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Grupo Maria Cutia estreia novela ao vivo com o espetáculo “Ópera de Sabão”

Nova montagem de rua da cia faz uma viagem aos tempos da radionovela. Com direção de Eduardo Moreira e texto de Raysner de Paula, a estreia será no dia 08 de outubro, às 20h, na Praça Duque de Caxias.

Uma rádio em decadência apresenta sua última novela com a esperança de não sucumbir diante da chegada da televisão. Este é o enredo central de “Ópera de Sabão”, novo espetáculo do Grupo Maria Cutia, inspirado nas radionovelas, que tiveram seu ápice nas décadas de 40 e 50 e foram fundamentais na consolidação da linguagem radiofônica, desaparecendo nas décadas seguintes com o avanço da teledramaturgia. A montagem conta com o patrocínio da Petrobras e terá sua estreia oficial em rápida temporada na Praça Duque de Caxias (Santa Tereza), de 08 a 12 de outubro, sempre às 20 horas.

 

A ideia de montar um melodrama surgiu nas viagens do Maria Cutia pelo interior de Minas. Em muitas das mais de 100 cidades mineiras por onde já passou a Cia. “O público, ao ver o cenário do teatro montado na rua, veio nos aconselhar que é preciso explicar ao povo da cidade o que é teatro, pois talvez ninguém por ali nunca tenha visto uma peça. E nós, curiosos, perguntamos: ‘mas o que é teatro?’ E eles nos respondem: ‘uai, teatro é novela ao vivo’”, conta a atriz Mariana Arruda. Inspirados por esse imaginário popular, o Grupo Maria Cutia convida o público a participar dessa “novela ao vivo” que é o teatro.

 

Com direção de Eduardo Moreira, do Grupo Galpão, o espetáculo mistura o melodrama, bem típico da dramaturgia adotada no rádio e na televisão, além da paródia cômica. O convite para Eduardo veio resgatar uma parceria de sucesso. “O Eduardo é um artista que pensa em ‘como fazer’ e ‘o que pode fazer’ o teatro. Ele dirigiu nosso último espetáculo e tivemos uma enorme sintonia, da forma que acreditamos e queremos exercer nosso ofício. E como é um grande estudioso do melodrama não poderíamos escolher outro diretor”, define o ator Leonardo Rocha. Para o diretor, este trabalho é a oportunidade de dar continuidade ao desenvolvimento do teatro de rua: “temos uma irmandade artística. Somos feitos do mesmo barro, o ofício do teatro popular e mambembe, com o foco na rua. Acho que esse novo espetáculo dá continuidade à nossa pesquisa iniciada em ‘Como a Gente Gosta’ e representa uma evolução no trabalho em todos os sentidos”.

 

No enredo, a decadência de uma companhia de rádio-atores, prestes a perder seu patrocínio, e que resolvem tentar manter a rádio no ar. “A intenção é fazer uma analogia entre a decadência daquele gênero com as nossas atuais dificuldades no ofício do teatro”, conta Leonardo. A rádio-novela “Meu irmão é filho único” explora personagens, vilões e mocinhos, que vão do exagero ao ridículo. “Podemos dizer que a peça tem dois núcleos dramatúrgicos, a da radionovela, que chamamos ‘ficção’, e a da convivência dos radioatores, que chamamos ‘realidade’”, explica o ator Hugo da Silva.

 

O grupo iniciou o processo com estudos de textos de circo-teatro. A partir destes estudos, os atores criaram workshops (cenas curtas com o maior número de elementos cênicos possíveis: personagens, diálogos, figurinos, luz, cenário e trilha) para apresentar ao diretor. Com este material cênico, convidaram o dramaturgo, Raysner de Paula para escrever o texto final. “Conhecíamos alguns textos do Raysner, apresentados no projeto Janela de Dramaturgia, e foi um delicioso exercício. Ele assistiu as cenas que fazíamos e trouxe a primeira proposta de enredo. Um texto saborosíssimo, que nos deliciamos já na primeira leitura. Aí, começaram os estudos de mesa conduzidos pelo Eduardo e pelos exercícios de escrita do Raysner. Vem texto, volta texto, incontáveis versões, com cortes e mudanças de caminhos das personagens até chegar a esta versão que vamos estrear”, destaca o ator Leonardo Rocha.

 

A peça "Ópera de Sabão" tem o patrocínio da Petrobras por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. A montagem foi contemplada na seleção pública do Petrobras Cultural Minas Gerais 2014, que abrangeu, além da montagem e circulação de espetáculos, programação de equipamentos culturais e festivais. O espetáculo foi criado não para o público infantil, mas tem classificação livre, para todas as idades e espectadores. Foi feito para a rua, como o teatro é sempre pensado pelo grupo.

 

Música-em-cena

Presença marcante em todas as montagens do Maria Cutia, a música autoral é parte fundamental do espetáculo, como um personagem especial. No processo de montagem do grupo, a canção é o motor criativo das cenas e nesta “Ópera de Sabão” não é diferente. Jingles, vinhetas e canções, criadas especialmente para o espetáculo e executadas ao vivo pelos atores, inspiradas nos musicais do teatro de revista e das radionovelas, entram em cena e complementam as histórias das personagens. O repertório conta com composições criadas pelo grupo já no início do processo e outras em parceria com o músico Fernando Muzzi, que também assina a direção musical e arranjos da montagem. Durante a construção da peça, os atores do grupo investiram em estudos de arranjos mais complexos e se arriscaram na execução de novos instrumentos como a viola, o violoncello e o trombone. O canto e os estudos de texto foram conduzidos por Babaya, que também contribuiu no desenvolvimento de uma pesquisa profunda na prosódia do canto e da fala, evidenciando a pronúncia de letras como "r" e "l", característica marcante dos profissionais que atuavam na chamada era de ouro do rádio.

 

Novo visual dos atores para compor personagens

Para a caracterização cênica das personagens, os atores investiram em mudanças radicais em seus visuais. Para compor o barbudo Plínio Blanco, dono e locutor da Rádio Drama, o ator Leonardo Rocha está há 10 meses sem fazer a barba. Já a atriz Mariana Arruda precisou descolorir e pintar seus cabelos - que nunca haviam passado por qualquer processo químico – e que agora está ruivo, para compor a interiorana Dora Alice.  Para interpretar Antônio Galante, Hugo da Silva abriu mão de seu vasto bigode para dar lugar a um ralo bigodinho, típico dos galãs do cinema e da publicidade dos anos 40 e 50. Thales Brener Ventura alongou seus cachos para fazer com sua franja lisa o topete do vilão, Rodolfo Garcia. “Ópera de Sabão” é uma novela, ao vivo, feita para o teatro de rua. Seu enredo estará completo, de fato, quando encontrar com seu público.

 

Sinopse:

O cotidiano de uma iminente decadência da Rádio Drama, que está prestes a levar ao ar sua radionovela "Meu irmão é filho único", na última esperança de não perder o patrocínio dos produtos Chuá Chuá, é alterado pela chegada de uma atriz estreante em radionovelas. O elenco da atração radiofônica, formado pelos atores Antônio Galante, Ester Trindade e Juca Morato, sob a rigorosa direção de Plínio Blanco, recebe a caipira Dora Alice que, apesar de não possuir os atributos para alcançar o estrelato, consegue realizar o sonho de atuar numa radionovela ao comprar o papel de mocinha na produção. Orgulho, intriga, paixão, vingança, ganância, inveja, todas as grandes emoções do universo do melodrama em uma montagem cênico-musical do Grupo Maria Cutia.

 

Foto: Tati Motta 

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