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BATE-PAPO DIÁLOGOS COM NOVOS PESQUISADORES: TRÂNSITOS ATLÂNTICOS

O Memorial Vale realiza nesta quinta-feira, dia 5 de dezembro, às 19 horas, o evento Diálogos com Novos Pesquisadores: Trânsitos Atlânticos, em que a pesquisadora Thais Tanure convida os professores Alexandre Marcussi (UFMG) e Rogéria Alves (UEMG) para um bate papo acerca de temas relativos à exposição Vozes Atlânticas: “O Degredo dos Escravizados”. Esse estudo revela como a inquisição portuguesa no Brasil no século XVIII dava pena de degredo para os súditos que praticavam atos considerados, na época, heresia ou feitiçaria. O destaque é dado para dois personagens africanos escravizados e trazidos para o Brasil – Luzia Pinta e José Francisco – que, por preservarem práticas de sua cultura – benzeções, curas com ervas, entre outras tradições – foram degredados para regiões distantes do Brasil e de sua pátria original. Entrada gratuita. Sujeito a lotação. Retirada de senhas uma hora antes do evento.

Os dois professores convidados também têm trabalhado nessa linha de pesquisa e contribuirão com mais conhecimentos sobre o tema de estudo de Thaís Tanure. Thaís seguiu os passos de Luzia Pinta e José Francisco em Angola, Uidá, Rio de Janeiro, Sabará, Lisboa, Castro Marim e galés e sua investigação mostra que, mesmo perseguidos pela Inquisição e passando por sucessivos processos de desenraizamento, essas pessoas resistiram e lutaram para viver segundo suas culturas, buscando espaços para decidir sobre seus destinos.

O degredo foi uma pena longeva em Portugal e seus espaços coloniais, e consistia em afastar o condenado de seu local de residência enviando-o para uma região distante ou colonial. “Discutimos em que bases filosóficas se assenta a pena de degredo e seus ecos na contemporaneidade”, explica Thaís.

As principais fontes trabalhadas são os processos da Inquisição portuguesa. Denunciados ao Santo Ofício por delitos como feitiçaria, curas supersticiosas, sodomia e bigamia, as acusações continham muitas vezes traços culturais africanos desconhecidos aos olhos dos inquisidores. “Buscando decompor o discurso da Inquisição e perseguindo esses traços culturais - na esteira de Carlo Ginzburg - discutiremos o processo inquisitorial como fonte histórica e suas possibilidades de utilização para o estudo das culturas africanas e do degredo de escravizados”, acrescenta.

Visto como mercadoria no direito civil e comercial e como pessoa imputável no direito penal, o estatuto jurídico ambíguo do escravizado também é analisado. Essa ambiguidade leva ao fato de que os senhores ficavam sem a mão de obra de seus cativos durante o tempo de cumprimento da pena, e alguns deles protestaram escrevendo cartas ao Santo Ofício.

“Tendo como metodologia a História Atlântica, observamos os escravizados que moravam no Brasil e que foram perseguidos pela Inquisição e degredados passarem por uma nova travessia e por um novo processo de desenraizamento. Mas não sem resistir”, completa a pesquisadora.

Foto:Divulgação

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