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Teatro - Auto da Compadecida, da Cia Maria Cutia, com direção de Gabriel Vilela, em BH

Em 13 anos de trajetória, a companhia mineira celebra a primeira parceria com o consagrado diretor, na montagem de releitura da obra de Ariano Suassuna, com temporada de apresentações pelo país.

O Brasil atual, a partir de personagens e situações que ganham acento ainda mais sarcástico do que os encontrados na dramaturgia original. Assim é a versão do espetáculo “Auto da Compadecida”, montada pelo grupo mineiro Maria Cutia, que celebra a sua primeira parceria com o diretor Gabriel Villela. A tradição circense, aliada a outras linguagens populares, dá o tom do espetáculo, que agrega ao texto de Ariano Suassuna pitadas brechtianas e um olhar contemporâneo.

Inspirado na abordagem mítica brasileira do herói sem caráter, o Maria Cutia narra, em cena, as aventuras picarescas de João Grilo e Chicó que começam com o enterro e o testamento do cachorro do Padeiro e de sua Mulher e acabam em uma epopéia milagrosa no sertão envolvendo o clero, o cangaço, Jesus, Maria e o Diabo. Antes de estrear em casa, a montagem se apresentou na Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, no Festival Internacional de São José do Rio Preto (FIT – Rio Preto) e no Festival Nacional de Teatro de Passos, chegando a São Paulo, no Sesc Pompéia, onde permaneceu por um mês em cartaz, com ingressos esgotados no terceiro dia de apresentações. Em Belo Horizonte, o espetáculo será apresentado nos dias 05 e 06 de outubro (sábado às 21 horas e domingo, às 19h), no Grande Teatro do Sesc Palladium.

Para Gabriel Villela, o prazer de trabalhar em uma obra de Ariano Suassuna está na sua proximidade com o povo. “Não somente a escrita para teatro, mas os romances têm uma capacidade muito grande de assimilação da identidade, da alma da nossa cultura, da nossa essência. E eu consegui enxergar o Maria Cutia dentro da fábula, dentro dessa linguagem. O grupo tem essa veia da cultura popular, além de qualidade artística e estética muito grande. Trabalhar com o Maria Cutia é um retorno às minhas origens”, diz.

“Inicialmente, iríamos montar o Mistero Buffo, de Dario Fo. Contudo, a montagem foi adiada. Mas no verão deste ano o Gabriel me ligou e, na coragem e na raça, sugeriu montarmos o Auto da Compadecida. E aqui estamos nós!”, lembra Leonardo Rocha, ator e fundador do Maria Cutia. A partir desse convite a Cia decidiu embarcar em um financiamento coletivo que contou com o apoio de mais de 350 colaboradores e foi fundamental para levantar um recurso inicial para a montagem do Auto da Compadecida.

Nessa versão de "Auto da Compadecida", o Maria Cutia, em alquimia com a direção de Gabriel Villela, consegue unir diversas linguagens. O teatro de revista serve de pano de fundo para paródias sobre o Brasil atual. As notícias surgem em diversos momentos, sempre associadas às histórias dos personagens. O teatro musical também se soma à montagem, que tem sua trilha inspirada, especialmente, na Tropicália. “Alegria Alegria”, de Caetano Veloso, e “América do Sul”, de Ney Matogrosso, estão entre as canções que narram a trajetória de Chicó e João Grilo.

A preparação vocal dos atores foi feita pela Babaya, que assina a direção musical e de texto (ao lado de Fernando Muzzi e Hugo da Silva). “Esta é a 35ª montagem de Gabriel Villela que faço a direção musical e temos uma sintonia muito forte e especial com relação às escolhas das músicas. Sempre quando ele escolhe um texto, ele já tem na cabeça algumas músicas que nortearão o trabalho. A partir desta inspiração inicial, caminhamos por um universo amplo de possibilidades. Eu preparo e oriento os atores para que eles executem as canções de acordo com a dramaturgia e com o que o Gabriel espera como resultado!”

Em cena, também se percebe claramente a estética barroca que Gabriel Villela costuma apresentar em seus trabalhos. “Suassuna é um gênio da dramaturgia mundial, está no mesmo padrão de Cervantes, Calderón, Gil Vicente. Auto da Compadecida é, sem dúvida, o texto mais conhecido do teatro brasileiro e Gabriel Villela, com sua batuta barroca, misturada a outras linguagens, transformou-o numa peça atemporal, cosmopolita, universal”, diz Leonardo Rocha.

O figurino também é visto como um dos pontos altos do espetáculo, que conforme explica Gabriel Villela, foi construído a muitas mãos. “Toda a montagem tem uma plástica, uma moldura impecável. Tudo pensado e criado com as participações do elenco. Fomos para o meu ateliê, em Carmo do Rio Claro (MG), e eu pedi aos atores que escolhessem tudo aquilo que imaginassem estar no universo do Auto da Compadecida. Assim nasceu o figurino, com pedaços de panos e peças. Uma grande colcha de retalhos.”

Para Leonardo Rocha, o figurino foi um universo à parte no processo. “Após a seleção, o Gabriel montou um ateliê na nossa sede, para ir experimentando, refazendo, reconstruindo, em um verdadeiro trabalho de construção e demolição de tecidos, coordenado pelo seu assistente, José Rosa. Vimos os personagens ganhando forma, cor, texturas, na nossa frente, enquanto ensaiávamos. Foi mágico”, vibra Leonardo Rocha, que tem ao seu lado no elenco os atores Hugo da Silva, Mariana Arruda, Lucas Dê Jota Torres, Malu Grossi, Marcelo Veronez e Polyana Horta.

O espetáculo, que tem realização do Ministério da Cidadania e Governo Federal, compõe a Temporada Pólobh 2019 que assegura a circulação, em Belo Horizonte, de grandes nomes das artes do Brasil e do Mundo, com produção executiva local da Pólobh, patrocínios locais do Instituto Unimed-BH e Pottencial Seguradora, apoio BS2 Banco e MIP Engenharia e Localiza Hertz como locadora oficial, viabilizados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, parceria estratégica com o Jornal O Tempo e Rádio Super FM, promoção exclusiva da Rádio Alvorada e apoio da Fredizak, HBA, SouBH além do apoio cultural do Sesc MG.

Foto: Tati Motta

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