Notícias

Cineclube Aranha leva protagonismo feminino ao Cine Santa Tereza

Projeto que exibe produções dirigidas por mulheres e fomentar as discussões sobre representatividade no cinema, comemora 1 ano

Quando cinco mineiras se reúnem para pensar o cinema, o resultado só pode ser um: garantir a visibilidade de mulheres que assumem a direção de filmes. Essa é a proposta inicial do Cineclube Aranha, iniciativa das cineastas Lygia Santos e Juliana Antunes, das jornalistas Giselle Ferreira e Marcela Santos e da estudante de cinema Mariah Soares. O projeto comemora 1 ano em julho, com sessões mensais, com o objetivo de se tornar um grande incentivador do cinema feito e pensado por mulheres.

Os filmes, exibidos gratuitamente, entram na programação do Cine Santa Tereza uma vez por mês, às terças-feiras e são as responsáveis pelas maiores bilheterias do cinema público. Diretoras, produtoras, pesquisadoras são convidadas a fazer comentários ao fim de cada sessão. Além da crítica social, o Cineclube Aranha pretende ainda incentivar o fomento para cineclubes em Minas Gerais.

Na próxima edição, que será realizada em 11 de julho, é a vez do filme Os renegados, da diretora Agnes Varda, entrar em cartaz. Além de traçar um retrato incisivo da condição feminina em uma sociedade patriarcal através de técnicas narrativas inovadoras, o filme se consagrou por interpretar um requiem cinematográfico para o que restava do imaginário de 1968 no início de uma era que se caracterizaria pela hegemonia da ideologia neoliberal. Os comentários são de Roberta Veiga, professora e pesquisadora de cinema.

A primeira edição do Cineclube Aranha foi realizada no dia 20 de julho de 2016, com a exibição do documentárioRetratos de Identificação (2014), dirigido pela mineira Anita Leandro. A obra é a primeira do país a ser produzida com arquivos dos órgãos de opressão durante o período da ditadura militar brasileira (1964-1985). Em agosto, o público conferiu a ficção Jeanne Dielman (1976), da cineasta belga Chantal Akerman, falecida em outubro de 2015. E, em setembro, esteve em cartaz a obra Sobrenome Viet, nome próprio Nam (1989), documentário da vietnamita Trinh T. Minh-Ha.

Abordando diferentes narrativas e variadas propostas estéticas de obras nacionais e internacionais, o Cineclube Aranha é uma opção alternativa para os cinéfilos da cidade e, também, para quem está descobrindo o cinema fora do circuito comercial de exibição em Belo Horizonte. Além de incentivar a circulação de produções dirigidas por mulheres, o projeto foi criado para fomentar as discussões sobre o protagonismo feminino atrás das câmeras e estimular a formação de uma rede colaborativa entre público, produtores, diretores e diretoras.

Lygia Santos e Juliana Antunes explicam que a indústria cinematográfica tem sido um ambiente hostil para as mulheres ao limitar a participação feminina em diversas produções. “Talvez o cinema seja a mais machista das artes. A presença feminina nos sets se resume a funções consideradas femininas ou à figura de musa. Nas telas, somos reféns do imaginário masculino, que reduz nossa pluralidade a personagens inferiores, fetichizadas, sem importância, sem falas e sem identidade. Nas mesas de debates, idem”, comentam.

Na contramão dessa perspectiva, o Cineclube Aranha chega para evidenciar não só o protagonismo feminino no cinema, como, também, garantir representatividade para as mulheres que acompanharem as sessões. “A nossa proposta é criar, nas sessões do Cineclube Aranha, um ambiente confortável para que as mulheres conversem sobre os filmes em seus diferentes aspectos, que podem ser tanto estéticos como políticos e históricos”, afirma Marcela. Giselle Ferreira destaca que o intuito do projeto é reafirmar que a mulher pode, no cinema, ocupar o lugar que ela quiser. “Ao exibir filmes dirigidos por mulheres, esperamos fomentar o debate sobre a importância do protagonismo feminino nos sets, na crítica, nas mesas e nas telas além de ocupar um importante espaço público da nossa cidade”, ressalta.

De acordo com Mariah Soares, o objetivo das idealizadoras do cineclube é ir além dos debates feministas que rondam o universo do cinema. Para ela, mais do que um clube de filmes sobre mulheres, o Cineclube Aranha quer se consolidar na programação cultural de Belo Horizonte e ampliar os diálogos a respeito da cadeia de produção cinematográfica em Minas Gerais. “Nós desejamos, inclusive, incentivar a capacitação técnica de mulheres e, consequentemente, a formação de uma rede de contatos que facilite a inserção delas nas funções mais vitais para o fazer cinematográfico. A próxima sessão é extremamente especial, estaremos comemorando 1 ano sem nenhum fomento – tudo na raça”.

Foto: Divulgação

Selecionamos os melhores fornecedores de BH e região metropolitana para você realizar o seu evento.