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Lançamentos da Editora UFMG abordam sociologia da educação, segregação do jovem negro e vida infantil na pandemia

Saiba mais sobre as obras

A experiência de crianças na pandemia, a traumática segregação vivida pela juventude negra do país e a contribuição dos autores clássicos para o campo da sociologia da educação são os temas de três livros da Editora UFMG que foram lançados no dia 26 de novembro. Saiba mais sobre as obras:

Por uma gestão mais humana da nossa juventude

Organizado pela professora Andréa Máris Campos Guerra, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, e pelos pesquisadores Ana Carolina Dias Silva e Rodrigo Goes e Lima, o livro Juventudes, trauma e segregação trata do trauma e da segregação como fatores centrais no condicionamento que conduz os jovens ao crime ou à ruptura com ele. A ideia de trauma, no livro, é tomada “no sentido lacaniano de uma vivência impossível de simbolizar, que retorna como elemento real, fora do alcance da linguagem, e que afeta o sujeito”, como explica Nádia Laguárdia de Lima, professora do Departamento de Psicologia da Fafich, no prefácio da obra. A ideia de segregação, por sua vez, retoma as formas de agenciamentos coletivos, “que operam pelo antagonismo binário”, processo em que a experiência de invisibilidade social de certos grupos vai se estabelecendo na forma de uma rivalidade, gerando relações de violência cada vez mais extrema.

O livro é resultado de investigação sobre juventude e criminalidade realizada por um grupo de pesquisadores da UFMG em cooperação com a Universidade de Antioquia, da Colômbia, e com a Universidade de Rennes II, da França, no âmbito da Rede Franco-latino-americana de Psicanálise e Criminologia. A importância e premência da reflexão contida na obra pode ser constatada por um dado retomado por Nádia Laguárdia em seu prefácio: “O Brasil está entre os dez países que mais matam jovens no mundo. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil entre 2005 e 2015. Os homicídios são hoje a principal causa de morte entre jovens no país e atingem especialmente pobres e negros, do sexo masculino, moradores das periferias de áreas metropolitanas dos grandes centros urbanos.”

Usado como epígrafe no livro ora publicado pela Editora UFMG, um trecho de Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes, sintetiza com precisão a importância dessa reflexão feita sobre o trauma e a segregação como dois dos pontos de convergência do problema. Diz o trecho: “Certa vez, li, não sei onde, que se condenava o rio por ser caudaloso e devastador em sua corrente, mas nada se dizia das margens que o limitavam e comprimiam, tornando-o tão violento. Era o caso ali. Queriam proteger a sociedade de nós, mas talvez a solução fosse nos proteger da proteção social. Daí é para se perguntar se éramos animais, como queriam, ou se éramos animalizados, como nos faziam. Marginais e criminosos ou ‘marginalizados’ e ‘criminalizados’? O resultado se observaria no estrago, na devastação que retribuiríamos, no futuro, à sociedade.”

A contribuição dos clássicos

Publicado pelos professores da Faculdade de Educação da UFMG João Valdir Alves de Souza e Inês Assunção de Castro Teixeira, o livro Educação e modernidade: contribuições dos clássicos para a Sociologia da Educação disseca as contribuições que os clássicos do pensamento social (particularmente, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim) legaram para a compreensão do complexo mundo moderno, em particular naquilo que constitui o campo de conhecimento da Sociologia da Educação. No trecho abaixo, o próprio livro explica a que veio:

A Sociologia da Educação é o ramo da Sociologia que trata especificamente da análise dos modos pelos quais as sociedades formam as novas gerações. Nas sociedades sem escolas, formar as novas gerações é uma tarefa para os adultos e idosos, os guardiões da cultura local. Nas sociedades modernas, nas quais a escola adquiriu grande centralidade como instituição educadora, essa é uma tarefa cada vez mais transferida para os especialistas do ensino.

Nessas sociedades, não só a educação passou a se confundir com os processos de escolarização como a complexidade desses processos passou a exigir uma ciência social que lhes desse explicação. Como a Sociologia é uma ciência das sociedades modernas, e a educação passou a ser reivindicada cada vez mais – e, de certo modo, garantida, pelo menos nas economias centrais – como direito do cidadão e dever do Estado, a Sociologia da Educação, desde a sua origem, trouxe a marca de uma Sociologia dos sistemas de ensino ou uma Sociologia da escola. A Sociologia e, particularmente, a Sociologia da Educação são, ao mesmo tempo, produto do mundo moderno e uma de suas promessas de esclarecimento.

Uma das primeiras e principais tarefas da Sociologia da Educação é, portanto, distinguir a educação como prática social e as ciências da educação – entre elas, a própria Sociologia da Educação – como campos de conhecimento que produzem explicações sobre o modo como essa prática é realizada. Olhando para a realidade, seja pela perspectiva da totalidade dialética, da produção de sentido ou da causação funcional, em todas elas veremos que essa realidade é multidimensional e interligada por múltiplas determinações. [...]

O efeito da pandemia sobre as crianças

Organizado por Isabel de Oliveira e Silva, Iza Rodrigues da Luz, Levindo Diniz Carvalho e Maria Cristina Soares de Gouvêa, professores da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, o livro Infância e pandemia: escuta da experiência das crianças pode ser baixado gratuitamente no site da Editora UFMG. Os artigos nele reunidos contêm reflexões sobre, entre outros temas, os modos de escuta das crianças em tempos de crise, a experiência escolar no contexto do isolamento social, a experiência doméstica (tarefas, brincadeiras, relações sociais familiares) durante o isolamento e as emoções e os sentimentos das crianças nesse período, entre outros temas.

“Embora, em termos demográficos, as crianças sejam o grupo geracional diretamente menos atingido pelos efeitos diretos do vírus, constitui um dos mais afetados pelas medidas de distanciamento social. Tais medidas impactaram radicalmente o cotidiano infantil, deslocando as referências de mundo, os tempos e espaços do cotidiano, as relações socioafetivas”, contextualiza Maria Cristina na introdução do volume. “E, ainda que tais efeitos tenham sido globais, as condições sociais de vivência da pandemia incidiram distinta e desigualmente sobre meninos e meninas, crianças negras, brancas, asiáticas e indígenas, crianças de países do chamado Hemisfério Norte e do Sul global, de famílias pobres e ricas, reforçando as exclusões presentes”, completa, delineando a importância dos estudos contidos na obra.

Segundo ela, se muitos dos efeitos desse isolamento, em curto e médio prazo, sobre as crianças já são evidentes, o grau de desigualdade nas condições sociais e a imprevisibilidade da evolução da doença indicam que estamos longe de dimensionar as consequências da pandemia para o futuro das novas gerações. Para tentar avançar nesse dimensionamento, o livro traz uma série de análises ancoradas nas próprias narrativas das crianças, que foram coletadas por meio de questionários, entrevistas e desenhos. Na análise dessas narrativas das crianças, segundo informa um trecho da sinopse, “destaca-se a potência da sua capacidade reflexiva e de compreensão crítica da realidade, fundada numa ética comprometida com o coletivo. Ao mesmo tempo, observa-se como, diante da ausência de políticas públicas de proteção e cuidado, as desigualdades sociais, raciais e de gênero informam condições distintas e desiguais de vivência da pandemia.”

Livro: Juventudes, trauma e segregação
Organizadores: Andréa Máris Campos Guerra, Ana Carolina Dias Silva e Rodrigo Goes e Lima
228 páginas / R$ 52

Livro: Infância e pandemia: escuta da experiência das crianças
Organizadores: Isabel de Oliveira e Silva, Iza Rodrigues da Luz, Levindo Diniz Carvalho e Maria Cristina Soares de Gouvêa
185 páginas / Gratuito

Livro: Educação e modernidade: contribuições dos clássicos para a Sociologia da Educação
Organizadores: João Valdir Alves de Souza e Inês Assunção de Castro Teixeira
171 páginas / R$ 59

Foto: Divulgação

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