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Madrigal Renascentista celebra 56 anos com lançamento de livro e CD

Profundamente ligado à cultura de Minas Gerais, coro que revelou Maria Lúcia Godoy grava repertório raro de música sacra brasileira Há mais de meio século, Belo Horizonte conta com um grupo dedicado a preservar e manter viva a tradição da boa música produzida no mundo. É o Madrigal Renascentista, coro criado em 1956, tombado como patrimônio cultural da cidade. Para celebrar seu 56º aniversário, o grupo prepara o lançamento de duas obras: o CD “Sacra Música Brasileira”, oitavo da carreira do grupo, um retrato dos últimos 200 anos de música sacra composta no país; e o livro “Madrigal Renascentista”, escrito pelo jornalista Manuel Hygino. No dia 26 de outubro, na Fundação de Educação Artística, o grupo faz uma sessão fechada em homenagem a personagens importantes da sua história, para o lançamento do livro e CD. Estarão na plateia antigos madrigalistas, familiares e demais parceiros. Entre as participações está o maestro Afrânio Lacerda, que regeu o Madrigal de 1971 a 1986. Ainda este ano, acontecerão apresentações gratuitas do grupo em Belo Horizonte, Ouro Preto e Barão de Cocais. Os projetos contam com o patrocínio da Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia (CBMM), via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Pioneirismo Em 1956, um grupo de jovens, muitos deles ainda estudantes, se reuniu para formar um conjunto vocal. O principal foco não era o canto lírico ou a ópera, mas a música concebida originariamente para coro a capella. A música, quase sempre romântica acompanhada pela orquestra, dava lugar ao belo cancioneiro composto exclusivamente para vozes. Nascia, assim, um pioneiro trabalho dedicado à pesquisa e à difusão de um repertório até então pouco conhecido na capital mineira. Liderados pelo jovem regente Isaac Karabtchevsky, que depois se tornaria referência no Brasil e no mundo, os cantores interpretavam canções concebidas no período da Renascença. Obras dos séculos 15, 16 e 17 ganhavam espaço e compositores como Claude Janécquin, Orlando di Lassus, Giovanni Perluigi da Palestrina e Cláudio Monteverdi, antes deixados de lado ou até mesmo ignorados, começavam a aparecer nos palcos. Segundo o maestro Marco Antônio Maia Drumond, regente titular desde 1986, o Madrigal Renascentista foi o primeiro no Brasil a estudar e executar a música produzida antes do século 18, interpretando significativas obras do Renascimento. Até então, os corais brasileiros praticamente só se dedicavam ao repertório romântico, com ênfase na ópera. Na década de 1970, o grupo foi novamente vanguarda ao divulgar de forma contundente a música brasileira composta na segunda da metade do século 20. “Ajudamos a difundir a música contemporânea nacional. Promovemos dois concursos de arranjos e composições para coro a capella, do qual participaram os maiores nomes da composição de vanguarda do Brasil, e levamos essas canções para duas turnês pela Europa na década de 70”, destaca. CD “Sacra Música Brasileira” Oitavo disco da história do Madrigal Renascentista, “Sacra Música Brasileira” apresenta um retrato dos últimos 200 anos de composições nacionais, desde o período colonial à atualidade. Na opinião do maestro Marco Antonio, a discografia nacional de canções sacras ainda possui importantes lacunas a serem preenchidas. “Por isso, em função da riqueza do repertório, acredito que a importância do disco no contexto nacional é bem grande”, analisa. O CD contempla três pequenas obras de Manoel Dias de Oliveira (Tiradentes, 1735-1813): Domine Jesu, Bajulans e as Quatras para Procissão de Nossa Senhora das Dores; de José Maurício Nunes Garcia (1767-1830, Rio de Janeiro, RJ), o Madrigal interpreta o Kyrie, da Missa de Réquiem (adaptação a capella de H. Villa Lobos), Gradual para Domingo de Ramos, Felle Potus e Judas Mercator Pessimus; do menos conhecido Presciliano Silva (1854-1910, São João Del Rei, MG), Crux Fidelis; Heitor Villa Lobos (1887-1959, Rio de Janeiro, RJ) está presente com uma Ave Maria e um Pater Noster; e, representando a produção mais contemporânea, o Madrigal traz de Lindembergue Cardodo (1939-1989, Livramento de Nossa Senhora, BA) a Missa Nordestina e de Ernani Aguiar (1950 - , Petrópolis-RJ) o Salmo 150. Livro “Madrigal Renascentista” Escrito pelo jornalista Manoel Hygino, o livro é um registro histórico da carreira do Madrigal Renascentista – o começo, os primeiros concertos, as turnês nacionais e internacionais. Histórias curiosas estão presentes na obra, como os bastidores da apresentação do grupo na inauguração de Brasília, a convite do presidente Juscelino Kubstischek, e a turnê pela Europa, em 1977. Acreditando ser um evento do governo brasileiro, ativistas políticos invadiram o teatro, na Bélgica, durante o concerto, para manifestar contra o regime militar. O concerto foi interrompido e demorou um bom tempo até que todos pudessem se entender. Foram momentos de constrangimento, de ansiedade e mesmo de medo, mas as vozes do Madrigal venceram os ânimos exacerbados e divulgaram a boa música brasileira. Um coro de apaixonados O Madrigal Renascentista é mais uma prova de como a paixão de um grupo de pessoas consegue manter viva a memória da música sacra. Atualmente, 27 madrigalistas fazem parte do coro, a maioria chegou ao grupo sem qualquer treinamento profissional anterior. Entre eles, estão cantores profissionais, mas também donas de casa, professores, jornalistas e operários. Ensaiam semanalmente em uma sala do 9o andar do Edifício Maleta, sem qualquer remuneração. Tudo pelo prazer de cantar. Foram muitas as personalidades que mais tarde brilhariam no cenário mineiro, brasileiro e internacional. A começar pelo Maestro Isaac Karabtchevsky, que hoje é mundialmente reconhecido, e foi regente do Madrigal Renascentista entre 1956 e 1970. A cantora Maria Lúcia Godoy integrou o grupo nas décadas de 50 e 60, chegou a fazer solo com o inglês Leopold Stokowsky. Já Afrânio Lacerda tornou-se referência nacional ao abrir as portas do Madrigal à Música Contemporânea Brasileira, assim como Carlos Alberto Pinto Fonseca, consagrado regente, que por décadas dirigiu o Coral Ars Nova, da UFMG. Vários cantores que passaram pelo Madrigal Renascentista ingressaram no meio artístico como profissionais da música. É o caso Amin Abdo Feres, Edival Trindade, Norma Graça Silvestre, as irmãs Maria Amélia e Maria Amália Martins, Edla Lobão Lacerda, Expedito Vianna, Roberto de Castro, Rogério Moreira Campos e Afonso Gonçalves. Outros também se dedicaram ao exercício da profissão, como Míriam Borges, os irmãos Ednéia, Edson e Edna de Oliveira e Sérgio Lúcio Alves. Integraram também o corpo coral os pianistas Cesar Buscacio, Sandra Almeida, Cristina Guimarães e Regina Stela Campos Amaral, além do escritor Afonso Romano de Santana e da atriz Andrea Garavello.

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