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Com a exposição Sonata, Gui Mazzoni propõe uma compreensão do corpo humano para além do real

O médico e artista visual, autor de nova técnica fotográfica que utiliza aparelhos de ultrassom, assina mostra gratuita em cartaz entre 2 e 31 de outubro no Espaço Cultural Otto Cirne

Mais que expor recortes sobre a vida, a fotografia é capaz de criar novos mundos, de conceber uma realidade própria que sugere várias formas de compreensão. Esse é o ponto de partida do trabalho realizado pelo artista visual Gui Mazzoni, cuja exposição Sonata ocorre em Belo Horizonte, entre 2 e 31 de outubro, no Espaço Cultural Otto Cirne, na Associação Médica de Minas Gerais (Avenida João Pinheiro, 161, Centro). A entrada é franca e o horário de visitação é das 8 às 21 horas, de segunda à sexta, e de 8 horas ao meio-dia aos sábados.

Autor de experimentações que investigam possibilidades de observação via aparelhos de ultrassonografia, Mazzoni, que também é médico, abriu mão das câmeras convencionais para criar uma nova técnica fotográfica, a Sonofotografia. Um híbrido de arte e ciência, o método possibilitou a criação de imagens com cores e ritmos, abrindo um leque para perspectivas que vão além da análise das estruturas humanas em si.

Por meio da subversão do aparato clínico, e utilizando o próprio corpo, o artista visual quer chamar atenção para uma nova percepção da vida. Um fato interessante, segundo ele, é que a imagem gerada pelos aparelhos de ultrassonografia não são uma representação da “realidade” - assim como a “verdade” não é retratada pelas câmeras. “As imagens dos aparelhos de ultrassom não correspondem à anatomia idêntica dos órgãos, são imagens representativas. Isto porque a imagem se forma com o eco do som que retorna ao equipamento a partir das estruturas refletoras”, explica.

“A fotografia também nunca será real. Ela é um meio de tentar produzir imagens semelhantes à realidade”, ressalta Gui Mazzoni. Para ele, muitas vezes é possível aproximar-se dessa verdade, mas em tantas outras vezes as imagens se distanciam nitidamente da realidade. É exatamente essa a proposta da exposição Sonata. Composta por onze fotografias, a mostra pretende transportar o espectador para novos mundos e estimulá-lo a criar as suas extensões e fantasias sobre o corpo humano. “O imaginário nos conduz a inúmeros paradeiros. A Sonofotografia navega nesta onda de modo potencializado, pois inova no instrumento de produzir fotografia, agora com o aparelho de ultrassom, além de inovar no modo como este equipamento é manipulado”.

Sonata, como destaca o artista, sugere ainda uma reflexão acerca da utilidade ou não das coisas, do material, sobre a subversão de padrões, de objetos mundanos. “Transformar o que foi instituído é um saudável modo de evolução. Vivemos reproduzindo modelos, robotizando inúmeras ações. Aprender significa assimilar bases que nos permitem construir algo novo. Mas, infelizmente, vivemos em um mundo onde a sensação de sucesso é conseguir reproduzir com grande fidelidade modelos que alguém criou”, diz. “A Sonofotografia é uma forma de romper com certos limites da medicina, que exige padrões reprodutíveis para que tenha validade como ciência. Por outro lado, a arte foge dos padrões para ser reconhecida como tal. É uma forma de produzir antagonismos a partir do mesmo instrumento”.

Mais sobre Gui Mazzoni

 

Pesquisador e médico do campo da ultrassonografia há 26 anos, Gui Mazzoni sempre experimentou as possibilidades de observação do equipamento, que segundo ele são bem mais amplas que a análise clínica. “Nunca via as imagens meramente como um diagnóstico médico. Sempre apreciei a beleza estética que elas traziam. Sempre me permiti ir além, transformando as imagens técnicas, em matéria prima para o meu trabalho”.

Filho do fotógrafo, de nome homônimo Gui Mazzoni, ele conta que a profissão paterna sempre o influenciou. “Escolhi a ultrassonografia como especialidade médica que, na essência, é fotografia. Exige-se muita habilidade para ambos e as duas atividades também são muito humanas”. Outra forte inspiração veio do trabalho de artistas próximos e amigos como Agnaldo Pinho, Fábio Cançado, Cao Guimarães, Rivane Neuesschwander, Carlos Coelho, Roberto Vieira, Epaminondas Reis, Jimmy Leroy, Rodrigo Leste, entre outros. “Acredito que o interesse pela arte abstrata veio do convívio com esses artistas, assim como o interesse em tirar algo a mais de objetos super concretos. Levei isso às últimas consequências ao usar meu corpo de modo extremamente abstrato na Sonofotografia”.

Foto: Divulgação

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