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Seleção de curtas na Mostra de Tiradentes aposta na alegoria e na força das comunidades

Em 78 títulos de 14 estados, filmes vão do documentário ao experimento ensaístico, com várias narrativas que respondem às aflições contemporâneas brasileiras

Na programação da 23a Mostra de Cinema de Tiradentes, a ser realizada na cidade histórica mineira entre 24 de janeiro e 1o de fevereiro de 2020, serão exibidos 78 curtas-metragens, vindos de 14 estados e espalhados por 9 seções gratuitas. Os filmes da edição 2020 vêm de Alagoas (3), São Paulo (18), Minas Gerais (15), Pernambuco (8), Rio de Janeiro (10), Rio Grande do Norte (2), Paraná (7), Santa Catarina (1), Rio Grande do Sul (3), Goiás (4), Paraíba (2), Tocantins (2), Espírito Santo (2) e Sergipe (1). Eles serão apresentados dentro das mostras Foco, Panorama, Foco Minas, A Imaginação como Potência, Formação, Jovem, Mostrinha e Praça.

A curadoria de curtas-metragens foi feita pelo pesquisador e professor Pedro Maciel Guimarães, pela crítica Camila Vieira e pela professora Tatiana Carvalho Costa. Ao longo do processo de seleção, algumas linhas estéticas acabaram se desenhando diante dos filmes. Uma delas é a invenção de narrativas alegóricas para tratar do presente e, ao mesmo tempo, dimensionar traumas históricos do país – o que pode ser visto em títulos como “Inabitáveis” (Anderson Bardot), “O Verbo se Fez Carne” (Ziel Karapotó), “A Mulher que Eu Era” (Karen Suzane) e “Relatos Tecnopobres” (João Batista Silva).

Para Camila Vieira, uma das curadoras, outra característica dos filmes este ano é “a reconfiguração do realismo a partir de uma abertura para explorar elementos do artifício que inventam formas de fabulação, como em ‘A Felicidade Delas’ (Carol Rodrigues) e ‘A Viagem do seu Arlindo’ (Sheila Altoé)”, destaca ela. “De um modo geral, as linhas estéticas nestes filmes propõem modos de fazer cinema numa conexão mais próxima com a temática da Mostra, ‘A imaginação como potência’, e isso está espalhado pela grade de programação, e não apenas nas sessões temáticas”, completa Camila.

Outro curador, Pedro Maciel Guimarães, detecta que, para 2020, os curtas ainda reverberam a apatia e o choque com a situação política e cultural do Brasil que se mostrou forte na seleção de 2019, mas agora há mais reação e proposição. “A estética queer distópica aparece bastante nessa edição, com narrativas construídas a partir de futuros indeterminados em que o mundo passa por algum tipo de reorganização completa, com propostas soluções, como a criação de pequenas irmandades que respondem às opressões”, diz Pedro. “Ao mesmo tempo em que os realizadores se dão conta do caos e da desesperança que vêm se abatendo no país, eles propõem rearranjos pessoais e microssociais”.

Sobre a Mostra Foco – que reúne curtas a serem avaliados pelo Júri da Crítica –, Pedro Maciel aponta a presença grande de títulos híbridos, que flertam com o documentário e o filme-ensaio, e alguns de narrativas mais alegóricas tratando de questões urgentes. É o caso de “Perifericu”, do coletivo paulista formado por Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita Pereira e que reflete sobre os deslocamentos de moradores da periferia para o centro nas grandes cidades brasileiras. “São olhares bastante críticos para alguns comportamentos sociais nestes primeiros anos do século”, diz.

A curadora Camila Vieira reforça que “no conjunto dos 10 curtas da Foco, há desde filmes curtas realizados por diretores veteranos, como Sérgio Silva e João Marcos de Almeida (‘Estamos Todos na Sarjeta, mas Alguns de Nós Olham as Estrelas’) ou a Renata Pinheiro (‘Mansão do Amor’), até filmes feitos por jovens realizadores, como o ‘Perifericu’”.

 Foto:Divulgação

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