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Jornalista Jaiton Batista lança livro

Após quase quinhentos anos de colonialismo e 33 de independência, dos quais 27 deles vivendo sob a mais fratricida e duradoura guerra civil africana, Angola se prepara para, no próximo dia 5 de setembro, realizar a primeira eleição para o Parlamento, em clima de aparente normalidade, depois de seis anos da conquista da paz. Em 1992, uma eleição conjunta para escolha dos candidatos à Assembléia Nacional e para a Presidência não chegou a ser concluída porque, antes do segundo turno, foi retomada a guerra entre os dois exércitos – da Unita, de Jonas Savimbi, e do MPLA, do atual presidente José Eduardo dos Santos. O jornalista e executivo Jailton Batista, que nos últimos seis anos tem visitado e trabalhado naquele país, não poderia encontrar um momento mais adequado para lançar o seu primeiro romance, Duas mulheres, quatro amores e uma guerra civil. O romance combina com arte ingredientes comuns às boas ficções – trama bem urdida, personagens tridimensionais, foco narrativo que explora a onisciência, ações em timing correto, conflitos externos e internos em mútua correspondência. Mais do que prender a atenção do leitor, este romance é capaz de comovê-lo. Há nele, ainda, um ingrediente que poucas vezes encontramos nos romances, que é seu lastro de verdade. A trama não é apenas verossímil, ela é verdadeira, calcada sobre fatos históricos – a guerra civil angolana – e sobre testemunhos de atores desses conflitos, colhidos pelo autor. As recentes reportagens sobre o resgate de prisioneiras mantidas pelas FARC durante anos na selva colombiana e a leitura deste Duas mulheres, quatro amores e uma guerra civil revelam ao leitor pontos de convergência, mostrando como são semelhantes todos os conflitos armados, como são iguais os homens, quando tomados pela fúria da paixão, do poder ou do ódio. E mostra, mais uma vez, como ainda persiste a opressão machista e dominadora do homem sobre a mulher, do poderoso sobre o fraco. Mas um romance não é uma reportagem e, embora Jailton Batista tenha militado no jornalismo, sua narrativa apresenta nítidos contornos ficcionais, distancia-se do factual e alcança uma dimensão mais ampla e universalizante, própria da literatura. Isso se deve à sua construção, que parte da realidade histórica, mas projeta-se além dela. O cenário deste romance são as selvas, estradas e acampamentos militares angolanos; o tempo é a segunda metade do século XX; a situação é a da guerra civil em Angola; os personagens principais são duas mulheres, Esperança e Fatu, feitas prisioneiras por um dos exércitos. Preferindo assumir a visão das duas protagonistas duplamente oprimidas, Esperança e Fatu, que, além de mulheres, são prisioneiras de guerra, o autor não defende uma causa política, não prega uma ideologia, apenas ressalta o absurdo de uma guerra fratricida – esta ou qualquer outra, em qualquer país. Dessa sua escolha decorre a exemplaridade do drama narrado. Não é uma ficção que se limita a uma posição geográfica, a uma data calendário, a um movimento político. É um drama essencialmente humano, de apelo permanente e universal. Vale a pena conferir.

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