto CIRCO K, da Boa Companhia e do Grupo Matula teatro, de Campinas. FICHA TÉCNICA: Texto e direção: João das Neves Diretor Musical: Alexandre Elias Cenários: Hélio Eichbauer Figurinos: Rodrigo Cohen Iluminação: Aurélio Di Simone Preparação corporal: Angel Vianna e Marito Olsson-Forsberg Assessoria de cultura judaica: Frida Zalcman Preparação vocal e direção musical (Circulação): Felipe Habib Projeções em cena: Cris França e André Scucato Elenco: Beth Zalcman, Carla Soares, Eduardo Osorio, Érico Damineli, Felipe Habib, Guilherme Tomaselli (piano), Iléa Ferraz, Lígia Tourinho, Luciana Mitkiewicz, Rodrigo Cohen e Wilson Rabelo Técnicos: Rafael Motta (luz), Fábio Pinheiro (som e vídeo), Cris Felix (camareira), Renan Vilela (contra-regra) Idealização: Luciana Mitkiewicz Direção de Produção: Bonecas Quebradas Produções Artísticas Produção Local: Rodrigo Jerônimo Divulgação: Mais Comunicação Realização: FUNARTE e SESC MG

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