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Risco e Riso: Grupo Trampulim apresenta mostra que cruza diferentes linguagens da palhaçaria e da improvisação

Trupe, que faz 25 anos em 2019, pesquisa desde março o Sistema Impro, cruzando-o com o método do “Palhaço Através das Máscaras” de Sue Morrison; mostra acontece nos dias 29 de junho, no Centro Cultural Pampulha, e 5 de julho, na Escola de Belas Artes da

Em 2019, o Trampulim completa 25 anos de história. Celebrando esta importante data, a trupe circense mineira tem expandido seus caminhos por meio de uma pesquisa que cruza diferentes linguagens da palhaçaria e da improvisação. Desde março, o grupo vem pesquisando junto à diretora teatral Mariana Muniz as ferramentas do Sistema Impro, criado pelo inglês Keith Johnstone. Nesta investigação, o Trampulim tem cruzado os fundamentos da Impro com a metodologia do “Palhaço Através das Máscaras”, da canadense Sue Morrison, que norteia o trabalho do grupo há décadas. A interseção artística entre as duas técnicas será apresentada na "Mostra Risco e Riso", conclusão do projeto “Risco e Riso – Palhaço e Improvisação”, realizado com recursos do Fundo Municipal de Incetivo à Cultura de Belo Horizonte, que acontece nos dias 29 de junho (sábado), no Centro cultural Pampulha, e 5 de julho (sexta-feira), no Auditório da Escola de Belas Artes da UFMG.

Criado na década de 1950 Impro é um sistema de ensino-aprendizagem que se baseia em jogos e exercícios teatrais de improvisação, fundamentados na cooperação e na benevolência. A vontade do Trampulim em pesquisar de forma profunda o sistema é antigo, como conta Poliana Tuchia, uma das integrantes da trupe. "Em 2010, fizemos uma imersão artística que culminava em dois cabarés, um com atores e outro com palhaços. No cabaré dos atores, convidamos improvisadores e experimentamos um pouco dessa linguagem. Isso há nove anos", relembra. "O Trampulim tem um caminho forte e sólido dentro da improvisação. É algo que estudamos há muito tempo. E o Sistema Impro consegue nos trazer outros olhares para os mesmos princípios".

Adriana Morales explica que o Sistema Impro organiza as diferentes formas de improvisação através dos jogos, facilitando o desbloqueio do artista. "A Impro traz esses caminhos como técnica. É uma onda muito dramatúrgica. Você vai tendo consciência de quais caminhos seguir, de quais ferramentas aplicar", explica. "É um sistema que traz de forma muito forte a narrativa, algo que, para o palhaço, está em segundo plano. Então, para nós, tem sido desafiador usar ferramentas bem delineadas, como a elipse temporal, o flashback", complementa Tuchia, exemplificando o Match de Improvisação como um dos jogos mais conhecidos do Sistema Impro.

Cruzamento de linguagens

Morales lembra que, em 2011, o grupo apresentou o espetáculo "Experimento", que já trazia algumas "pitadas" dos métodos que marcam o Sistema Impro. "Foi um espetáculo que fizemos muito por 'pilha' do Rafael Protzner (integrante da trupe e diretor do espetáculo), que fez oficina com o Keith Johnstone e tem formação na Impro.Ele tinha números bem marcados, que o público escolhia na hora se aconteciam ou não. Tinha uma interação, uma coisa do jogo muito forte. O que assemelha o formato do ‘Experimento’ aos formatos dos jogos de Impro, é que o público era quem dava os títulos para os números apresentados e votava ‘costura’, quando o número era interessante e deveria ser desenvolvido, ou ‘corte’ quando achava que o número deveria ser cortado do repertório do grupo”, afirma, lembrando que a pesquisa atual tem sido conduzida pela diretora Mariana Muniz, que assina a direção do solo teatral de Protzner, "Patuscada".

"Desde março, temos nos encontrado semanalmente com a Mariana, investigando os métodos de Impro e aplicando-os à linguagem do palhaço e à nossa pesquisa com a metodologia da Sue Morrison", completa Morales, sublinhando que os artistas Luciano Antinarelli (Cia Circunstância) e Renata Corrêa (Umpossível) participaram como convidados de toda a pesquisa e também estarão presentes na mostra.

Mais antigo integrante do Trampulim, que ainda conta com a artista Chaya Vazquez, Tiago Mafra lembra que o grupo estuda há anos a linguagem desenvolvida pela canadense. "Na nossa formação, tivemos várias influências, mas a da Sue Morrison foi uma das mais fortes. O método dela consiste na criação da personalidade do palhaço através das máscaras. É uma pesquisa que parte das tribos indígenas norte-americanas, em que o palhaço é uma figura sagrada, como o pajé", explica.

"Então, ela parte da criação de máscaras para diferentes direções: norte e sul, leste e oeste, acima e abaixo. Em um curso de um mês e meio, cada participante cria, de olhos fechados, usando a intuição, uma máscara de papel machê para cada direção”, continua Mafra. “Assim, você usa aquela máscara uma vez, botando para fora sua potência, e depois faz uma entrada com nariz de palhaço, explorando toda a energia daquela máscara. E, para cada máscara, existem ainda dois lados, o da inocência e o da experiência. Ou seja, são 12 energias pelas quais o palhaço pode transitar pelos impulsos da reação do público, da cena", completa.

O ator ressalta que a intenção do Trampulim é buscar uma linha de criação singular, que costure as duas metodologias artísticas. "A máscara é uma onda diferente da Impro, que é mais técnica, mais consciente. Mas não necessariamente tem que ser assim, no caso do palhaço. Pois se você está ali, navegando com suas emoções, com as máscaras, e ainda escolhendo conscientemente seus caminhos, com a Impro, você vira ninja", brinca. "A intenção final é juntar as duas coisas e encontrar um caminho”.

Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

Trampulim Ano 25

Criado em 1994, o Trampulim é, hoje, uma das mais respeitadas companhias de circo do Brasil. O grupo especializou-se na linguagem do palhaço que, aliada à música e à improvisação, formam um potente eixo artístico. Reconhecido por sua maneira autêntica de se comunicar com o público, o Trampulim carrega na bagagem 18 montagens, sendo a mais recente delas “Acorda”, cuja estreia aconteceu em 2017.

“Hoje, somos mais que um grupo. Somos amigos e irmãos, somos uma família na qual as pessoas dividem, há mais de uma década, sonhos, dificuldades, oportunidades e trabalhos”, afirma Adriana Morales. “O que nos une e nos mantêm juntos como grupo há tanto tempo é a sinergia”, completa. “O palhaço é esse ser totalmente complexo, com um olhar revolucionário para o mundo. Que brinca com os erros, que ri de si mesmo, que caçoa do opressor e não do oprimido. E a música tem essa coisa de agregar, de fortalecer laços. Potencializa o nosso poder de ser feliz, de ser do bem”, conclui Poliana Tuchia.

Foto: Henrique Manara

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