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Professor da UFMG lança livro Canção de amor para João Gilberto Noll

No livro, Luis Alberto Brandão depõe, em tom poético, sobre a sua convivência profissional e afetiva com o escritor gaúcho

O escritor e professor Luis Alberto Brandão, da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, lança o livro Canção de amor para João Gilberto Noll, neste sábado, dia 9 de novembro, das 11h às 15h, no Jockey Café (R. dos Inconfidentes, 871, Savassi, Belo Horizonte), pela Relicário Edições.

Em um trecho do livro, o autor diz: “Preciso dizer uma coisa, João. Uma espécie de segredo. Algo que está guardado em mim há muitos anos. Como sei o quanto você ama a música, sempre desejei cantar uma canção para você. Assim, de surpresa, na rua, talvez em uma ladeira de Ouro Preto, eu simplesmente pararia a seu lado, no meio de uma conversa que fosse, ou no miolo de uma pausa, e começaria a cantar, olhando para você. Sim, cantar para você. (...) Cheguei a ensaiar sozinho a canção, várias e várias vezes, mas, sempre que a gente se encontrava, o pudor falava mais alto, a coragem não vinha, e eu acabava não cantando. Os anos se passaram, João, e a canção que eu preparei ficou em silêncio. A canção para você ficou guardada dentro de mim”.

Trata-se de um livro que desafia definições. Situando seu discurso na interseção entre a crítica e a prática literária, Luis Alberto Brandão mistura a si mesmo à obra literária e ao autor que tem sob atenção, valendo-se desse recurso para depor, em tom poético, sobre a sua convivência profissional e afetiva com Noll, recentemente falecido. Nesse sentido, a obra se configura como espécie de “declaração de amor à literatura e à arte, à liberdade de pensamento e de experimentação, ao amor em suas múltiplas formas”, como sustenta o texto de divulgação.

Em uma espécie de interlúdio metalinguístico, Luis Alberto Brandão explica a sua empreitada dentro do próprio livro: “A obra de João Gilberto Noll sempre esteve presente em minha vida: vida de leitor, de pesquisador, de amante da literatura. Por uma série de circunstâncias, essa presença – intensa, estimulante – tornou possível, desde 1999, vários encontros com o autor. O presente livro é, em larga medida, um registro desses muitos encontros – ou desse encontro único, singular, e seus diversos desdobramentos”, escreve o autor, que fez uma série de récitas públicas sobre o tema do livro, precedendo sua publicação.

“Não se trata, porém, de um registro meramente factual, da recuperação dos pontos de tangência entre duas trajetórias: trata-se de registrar algo mais amplo, um projeto que, inspirado no caráter pulsional e desconcertante da obra-e-figura-Noll, busca incorporar, em sua concepção e em sua execução, pelo menos uma parcela da radicalidade e da força transgressora que tal caráter concentra”, afirma.

Trata-se, em suma, de um livro sobre encontros: os vários encontros físicos que os escritores tiveram, em razão dos eventos literários de que participaram conjuntamente; os encontros virtuais que, a partir de então, mantiveram, por meio de uma correspondência mútua – alguns e-mails trocados entre os escritores estão reproduzidos na última parte do livro –; e os encontros literários que resultaram dessa aproximação: João Gilberto Noll escreveu o prefácio de Chuva de letras (2008), de Luis Alberto Brandão, e Brandão assinou a apresentação da segunda edição de Mínimos, múltiplos, comuns (2015), de Noll.

Constelação
O livro conta ainda com a participação especial de 25 escritores, editores, artistas e pesquisadores brasileiros – como Ana Martins Marques, Francisco de Morais Mendes, Ricardo Aleixo, Sérgio Sant’Anna e Tarso de Melo –, constelação que incrementa a obra com depoimentos, fotos, contos, poemas, desenhos. A obra também inclui duas longas e inéditas entrevistas de João Gilberto Noll, feitas pelo escritor Pedro Maciel, em 1999, e pelo professor Ricardo Barberena, em meados desta década.

Em artigo, a escritora Zulmira Ribeiro Tavares resume o projeto do próprio livro ao destacar que Luis Alberto Brandão imprime, “ao distanciamento usual à apreciação crítica de uma obra, certa inflexão, diria mesmo, inversão, ou seja, descobrindo-a e avaliando-a ao tomá-la em parte como sua”. Segundo Zulmira, “de tal circunstância resulta um ensaio exuberante e pouco usual, de formação intrincada”; “figurações que realizam, em um fluxo sem pausa, sem reservas, a diversidade de que se alimenta”.

Sobre o autor
Antes de Canção de amor para João Gilberto Noll, Luis Alberto Brandão publicou Manhã do Brasil (2010), livro finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, Chuva de letras (2008), vencedor do Prêmio Nacional de Literatura João-de-Barro e finalista do Prêmio Jabuti, Tablados: livro de livros (2004) e Saber de pedra: o livro das estátuas (1999), livro vencedor da Bolsa Vitae de Artes.

Como teórico da literatura, publicou Teorias do espaço literário (2013), livro finalista do Prêmio Jabuti, Grafias da identidade: literatura contemporânea e imaginário nacional (2005), finalista do Prêmio Jabuti, Rituais do discurso crítico (2005) e Um olho de vidro: a narrativa de Sérgio Sant’Anna (2000), vencedor do Prêmio Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte.

O professor da Faculdade de Letras foi, ainda, coautor de Sujeito, tempo e espaço ficcionais (2001) e um dos organizadores da RL – Revista Literária da UFMG – 50 anos (2016), publicação comemorativa do cinquentenário de fundação da Revista Literária da UFMG.

O homenageado
João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre, em 1946, e faleceu na mesma cidade em 2017. Publicou 13 livros. Recebeu inúmeros prêmios, incluindo o Jabuti em cinco ocasiões (1981, 1994, 1997, 2004 e 2005). O romance Harmada foi classificado pela Revista Bravo como um dos 100 livros essenciais brasileiros em qualquer gênero e em todas as épocas.

Foto:Divulgação

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