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PQNA Galeria Pedro Moraleida recebe a exposição ARTE POPULAR BRASILEIRA

Entre as obras em madeira e cerâmica, trabalhos de GTO e de discípulos de Dona Isabel

A PQNA Galeria Pedro Moraleida recebe, na próxima semana, a exposição Arte Popular Brasileira. A partir de um recorte da produção popular brasileira atual, a mostra reúne 27 obras em madeira e cerâmica que abrangem o que há de mais expressivo e original nesse segmento. A exposição é composta de trabalhos dos artistas mineiros Ananias Elias, Artur Pereira, Geraldo Teles de Oliveira (GTO), José Ricardo Resende, José Valentim Rosa, Placidina Fernandes do Nascimento e Ulisses Pereira Chaves. Somam ao conjunto obras de João Cosmo Félix, do Ceará, Antônio Alves dos Santos, de Alagoas, Cícero Alves dos Santos, de Sergipe, Francisco Moraes da Silva, do Rio de Janeiro, e Lafaete Rocha Ribas, do Paraná.

Pertencendo em sua totalidade a coleções particulares mineiras, as obras da exposição Arte Popular Brasileira representam o modo de vida de um povo, reflexo de tradições, costumes e crenças. De acordo com o diretor do Centro de Arte Popular CEMIG e curador da mostra, Tadeu Bandeira, o objetivo da exposição é apresentar ao público obras de artistas brasileiros praticamente desconhecidos. “Naturalmente, a arte popular mineira é muito conhecida e apreciada. Assim, é importante trazer até Minas Gerais alguns artistas do nordeste brasileiro e outros expoentes do Rio de Janeiro e do Paraná nunca aqui mostrados”, afirma o curador, que também destaca a importância da preservação desse patrimônio artístico. “A rigor, o auge da arte popular brasileira ocorreu nas décadas de 1960 e 1970. Dos 13 artistas participantes, apenas dois nomes ainda são vivos e atuantes: Véio (Cícero Alves dos Santos) em Sergipe e Zézin (José Ricardo Resende) em Minas. Todos os demais já se foram, mas constituem o núcleo principal dessa arte que mantém o aspecto do primitivismo e da autenticidade do nosso país”, conta Bandeira.

Ainda segundo o curador, a disposição das obras foi organizada para que as peças possam ser vistas de vários ângulos – já que a sua maioria é esculpida na frente e no verso. “Buscamos não aglomerar ou trazer obras em grande número, para que o público absorva melhor o conjunto exposto. A mostra possui esculturas e algumas cerâmicas do Vale do Jequitinhonha, uma moringa (recipiente para água) de cunho utilitário e seis outras chamadas de ‘cabeças de milagres’ – representações segmentadas da cabeça isolada do corpo. Todas as obras possuem adornos, exigindo uma boa circulação do público para que sejam apreciadas”, afirma.

Para Bandeira, que iniciou sua carreira há 40 anos com uma exposição de Ulisses Pereira Chaves – artista que também faz parte da mostra Arte Popular Brasileira, ocupar a PQNA Galeria Pedro Moraleida é um grande prazer. “Realizar uma exposição em uma galeria que recebe o nome de Pedro Moraleida, um dos mais talentosos artistas mineiros, é de grande importância na minha longa carreira de curador. Procuro valorizar a arte popular mineira, buscando novos nomes e relembrando aqueles que foram esquecidos, mas têm imenso valor”.

Construindo tradições – Levada pelo inconsciente, a arte popular é resultado de um estímulo, no qual o artista é afetado pelo ambiente onde vive. Nela, o homem exprime seus anseios e busca a expressão do mundo material ou imaterial que o permeia. Certo de que a exposição provocará reflexões, Bandeira cita alguns exemplos de artistas que compõem a mostra e transmitem parte de suas vivências nas obras de arte. “O artista Lafaete Rocha, do estado do Paraná, possui trabalhos que sempre pontuaram o homem-animal, misturando em suas esculturas a figura humana com animais como o cavalo, o boi, a raposa e a girafa. O real significado disso é a passagem ou as migrações do homem do interior para as capitais, reflexo da experiência do artista quando se transferiu do campo para Curitiba”, pontua o curador.

Outra curiosidade artística vem da obra de Chico Tabibuia (Francisco Moraes da Silva), artista fluminense cujas esculturas quase sempre contém símbolos fálicos. “O propósito da arte de Tabibuia não é pornográfico, e sim erótico. É uma expressão da força do Eros, deus do amor e erotismo, na dualidade masculino/feminino”, conta Bandeira. Já o artista mineiro GTO (Geraldo Teles de Oliveira) desenvolveu uma obra de caráter universal que avançou a linha do primitivo, atingindo outros conceitos e patamares. “Sua criativa obra é fruto de sonhos e visões, uma arte imaginativa e espontânea. Ele transcende um mundo de sonhos e uma poética intensa para suas esculturas”, conclui.

ARTISTAS

Ananias Elias (1925 – 1989) – Nasceu em Varre Saia (MG) e iniciou sua vida profissional como agricultor e padeiro. Transferindo-se para Belo Horizonte, passou a dedicar-se à escultura, com a representação de figuras do cotidiano, ou seja, moças, rapazes e mães com filhos. Ananias gostava ainda de talhar animais com total liberdade de invenção. Ao longo da vida, recebeu importantes premiações como o Ibirapuera e o Santos Dumont. Em 1987, teve a oportunidade de participar da mostra Brésil, Arts Populaires, no Grand Palais em Paris.

Antônio Alves dos Santos (1953 – 2017) – Conhecido como Antônio de Dedé, nasceu em Lagoa da Canoa, Alagoas. Para garantir o sustento da família, trabalhou na roça e na carpintaria. Passou a esculpir bonecos com variadas formas inventivas, sendo chamado de “fazedor de bonecos”. Descoberto por colecionadores, vem sendo representado nas mais importantes galerias de arte do país. Em 2012 e 2014 suas obras obtiveram destaque nas exposições Histoires de Voir e Vivid Memories realizadas pela Fundação Cartier em Paris.

Artur Pereira (1920 – 2003) – Artista mineiro nascido em Cachoeira do Brumado, distrito de Mariana, é considerado hoje um dos grandes nomes da arte popular brasileira. De sua produção inicial com pequenas figuras de barro, partiu para monoblocos de cedro, com representações abrangendo elementos religiosos (presépios) e elementos rurais (caçadas, desmame das ovelhas, boiadas e animais variados). Em 1967, participou da exposição Brésil, Arts Populaires, realizada no Grand Palais, em Paris. O Instituto Moreira Salles organizou uma grande exposição com suas obras, que circulou por várias capitais do Brasil. Faleceu no pequeno distrito onde sempre viveu, deixando uma extensa obra em coleções particulares.

Cícero Alves dos Santos (1948 –) – Apelidado de Véio, nasceu em Sergipe. Desde criança esculpia em cera de abelha, até encontrar em definitivo a madeira como matéria de expressão. O rancho onde mora é cercado por figuras talhadas em tamanho natural, criando uma atmosfera onírica. Em 2015 sua obra atravessou fronteiras e fez parte da 56ª edição da Bienal de Veneza, passando a ocupar as dependências e pátios daAbadia de São Gregório, com 104 esculturas de médio e grande porte. Desde então, sua arte situa-se no liame do popular com o contemporâneo.

Francisco Moraes da Silva (1936 – 2007) – Conhecido como Chico Tabibuia, nasceu no município fluminense de Casimiro de Abreu (RJ), sendo criado na extrema miséria. Aos dez anos de idade esculpiu sua primeira escultura e, dos 13 aos 17 anos, frequentou um terreiro de umbanda, passando a presenciar com frequência as entidades de exus e retratá-los nas esculturas. Tabibuia traz um elemento erótico/não pornográfico em sua arte, tentando exprimir a força de Eros na dualidade masculino/feminino.

Geraldo Teles de Oliveira – G.T.O. (1913 – 1990) – Mineiro de Itapecerica, viveu grande parte de sua vida em Divinópolis. Ao longo da vida, desenvolveu uma obra de caráter universal que extrapolou a noção de arte primitiva. Sua criativa obra é fruto dos sonhos do artista, criando uma arte imaginativa, onírica e espontânea. Também participou da exposição Brésil, Arts Populaires, realizada no Grand Palais, em Paris, sendo considerado um dos mais originais artistas brasileiros.

João Cosmo Félix (1920 – 2002) – Conhecido como Nino, nasceu e sempre viveu com sua família em Juazeiro do Norte, no Ceará. Iniciou sua arte fazendo brinquedos e animais de madeira, até alcançar esculturas de maior porte, com variadas e acentuadas cores, explorando cenas de reisados e de casamentos. Além de integrar importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior, sua obra teve também participação na exposição no Grand Palais em Paris, bem como na Mostra do Redescobrimento realizada pela Fundação Bienal de São Paulo no ano 2000.

José Ricardo Resende (1964 –) – Também chamado de Zezin, conviveu desde cedo com a madeira na atividade de marceneiro. O artista vive e trabalha em Belo Horizonte, dedicando-se hoje exclusivamente a esse ofício. Filho de uma família proprietária de um parque de diversões itinerante, conviveu com um universo de cores e fantasias, que refletiram em sua produção artística. Passou a cortar pequenas peças de madeira, até atingir pesados e instigantes blocos com formas geométricas descompromissadas, sem qualquer rigor ou preocupação de equilíbrio matemático em uma geometria popular ou rural.

José Valentim Rosa (1914 – 1999) – Nasceu na cidade de Carandaí (MG), descendente de uma família de escravos. Já adulto, transfere-se para Belo Horizonte e passa a trabalhar na Central do Brasil, iniciando sua atividade artística de maneira informal, brincando com a madeira e a pedra-sabão. A figura humana se faz presente na maioria das obras, surgindo naturalmente e pelo aproveitamento da matéria prima, sempre personificando entidades divinas, construídas com muito rigor e simetria. Outro lado da sua obra está na representação de animais assustadores e desfigurados, altamente expressivos. Possui obras no acervo do Museu de Folclore Edison Carneiro e na Casa do Pontal, ambos no Rio de Janeiro.

Lafaete Rocha Ribas (1934 – 2003) – Conhecido como Lafaete, nasceu na Lapa, no Paraná. Exerceu inúmeras atividades até chegar na escultura, com seus santos e profetas, experimentando a cera, o barro, a pedra, até fixar-se na madeira. Apesar de considerar-se santeiro, sua notoriedade adveio da execução dos homens-bichos, extraordinárias esculturas que representavam a passagem do homem brasileiro do campo para a cidade. Assediado pela crítica especializada, transferiu-se para Curitiba onde veio a perder dois filhos e a sua própria casa em um incêndio. Desestimulado e com dificuldades financeiras, retornou à sua cidade natal em 1976, onde viveu da agricultura e da escultura até sua morte.

Placidina Fernandes do Nascimento (1930 – 1986) – Nasceu na cidade de Joaíma, em Minas Gerais. Iniciou sua vida profissional como parteira em Santana do Araçuaí, dedicando-se ainda à produção de cerâmica utilitária, fazendo potes. Passou a modelar bonecas e cabeças de milagres sob a orientação de vizinha e amiga, a famosa Dona Isabel. Sua arte reflete todo o sofrimento do povo da região, sendo considerada hoje uma das mais expressivas do Vale do Jequitinhonha.

Ulisses Pereira Chaves (1924 – 2006) – Conhecido como Sr. Ulisses, foi um grande ceramista do Vale do Jequitinhonha, com um imaginário diferenciado e muito original. Trabalhou com representações de seres fantásticos com várias cabeças, pássaros com pés humanos, dentre outras esculturas de caráter universal. Sua arte advém de gerações familiares anteriores, tendo hoje continuidade através dos filhos Margarida e Zé Maria. Possui uma importante obra em coleções particulares e instituições como o Memorial da América Latina em São Paulo, além dos museus Edison Carneiro e Casa do Pontal no Rio de Janeiro.

Foto: Paulo Lacerda

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