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Viola perfumosa - uma homenagem à inezita barroso Coletivo formado por ceumar, lui coimbra e paulo freire lança seu primeiro cd em belo horizonte

dia 08/09, sábado, no Teatro do Minas Tênis

O Viola Perfumosa, coletivo formado por três dos mais expressivos "cantautores" contemporâneos, a mineira Ceumar, o carioca Lui Coimbra e o paulista Paulo Freire, lança em Belo Horizonte, dia 08 de setembro, sábado, no Teatro do Minas Tênis seu primeiro CD homenageando uma das mais emblemáticas artistas da música popular brasileira, Inezita Barroso. Neste show, os três artistas cantam e se dividem tocando todos os instrumentos.

O Viola Perfumosa resgata e recicla a genialidade e a sofisticação das melodias e da poesia da música que se convencionou chamar “caipira”, compondo um mosaico do Brasil “de dentro”, “dos interiores”, ressaltando a singularidade desta obra poético-musical, iluminando a importância da presença feminina na música sertaneja de raiz.

Você já assistiu ao programa “Viola, Minha Viola”? E a música “Luar do Sertão”, conhece? “Tamba-Tajá” também? Tais obras, do título televisivo às canções, ganharam corpo com Inezita Barroso, a “dama da música caipira”. No decorrer de seus 90 anos, a intérprete de “Lampião de Gás” deu-se toda à cultura interiorana, à admiração e ao respeito enormes por aquilo que está distante do urbano, aquilo que se encontra no “de dentro”. Mesmo após sua morte, em 2015, inspirações e tributos não cessaram. Entre os intentos potentes dedicados a Inezita, destaca-se o Viola Perfumosa, reunião de Ceumar, Lui Coimbra e Paulo Freire.

O trio, cerne de um projeto idealizado pela produtora Renata Grecco, lança um disco-homenagem, marco celebrado em um show que resgata e recria a poética daquela que, no íntimo da alma, possuía um pouco de terra e mar.

O encontro certo

Viola enluarada, quebrada, “marvada”… Agora, repleta de aromas. Muitas são as facetas do instrumento-símbolo que, nas mãos da dona maior, se colocou como estandarte da raiz do dito raiz. Esse caleidoscópio rural chegou a Ceumar, Lui e Paulo de formas distintas. A moça da Serra da Mantiqueira ganhou, há tempos, uma caixa de CDs de Inezita. Escutou, escutou de novo e uma vez mais. Encanto firmado. O carioca conheceu grande parte do repertório da senhora Ignez por causa do pai mineiro de Ouro Fino, ouvinte assíduo. Herança paterna, portanto, a afinidade instalou-se no músico, hoje amante do folclore. Já o paulistano, desde cedo, foi incentivado no ciclo familiar a descobrir o universo das melodias: ainda menino, influenciado pela leitura de Grande Sertão: Veredas (1956), embrenhou-se Brasil adentro, trilha pessoal que muito o liga à homenageada.

Diferentes caminhos que, em 2016, se encontraram no palco: em Curitiba, a trinca formou-se primeiro. Espetáculo realizado, troca e êxito postos em pulsação, término de uma ideia, início de outra. Veio então o álbum. “Pegamos as canções que funcionaram mais no show e as mais afetivas. E não tivemos medo daquelas que são óbvias”, afirma Lui. Paulo completa: “Levantamos um repertório próximo ao de que Inezita gostava, ao que ela fazia. Procuramos manter o foco na cultura popular e expor a nossa visão disso tudo”.

Para a apresentação no Teatro do Minas Tênis, tal essência ganhou reforço vindo da mescla do ao vivo, energia forte, com a bagagem do projeto amadurecido. “Foi rico construirmos algo em um repertório bastante vasto. Fizemos uma fusão do que, individualmente, poderíamos abraçar. O processo todo foi tranquilo e democrático”, conta Ceumar. Um exemplo desse espírito igualitário é a inclusão de “Bolinho de Fubá” na setlist, registro contemplativo da vida na roça que logo fisgou a cantora mineira, cuja memória se funde às imagens do alimento, do café quentinho e da chuva miúda a cair. A intérprete de “Silencia” (2014) sugeriu a composição aos colegas, que concordaram sem titubeio.

Profundo e além

O resgate de lembranças é elemento quase intrínseco ao sorver da obra em questão. O fio que amarra Ceumar ao bolinho é semelhante aos vários outros que, plateia afora, prendem, carinhosamente, os ouvintes. Trata-se de ir às entranhas do país e de si próprio, visitar lugares e emoções que, por vezes, são postos à margem. “São músicas que moram no coração e na saudade de muita gente”, comenta a mineira. Fora que atrelar sentimentos assim a expressões que vêm do povo é um jeito afiado de ser contra uma espécie de preconceito ainda em vigor – a insistência em virar o rosto para o que não nasce no rol do eruditismo. “Somos feitos da cultura popular – ela é uma riqueza nossa. Queremos que todos notem isto: a maravilha que é fazer parte dessa tradição”, diz Lui.

Inezita Barroso, com propriedade, sentia e engrossava o fascínio desse pertencimento. Lado artístico alinhado à pesquisa, estudou, pisou o barro, pôs as botas para andar, proseou sem fim. Como Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos, esmiuçou o terreno das notas coletivas; mas nem por isso vestiu-se com um ar acadêmico pesado. Ao contrário. Com humor, apertava feridas, rasgava os problemas na vista de qualquer um. “Ela carregava a força de quem luta pelo que acredita – e é independente”, frisa Paulo. São essas amálgamas, tantas e tantas, que os integrantes do Viola Perfumosa recuperam. Um retornar aos olhos que enxergam a nobreza no chão, no cotidiano, no simples. No Brasil longe da costa. Um percurso cujo efeito é, no final, possuir você também um pouco de terra e mar.

Foto: Leo Aversa

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