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Estado tem obrigação de incentivar leitura entre crianças quando a estrutura familiar é frágil

Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil aponta que apenas 52,8% da população brasileira têm o hábito de ler

“Eu era proibida de ler em casa. Por isso, arrumava ideias criativas para conseguir ler sem que minha mãe percebesse. Lia durante a noite usando uma lanterna, ia para o banheiro e levava o livro escondido na roupa, lia na escola nos intervalos e até mesmo durante a aula. Minha mãe corria atrás de mim com ameaças de que, se me encontrasse com um livro, iria rasgá-lo ao meio e queimá-lo”, conta a jornalista Vanielle Simão. A falta de incentivo à leitura ainda na infância não fez com que ela desenvolvesse aversão aos livros, como ocorre com grande parte dos brasileiros. Conforme mostrou a última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, apenas 52,8% da população brasileira têm o hábito de ler.

Natural de Itamarandiba, município mineiro de 30 mil habitantes localizado no Vale do Jequitinhonha, Vanielle tinha um contato bem restrito com a leitura. “Naquele cantinho do interior não havia uma livraria ou banca, e os fretes das compras pela internet eram excessivamente altos. Então, muitos só podiam recorrer à biblioteca municipal, que era pequena, simples, mas cheia de histórias que nos aguardavam nas prateleiras”, afirma.

Foi justamente nessa biblioteca que Vanielle conheceu alguns dos autores responsáveis por despertar sua paixão pela leitura, como os irmãos Grimm e Saint-Exupéry (autor de “O pequeno príncipe”). Contudo, as obrigações domésticas fizeram com que ela deixasse a leitura de lado por um tempo.

Passados alguns anos, Vanielle conheceu algumas meninas que também mantinham o gosto pela leitura e dispunham de livros para emprestar a ela. "Eu achava isso sensacional, pessoas que podiam comprar ou obter um livro. E foi assim que, pegando livros emprestados das minhas amigas, voltei a ler”, revela.

A história de Vanielle é um caso à parte quando comparada com a dos demais brasileiros que nunca receberam nenhum tipo de incentivo à leitura. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia 6ª Região Minas Gerais e Espírito Santo (CRB-6), Álamo Chaves, em situações como a de Vanielle, o Estado tem um papel crucial no fomento à leitura.

“Se a escola não der esse suporte, a criança estará fadada a um destino lamentável, a menos que ela tenha muita sorte de encontrar alguém ou alguma oportunidade no caminho dela, ou a correr atrás do prejuízo quando estiver na idade adulta”, ressalta Álamo Chaves.

Foto: Lubos Houska por Pixabay

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