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Um diálogo brasileiro com Dostoiévski

Autora radicada em Curitiba promove conexões entre a linguagem cinematográfica, a realidade social brasileira e a vida e a obra do escritor russo.

A intertextualidade é característica marcante do romance contemporâneo Encarcerado, escrito por Lílian Fleury Dória será lançado no próximo dia 27 de agosto, ás 19 horas, na Livraria Leitura – Pátio Savassi .

 

O ponto de partida da autora mineira, radicada em Curitiba desde 1983, foi a sua tese de Doutorado em Multimeios, realizada na Unicamp. A pesquisa visava a elaboração de um roteiro cinematográfico autoral que fizesse uma transcriação da obra de Dostoiévski, ou seja, uma criação a partir de um diálogo com a trama central de uma história do escritor. O resultado do trabalho acadêmico foi inquietante, incentivando a autora a transformar a escrita própria do cinema em um romance com cenas e diálogos dinâmicos, tempos subjetivos e personagens profundos, ambientados à realidade brasileira. 

 

A história de Encarcerado acontece em dois tempos: o primeiro em 1978 - no início da abertura do país após o regime militar, o segundo no ano 2000 - com alguns resquícios e revisões do regime ditatorial.  O fio condutor é a vida de um homem, aparentemente indigente, que foi preso sem maiores provas no período final da ditadura brasileira. Vinte e dois anos depois, ele sairá da prisão pelo trabalho de um defensor público. O protagonista não tem nome ou identidade e parece ter sofrido um trauma muito grande. Sujo, desorientado e vivendo nas ruas há semanas, ele vai se entregar à polícia por um crime que acredita ter cometido.

 

De acordo com a autora, o livro aborda o encarceramento físico e psicológico do protagonista fazendo um arco no tempo entre duas obras do romancista russo: A Dona da Casa (também traduzido como A Senhoria) e O Homem do Subsolo. “Eu trago os personagens da primeira novela escrita pelo jovem Dostoiévski, em 1846, A Dona da Casa, com todas as suas inquietações, e até fragilidades, e os transporto para o Brasil do século XX”.  Lílian ainda explica que o personagem principal de Encarcerado, que foi inspirado no discurso do homem do subsolo e na busca da autora em criar um alter ego de Dostoiévski, luta para descobrir a sua identidade e faz isso por meio da escrita, forjando o seu próprio romance e tendo como modelo, para isso, a obra do escritor consagrado. 

 

As referências que Encarcerado faz a Dostoiévski, porém, não se limitam apenas à sua produção literária. Em 2012, por meio de uma bolsa da Fundação Araucária da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Paraná, Lílian viajou à Rússia para aprofundar a sua pesquisa de Doutorado. No país, mergulhou no universo do autor, em São Petersburgo e Moscou – vivência que enriqueceu ainda mais a obra com alusões também à biografia do romancista. “O livro é o resultado de uma pesquisa minuciosa de sete anos. Além de ser uma história de ficção, pretende promover uma reflexão sobre o processo de criação, tanto do jovem sonhador, quanto do homem maduro”, destaca Lílian Fleury Dória.

 

Sobre a autora:

Lílian Fleury Dória é mineira, mas reside em Curitiba desde 1983. É Mestra em Literatura Brasileira pela UFPR e Doutora em Multimeios (Cinema e Literatura) pela UNICAMP. Com formação em Filosofia e Arquitetura e Urbanismo, por 30 anos foi professora do curso de Artes Cênicas da Faculdade de Artes do Paraná (UNESPAR) ministrando diversas disciplinas, entre elas: Interpretação, Roteiro para Cinema e Dramaturgia. Também construiu vasta carreira como diretora de teatro, atriz e produtora. Autora da obra literária Linguagem do Teatro (2009), também escreveu capítulos dos livros Metodologia do Ensino de Arte (2011), Por Dentro da Arte (2009) e Avaliação no Ensino de Arte (2009). Lílian ainda publicou diversos artigos científicos sobre dramaturgia, cinema, literatura e teatro.

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