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“Evolução em todos os sentidos”: Chama o Síndico promove oficinas de formação para o Carnaval do bloco em 2017

Intitulado Sindicato, projeto vai oferecer aulas de percussão, metais, canto, dança e cenografia para formação do bloco no ano que vem.

“Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval”. A frase de Oswald de Andrade, eternizada em seu “Manifesto Antropófago”, sintetiza bem o reflorescimento da folia de rua em Belo Horizonte. Um dos blocos mais marcantes dessa linha de frente é o Chama o Síndico, que completa cinco anos de vida em 2017. Com releituras inventivas das obras de Tim Maia e Jorge Ben, o bloco arrastou mais de 60 mil pessoas na avenida Afonso Pena em sua última edição. Atento aos novos desafios do Carnaval de BH, o Chama o Síndico prepara uma guinada de conceito e formação do bloco para o próximo ano, a fim de viabilizar o desfile, melhorar a qualidade musical e a evolução do bloco na rua.


Neste caminho (do bem!), o bloco inaugura o projeto Sindicato – Oficinas de Formação para o Bloco Chama o Síndico 2017, que vai oferecer aulas de percussão, metais, canto, dança e cenografia. As oficinas acontecem entre 21 de novembro e 18 de dezembro de 2016, e de 16 de janeiro a 19 de fevereiro de 2017,inteirando dois meses de aprendizado, em seis diferentes espaços culturais da cidade: Mercado das Borboletas, Galpão Paraíso, Alfaiataria, Casinha, A Casa e Necup. Serão oferecidas 120 vagas para percussão (quatro turmas de 30 alunos) e 30 vagas para cada uma das outras oficinas (metais, canto, dança e cenografia). O investimento mensal é de R$ 100 e as inscrições podem ser feitas até 17 de novembro, pela fanpage do bloco no Facebook (fb.com/chamaosindico).

“Queremos retomar a proposta da pesquisa. Justamente por Tim Maia e Jorge Ben serem tão conhecidos é muito legal que as pessoas conheçam outras músicas deles. Outro foco é na criação musical, na ideia de trazer tantos ritmos brasileiros diferentes, com arranjos legais. O objetivo disso tudo é um bloco bem feito e gostoso de tocar e de ouvir”, explica Nara Torres, regente e cofundadora do Chama o Síndico. “O processo das aulas, dos encontros, vai ser ainda mais maravilhoso, com mais foco, cada um fazendo seu estudo. Mas o principal fator não é a exigência musical. O Carnaval é também um lugar de caos, de alegria, de encontro, embora a música precise estar agradável. A questão central é a viabilidade e evolução do bloco”, pontua.


Nara lembra que a bateria é o centro de várias decisões, como a sonorização, uma vez que são muitos batuqueiros tocando junto com a harmonia, com a guitarra, o baixo e os metais. “O Sindicato é um projeto-piloto. Agora, vai durar dois meses, mas a ideia é oferecer oficinas durante o ano todo. O dinheiro será usado para remunerar os espaços e professores, e investir na cenografia e demais gastos inerentes ao bloco", afirma, lembrando que a proposta vai de encontro a iniciativas de outros grandes blocos, como Então Brilha e Pena de Pavão de Krishna, que vêm repensando suas formas de atuação nos últimos anos. “Essa decisão de promover oficinas como pré-requisito para tocar no bloco já vem sendo estudada há pelo menos dois anos. Não se trata de uma ação excludente, muito pelo contrário. O que a gente quer é garantir qualidade musical, valorizar a bateria e os demais músicos que tocam com a gente. E, o mais importante: botar o bloco na rua. Vimos, no ano passado, que para isso ser possível seriam necessárias algumas mudanças”, defende.


Assim, somente nas oficinas, que servirão como pré-requisito para participar do bloco, os alunos serão informados sobre os ensaios. “É nesse espaço que a gente vai construir o bloco. E temos muito trabalho pela frente, já que serão aproximadamente 40 músicas no repertório do próximo desfile”, lembra Nara, ressaltando que a grande novidade de 2017 serão as alas de coro e dança, e a cenografia, cujas oficinas ficam por conta, respectivamente, dos cantores Zé Mauro Lima e Gustavo Negreiros, dos irmãos dançarinos Everton Black e Dudu Jamaica, e das arquitetas Ana Carolina Resende e Lígia Antunes. A oficina de percussão será coordenada por Nara Torres, PG Rocha e Bruno Lima e a de metais, por Juventino Dias, Alaécio Martins e Tiago Ramos - todos integrantes da banda do bloco.


História
Nara conta que o Chama o Síndico surgiu em meio ao reflorescimento do Carnaval de rua de BH, da necessidade de criar blocos que explorassem diferentes propostas musicais, dentro da proposta coletiva de ocupação do espaço público. “Após o brotinho de 2009, o brotamento de 2010 e a explosão de 2011, em 2012 o que pairava no ar era a ideia de criar novos blocos”, relembra a percussionista, que já tinha passado pelos grupos Trovão das Minas e DJUN, e integrava o Frito na Hora, o Bloco da Alcova Libertina e o Iconili. “Eu estava totalmente focada na música e já tocava na Alcova, que talvez tenha sido o primeiro bloco de BH a trabalhar em cima de um recorte musical pop. Eu curtia muito essa onda, mas queria fazer uma coisa mais brasileira. Tinha acabado de ler a biografia do Tim Maia e descobri que ele e o Ben tinham o mesmo apelido, Babulinas, e pensei: ‘Quero fazer um bloco de Tim Maia e Jorge Ben’”, conta. 


Numa festa no Queijo Elétrico, Nara se encontrou com o produtor Matheus Rocha e contou ao amigo sua ideia. “Ele disse: ‘Que doido, ano passado pensei numa ideia parecida, um bloco de Tim Maia com o nome de Chama o Síndico’”, afirma. “Juntamos as duas ideias e começamos a produzir no dia seguinte, chamando amigos músicos. O bloco foi lindo e, no mesmo ano, recebemos um convite para tocar num show e a banda não existia, mas formamos uma e tocamos. Desde então, são 13 pessoas que formam esse sindicato, onde a gente resolve tudo coletivamente”, sublinha, ressaltando que o trabalho da banda e do bloco se complementam. “É do trabalho da banda, durante o ano, que saem os arranjos que são levados para o bloco. Mas têm também as músicas que tocamos no bloco mas não estão no repertório da banda, que é mais enxuto. A verdade é que, com a quantidade de discos e de música boa que esses dois fizeram, dá para ficar o resto da vida criando arranjos e descobrindo novidades”, finaliza.

Foto: Bel Diniz

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