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Comemorando 20 anos de atividades em 2016, o Grupo do Beco (precursor do trabalho cultural no Aglomerado Santa Lúcia, que culminou na criação do espaço cultural Casa do Beco) prepara a estreia de seu novo espetáculo, “Micro Mundo”, para o mês de agosto. A comemoração de aniversário inclui, também, uma homenagem da Câmara Municipal de Belo Horizonte ao fundador da Casa do Beco e morador do Morro do Papagaio, Nil César, por seu trabalho cultural desde os 11 anos de idade na região e pelas duas décadas de atividades com a instituição.

A apresentação de estreia de “Micro Mundo” será na Escola Estadual D. Augusta Gonçalves Nogueira, às 20h, no dia 05/08. O espetáculo será precedido pela homenagem ao Nil César, às 19 h, no mesmo local.  A montagem poderá ser conferida, ainda, em outros dois momentos: no dia 6 de agosto, às 16h, na Praça da Barragem Santa Lúcia e no dia 7 de agosto, às 10h, no Parque Municipal Américo Renné Giannetti. A entrada é gratuita para todas as apresentações.

Seguindo a pesquisa de caráter social proposta pelo grupo nessas duas décadas, “Micro Mundo” retrata a história de pessoas distintas que se encontram dentro de um microônibus que circula pela comunidade do Morro do Papagaio/Aglomerado Santa Lúcia. “Buscamos em nossos espetáculos, e nesse não podia ser diferente, fazer uma dramaturgia próxima da comunidade: a discussão e a transformação social”, comenta o fundador do Grupo e dramaturgo do espetáculo, Nil César.

“Micro Mundo” propõe uma reflexão sobre a intolerância, questão-chave na sociedade brasileira contemporânea. Empatia, transformação e cuidado com o próximo foram os principais conceitos que permearam a pesquisa. Como transformar esta sociedade? Como transformar a intolerância em um respeito pela diferença? O micro-ônibus em que se desenvolvem as ações do espetáculo se torna, assim, uma “micro-sociedade”, onde tais questões se desenvolvem e são problematizadas pelos personagens. “Pensar no ônibus, no universo que se cria ali dentro, as relações que se estabelecem, as histórias que são construídas. O ônibus é um lugar de discussão e também de formação política”, destaca Nil.

Se a atual conjuntura política e social do país é uma fonte importante na construção do texto, outra, mais poética, também se mostra presente: a escrita de Ariano Suassuna, especialmente em Auto da Compadecida. “É um coquetel maravilhoso este que estamos produzindo, para que as pessoas venham brindar conosco”, comenta a diretora do espetáculo, Rosana Ferreira. Construído ao longo de sete meses de trabalho, uma parceria entre dramaturgo, diretora e elenco, o texto de “Micro Mundo” busca na multiplicidade de visões e de experiências uma construção rica de sentidos: “Trago minha experiência e, em troca, aprendo com as experiências dos integrantes do grupo. É um presente participar deste projeto, uma troca que me nutre. O grande feito deste espetáculo é a força de sua ideia”, complementa a diretora.

O novo espetáculo do Grupo do Beco conta com a participação de um jovem elenco, incluindo moradores, não moradores e ex-moradores do Morro do Papagaio, com uma história de relação com as atividades da Casa do Beco na comunidade. É o caso de Beatriz Ferraz que se mudou há anos da comunidade e hoje retorna à ela através do trabalho de atriz do Grupo: “O grupo faz parte do meu crescimento. Sou uma ‘pessoa comum’ e hoje estou tendo a oportunidade de ser atriz, de exercer um ofício que me satisfaz. Conheço o Grupo do Beco há 20 anos e hoje posso ajudar na busca pela transformação das pessoas”.  Também integrante do elenco, Fernanda Carvalho, moradora de outra comunidade (o Morro das Pedras), iniciou sua relação com a Casa do Beco como aluna de uma oficina para adolescentes realizada em sua escola em 2012, por meio das oficinas e atividades artísticas promovidas pelo centro cultural, e hoje também é arte-educadora da instituição: “Queria trabalhar com algo que pudesse tocar a pessoas, transformá-las. Vi que dentro da Casa do Beco posso fazer isso. Se um espectador questionar o que está acontecendo em cena é uma alegria, uma mudança pode ter início a partir daí”.

O espetáculo “Micro Mundo” é apresentado pela Petrobras, mantenedora da Casa do Beco através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Estado de Minas Gerais, e patrocinado pelo Instituto Unimed BH, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Fundador da Casa do Beco é homenageado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte

A homenagem será realizada no dia 5 de agosto, às 19h, na E. E. D. Augusta Gonçalves Nogueira, logo antes da estreia do espetáculo “Micro Mundo”. A Câmara Municipal homenageará o arte-educador Nil César, por sua relevância social não apenas para a comunidade na qual se insere, mas para toda a cidade de Belo Horizonte. Nil iniciou seu trabalho em prol da melhoria na qualidade de vida de sua comunidade aos 11 anos, montando aos 20 anos o Grupo do Beco, em 1995. Inaugurada em 2003, a Casa do Beco, hoje, mais do que sede do grupo, é um centro sócio-cultural para a comunidade e para a cidade.

:: Sobre Nil César ::

Morador do Aglomerado Santa Lúcia desde que nasceu, Nil César tem uma trajetória de 20 anos com a Casa do Beco. Nil também já trabalhou em ações variadas como o Programa Agente Jovem, Fica Vivo, Pró Jovem, Mediação de Conflitos e Casa Santa Paula, dentre outros. Além das atividades em sua comunidade, já atuou como arte-educador no Cabana do Pai Tomás, no Alto Vera Cruz, no Aglomerado da Serra, no Zilah Spósito, na Pedreira Prado Lopes e também em regiões mais distantes do estado, como o Vale do Jequitinhonha. Integra a Comissão Estadual dos Pontos de Cultura de Minas Gerais, é um dos mobilizadores da Rede Brasileira de Teatro Comunitário e, recentemente, fundou um grupo de autores lusófonos nominado Literatvs (já composto por escritores de vários estados do Brasil, Portugal, Angola e Moçambique). Sua trajetória de ação cultural o leva a compartilhar suas experiências em palestras e cursos universitários, além de sua ampla atuação à frente da Casa do Beco.

:: Sinopse de “Micro Mundo” ::

Em uma comunidade que depende do transporte público para se locomover, o microônibus é o lugar onde vários personagens revelam explicitamente seus preconceitos, julgando umas às outras a partir de estereótipos. É também neste espaço que acontece uma transformação, capaz de conduzir todos para um momento repleto de experiências surreais, inusitadas e cheias de possibilidades. Mas é ali, também, o lugar onde todos serão julgados. Uma boa viagem a todos!

Foto: Nil César